Capítulo 3 - parte 1 (rascunho)

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"Aqui é onde acaba a terra e começa o mar."

Luís de Camões.

– Nove, oito...

Era impressionante o que ela podia pensar e lembrar em um intervalo tão curto quanto um segundo. Sim, a cartomante acertara de novo. Paulo Assunção era tudo o que ela disse, em especial quando a Luísa decidiu aceitar o que sentia. O seu Paulo era o mais doce e maravilhoso dos homens...

As lembranças retornaram para o início, mas algum tempo depois.

― ☼ ―

Estavam há quase seis meses no ITA quando Paulo entrou com Faria na sala da major sem nem mesmo se anunciarem. Luísa levantou os olhos da tela do computador e sorriu para ambos.

– Major – disse Antônio, eufórico. – Gostaríamos que viesse participar de uma experiência.

– Mas bah – Luísa levantou-se e riu. – Pelo jeito temos novidades e das boas. Vamos lá.

Ela acompanhou-os, entretanto notou que, em vez de irem para o prédio onde faziam as experiências normais e trabalhavam, os dois levaram a major para um lugar que parecia um pequeno hangar e servia para testes de turbinas do instituto. O local estava guardado por soldados de elite.

– Não podemos demorar que o pessoal tá furioso porque não podem entrar – disse Paulo. – Vamos.

Dentro, era um laboratório enorme. Bem no centro, presa a uma estrutura muito robusta e chumbada ao solo, ficava uma turbina de jato, mas aquela era bem diferente, chegando a parecer um brinquedo. Devia ter um quinto do tamanho de uma turbina de avião, inclusive na saída dos gases.

– Tão pequena! – comentou, espantada.

– E muito mais potente que o mais potente jato criado pela humanidade – disse Paulo que a beijou rápido, aproveitando que ambos ficaram para trás. Baixinho, disse. – Amo você.

Luísa sorriu, mostrando um rosto de menina sapeca, o que ele mais amava. Era o rosto da Luísa II, como costumava dizer. Com o tempo, ele acabou catalogando todas as facetas da namorada, às vezes chamando-a pelo número correspondente e fazendo-a rir de uma forma que ela sempre ficava igual à número dois, a que mais amava.

O grupo foi para a parte protegida, onde ficavam os resultados dos sensores. A um sinal do major, a turbina foi ligada. O barulho dela era mais agudo. Uma língua de fogo surgiu na traseira e os números começaram a saltar nas telas.

– Empuxo de quatrocentas toneladas a cinco por cento – disse o técnico. – Senhor, esta estrutura do laboratório não será capaz de aguentar mais de dez por cento.

– Então aumente em incrementos de ponto zero cinco.

– Em cinco por cento, já tem mais potência que muito jato comercial de pequeno e médio porte! – comentou Polanski, impressionada.

– Sim – anuiu Antônio. – O nosso maior desafio foi fazer uma turbina que não derretesse com o calor, mas conseguimos.

– Você conseguiu – corrigiu Paulo. – Major, este homem é um verdadeiro gênio em física de materiais.

– Sério? – Luíza riu. – O que tu fizeste, Faria?

– Criei uma liga mais leve e robusta. Depois, foi bombardeada com nano-componentes que alteram a sua estrutura. Baseei-me no estudo da descoberta do major Assunção. Com a fricção ou aumento de temperatura, um campo elétrico vai-se formando criando um revestimento que se assemelha a um campo de força. Nesse momento, o material deixa de ficar exposto a condições extremas e ainda serve para direcionar e concentrar os feixes de energia do combustível em expansão, ampliando em muito a sua potência. São as maravilhas da Teoria Quântica dos Campos Relativísticos aliada à nanotecnologia e ao grafeno. Com este propulsor, os modelos XZ-56 passarão a ser considerados tartarugas.

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