Capítulo 6 - parte 6 (rascunho)

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Marques tinha sido algemado a uma poltrona secundária e Paulo olhava os painéis, executando diagnósticos. Ficou em silêncio por alguns segundos, até que disse:

– Ouvi você mencionar algo que parecia sabotagem – virou o rosto para ele, sério. – Vai abrir o bico ou precisaremos de o espancar até à morte.

– Aí, será preso, não é? – questionou o major. – Explique o que o vai diferenciar de mim.

– Simples – disse Paulo, decidido. – Estou a proteger a minha vida e a de mais setenta pessoas. Isso me iliba. Afinal, se você não falar, morremos todos, se você falar, ninguém morre, mesmo que precisemos de o matar e o espaço é um lugar onde jamais encontrarão o seu cadáver.

– Continua sendo um assassino – insistiu Marques.

– E daí? – quis saber Luísa, entrando com algo na mão. – Tu vais acabar falando, podes ter a certeza. Apenas vai depender da tua vontade de sofrer. Tás vendo isto? Pois é, trata-se de um teaser especial. A descarga dele é de quarenta mil volts, cerca de cinco vezes maior que os comuns.

– Se eu morrer, morrem todos – insistiu ele, bastante inseguro.

– Mas quem disse que te vou matar, tolinho? – perguntou ela, rindo e estendendo umas cordas para o marido. – Major, amarra as pernas dele. A Propósito, amor, chegaste bem na hora, mas deves ter batido todos os recordes de velocidade em baixa gravidade.

Paulo sorriu para a esposa e abanou a cabeça, sem dizer nada. Preferiu não mencionar o desespero que passou quando as câmeras de vídeo mostraram quem era o intruso. Desesperado, correu para o armário de armas e perdeu preciosos segundos tentando converter o nome em números. Assim que conseguiu, pegou uma pistola e correu pelo corredor, dando saltos enormes e altos demais que o fizeram bater a cabeça no teto com força por bem uma dúzia de vezes até descobrir que o melhor era correr em pequenos saltos, como um felino, fazendo um simulacro de voo. O elevador estava embaixo e ele atirou-se pelas escadas, daquela vez quase que em um voo real que, por pouco, não acabou muito mal, mas safou-se apenas com uma forte pancada no ombro que ainda doía muito. No piso mais inferior, as coisas correram melhor e ele chegou à escotilha do depósito para ver a esposa prestes a ser morta. Não pensou duas vezes e ergueu a arma, atirando na mão do Marques sem nem mesmo mirar.

– Não foi fácil, meu amor, mas eu sabia que você precisaria de apoio; então, eu vim – disse, finalmente, enquanto se aproximava com as cordas e Marques tentava usar os pés contra ele. Bloqueando o movimento, deu-lhe um soco no queixo que o atordoou e, muito calmo, começou a amarrar o major de um jeito que o deixava desconfortável porque os pés foram presos juntos passando por trás do apoio das pernas, forçando-as a ficar abertas.

– Sabes – Luísa aproximou-se acionando o aparelho que emitiu uma faísca bem intensa –, a roupa protege um pouco o teu corpo, reduzindo a tensão a níveis não mortais, mas eu fico imaginando como deve doer um choque destes no saco.

– Você não vai fazer isso, Tenente-coronel – falou, tremendo um pouco. – Pelo amor de Deus, somos civilizados...

– Será que somos? – perguntou ela, rindo. – Amor, faça um diagnóstico em todos os sistemas e nas câmaras de sustentação. Veja se alguma delas foi programada de forma diferente.

Sem dar tempo para o major Marques, aproximou-se e colocou o aparelho no meio das suas pernas, acionando-o. O criminoso soltou um grito violento enquanto arqueava o corpo, passando a um uivo desesperado ao mesmo tempo que lágrimas involuntárias corriam dos olhos.

– Parece que dói muito, pelo jeito – disse Luísa com um sorriso selvagem no rosto. – Ouvi dizer que na segunda o sujeito frita o saco e, na terceira rebenta tudo com a contração e passa a ter uma forte hemorragia. Se tu não morreres depois disso, ainda temos o outro lado.

Finalizou acionando a pequena arma à sua frente.

– Não, pelo amor de Deus – implorou ele, desesperado. – Eu falo, mas pare com isso.

– Então, como salvamos a nave e todo mundo?

– Uma bomba perto do duto de combustível – disse, falando rápido e arquejante. – Ela explode e também lança uma carga elétrica muito intensa.

– Só isso? – perguntou Paulo, rindo. – Então esses idiotas não nos matariam, só prejudicariam porque a carga teria de ser ativada por mais de oitenta segundos antes de haver reação. Vou para a sala das máquinas remover o dispositivo, amor.

– Muito bem – disse a tenente-coronel, voltando a olhar para o clandestino. – Como se desarma a bomba e quem te auxiliou?

– Tenho o controle dela no bolso. Quanto ao resto, eu agi sozinho – respondeu ele. – Não tive auxílio.

Sem perdoar, ela acionou o dispositivo e ele começou a gritar, desesperado.

– Segunda vez – disse ela, zangada. – Tu não saberias onde colocar a bomba, idiota. Acho melhor não subestimares a minha inteligência. Posso não ser tão inteligente quanto o meu marido ou Antônio, mas seu pensar com muita clareza.

– Eu juro, ninguém da tripulação me ajudou. – Ela baixou o aparelho e o major berrou, complementando. – A ajuda veio de um dos técnicos da base, o engenheiro de dutos de pressão. Ele chamava-se Martins e não foi alijado por mim. Era infiltrado e recebi ordens de contatá-lo. Eu juro, mas pare, por favor.

– Como pode alguém ter se tornado um perfeito imbecil? – perguntou-se a moça, baixando a arma, triste. – Trair o próprio povo por causa das suas ideologias políticas e pelo poder. Muito bem, por enquanto aceito isso, mas ai de ti que estejas mentindo. Juro que te mato com isto e bem devagar. Depois, o Paulo vai te levar para um lugar adequado... ou para o espaço, conforme o caso.

– Ei, Lu – pediu o marido, sorrindo. – Quem sabe você me deixa pegar o controle da bomba.

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Estação Júpiter 80Onde histórias criam vida. Descubra agora