Capítulo 2 - parte 8 (rascunho)

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Na sexta-feira, Paulo encontrou-se com Luísa no gabinete dela. Não se tinham visto muitas vezes, exceto durante as manhãs quando todos se exercitavam, mas a superiora não lhe saía mais da cabeça. Ele entrou e parou em frente à mesa dela.

– Aqui estou – afirmou, respondendo ao chamado.

– Sente-se, Major. – Luísa apontou a poltrona. – Suponho que as dores musculares já passaram.

Paulo olhou para ela, boquiaberto, tentando entender como raio a garota poderia descobrir isso se ele foi, desde o início, muito discreto. A verdade, contudo, era que ela tinha toda a razão, o que o deixava ainda mais estupefacto.

– Como sabia que tive dores? – perguntou, sem conter a curiosidade.

– Isso é mais que natural quando se está ocioso há algum tempo. Mas, de vez em quando, tu fazias uma careta discreta durante os exercícios e desde ontem que pararam.

– Bem – disse ele, encolhendo os ombros –, é isso mesmo e as dores pararam. Sem falar que me sinto muito melhor, fisicamente falando. Eu nunca devia ter parado de me exercitar.

– E no mais, como te sentes?

– Para ser bem sincero – respondeu –, sinto-me estranho demais.

– Posso saber o porquê disso? – perguntou, muito curiosa.

– Julguei que isso fosse óbvio, Major, já que a senhorita é tão perspicaz – ripostou, contrariado. – Mas se deseja que eu diga, é por sua causa.

– Minha causa!? – Luísa sorriu, espantada.

– Desde que a senhora chegou, toda a minha rotina ficou do avesso, Major, todinha – afirmou, encolhendo os ombros. Seu olhar parecia perdido e ela notou.

– Isso, às vezes, pode ser muito positivo, meu caro – respondeu, encorajadora. – Novas rotinas, novas experiências, outras formas de ver as coisas.

– A senhora é a psicóloga...

– Bem, não tenho a menor intenção de ser a sua psicóloga, Major, mas posso lhe dar uma dica – disse, interrompendo-o. – O senhor tem um dos maiores potenciais que já vi, só que desperdiça grande parte da sua energia atacando problemas secundários. Por exemplo, quando tiver ciúmes de algo, não ataque o que lhe provoca o ciúme e sim o motivo de não estar no lugar do que ou quem lhe provocou isso. Enfrente as coisas corretas. Além do mais, olhe melhor para o que está à sua volta e observe. Mais, não direi.

– Por quê? – perguntou, confuso.

– Não desejo ser a sua médica, Major – respondeu Luísa, muito séria –, nem me parece que precise tanto assim de uma. Se abrir os olhos, descobrirá o motivo.

– Pensarei no assunto – comentou, evasivo; mas o fato é que não entendeu nada do que ela falou, só que não desejava estender a discussão.

Polanski olhou para ele, calada, e o major via coisas contraditórias na mulher. Parecia que o olhava com severidade e, ao mesmo tempo, com um profundo amor velado. Definitivamente, ela era demasiado complexa de se compreender, mas ele desejava demais conseguir porque não parava mais de pensar nela. Ao fim de alguns segundos, ela rompeu o silêncio, só que o assunto mudara de forma radical:

– Como vão as pesquisas? – quis saber. – Não tenho recebido os teus relatórios periódicos e o coronel está me cobrando informações.

– É verdade, desculpe – afirmou Paulo. – Eu negligenciei os relatórios porque temos andado muito ocupados com o projeto e não sobrou muito tempo. Estamos com o desenho inicial de um propulsor especial. O capitão Faria trabalha em uma nova liga metálica capaz de resistir às forças e temperaturas do combustível. Acredito que em poucos meses tenhamos um protótipo para testes de impulso. Até ao fim do ano, teremos uma pequena nave experimental.

Estação Júpiter 80Onde histórias criam vida. Descubra agora