Capítulo 7 - parte 2 (rascunho)

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A cientista começou a trabalhar feito uma louca, auxiliada por Faria e Paulo. Preocupada, Luísa levantou-se e foi ao armário, pegar um café para si. Já fazia uma hora que trabalhavam naquilo quando Ana disse:

– Comandante. – Polanski virou o rosto para ela e notou algumas lágrimas escorrendo. – Neste momento, dadas as posições planetárias, eu diria que estamos no ano de 2292 com um erro aproximado de dois anos nos dois sentidos.

My God! – exclamou William, assustado. – Mas o que aconteceu?

– Não sabemos – respondeu Luísa que pareceu se recuperar mais rápido que os demais –, mas uma coisa é certa. Isso não foi obra do nosso clandestino.

– Todos mortos – murmurou Paulo, arrasado. – Todos mortos.

– O quê? – perguntou a esposa.

– Todos aqueles que amamos estão mortos, meu amor – respondeu, abatido. – E o nosso filho também...

– Tens razão – respondeu ela, com um suspiro triste. – Mas eram os riscos da nossa missão: nunca mais vermos aqueles que amamos.

– Muito bem – Antônio bateu as mãos, assustando-os. – Agora precisamos saber o que fazer ou nós é que estaremos mortos em pouco tempo.

– Podemos seguir para a Estação ou para a Terra – comentou Polanski, pensativa.

– A estação está mais próxima – disse Ana. – Mas duzentos anos...

– Muito bem, doutora – disse Luísa, decidida. – Calcule a rota para Júpiter com uma frenagem constante de um ponto dois g e passe para Antônio. Vocês dois fazem o primeiro turno de navegação. Vamos descansar, Paulo, que somos os próximos daqui a doze horas.

– TC – disse Antônio, preocupado. – Mando um rádio para eles?

– Melhor não – respondeu ela. – Passaram mais de duzentos anos. Provavelmente nem se lembram da gente e não fazemos ideia de como está a situação lá e na Terra. Melhor nos aproximarmos mais. Depois decidirei. No próximo turno acordaremos o pessoal chave da tripulação. Doutora Ana, mapeie o sistema solar para podermos nos deslocar em segurança, se necessário, e prepare uma rota para a Terra que deve estar sempre atualizada.

– Sim, Tenente-coronel – respondeu a cientista. – pode ficar descansada.

― ☼ ―

Nos aposentos do casal, Luísa foi para a vigia olhar o espaço. Antes de se deitar naquela câmara de sustentação, sentia-se a mais feliz das mulheres brasileiras. Conseguiu liderar a primeira missão espacial, conseguiu levar o marido junto e, depois de todos os esforços, deu-se conta que tudo se virou contra ela. Sem conseguir evitar, pensou na adivinha, quase uma vida antes. Segundo após segundo tudo parecia desmoronar aos poucos. Naquele momento, ela nem mesmo sabia como reagir ou avaliar e deixou a emoção aflorar à pele, já que estava a sós.

Pouco depois, sentiu-se abraçada pelo marido que disse:

– Amor, agora todos precisarão de ti e da tua liderança – insistiu ele, beijando-lhe o pescoço, com carinho. – Depois, poderemos chorar o passado que não aconteceu.

Emotiva, Luísa virou-se para Paulo, chorando.

– Por que tu sempre sabes o que eu sinto, Paulo? – perguntou, abraçando-o com força. – É exatamente isso que me dói mais, ter perdido o filho que nunca conheci e o passado que não construí.

– Sei porque dói em mim também, minha amada, mas sei que todos dependemos de si, até aquele americano babaca. Quanto ao passado, para nós ele ainda não aconteceu. Vamos construí-lo juntos e vencer todas as intempéries.

– A adivinha jamais errou, Paulinho – disse ela, fungando enquanto o apertava. – Ela disse que nos completaríamos; que, quando um estivesse frágil, o outro estaria forte e vice-versa. Mas o que ela disse sobre nunca mais voltarmos tá pesando e doendo.

– Nesse caso, meu amor, vamos olhar o futuro e esquecer o passado antes que ele nos sufoque – insistiu o marido, preocupado. Ele conhecia muito bem as fragilidades da esposa. – Lembre-se que todos dependem da sua liderança, Lu.

– Tens razão. Acho melhor descansar um pouco agora que, depois vai faltar tempo – resmungou, triste. – Ainda teremos de acordar todos e contar a verdade.

– Como será a humanidade agora? – perguntou-se Paulo.

– Depois desse tempo todo, deveremos ser compráveis aos aborígenes quando foram descobertos. Logo, logo saberemos.

― ☼ ―

Luísa esperou um pouco mais antes de acordar a tripulação. Ela calculou que, se ficassem tempo demais remoendo as novidades, acabariam entrando em depressão ou até mesmo discussões inúteis. À medida que a velocidade da nave reduzia e os perigos de acidente também, ia pensando em como enfrentar isso.

No quarto dia, decidiram acordar a tripulação. Reuniu todos em um pequeno auditório que servia de sala de reuniões e de lazer.

– Amigos – começou por dizer. – Vocês estão sentindo a gravidade maior porque estamos em pleno processo de frenagem. Neste momento, desenvolvemos vinte e dois por cento da velocidade da luz e antes estávamos a quarenta, mas isto tudo é resultado de um problema...

Dada a gravidade da situação, ela não ocultou informações de ninguém e a tripulação sofreu um grande choque. As reações foram as mais diversas, desde sujeitos que apenas soltaram pesados palavrões até que chorasse copiosamente, ao saber que a sua família toda e amigos morreram há mais de duzentos anos.

Quando os ânimos se acalmaram, ela disse:

– Estamos chegando perto de Júpiter e confesso que nã faço ideia de como vamos encontrar as coisas ou se vamos encontrar algo...

– Por que não voltamos para a Terra, senhora? – perguntou um técnico. – Acho que nem faz mais sentido isso tudo.

Enquanto ela ouvia alguns resmungos de anuência, argumentou com cuidado porque seria fácil perder a autoridade, naquele momento.

– Em primeiro lugar, estamos a poucos dias de Júpiter por causa da nossa velocidade atual, ao passo que levaríamos muito mais tempo a chegar à Terra. – Encolheu os ombros e continuou. – Afinal, na estação poderemos obter informações adicionais antes de retornarmos. A nave tem combustível para ir e voltar umas duas ou tês centenas de vezes.

– Acho que devíamos voltar, senhora – insistiu o mesmo sujeito de antes. – Quem sabe a gente vota...

– Meu caro – disse Polanski, mudando o tom. – Nesta nave não se vota a decisão da comandante. Isto não é uma democracia e sim uma hierarquia. Não sabemos como vão as coisas na Terra e considero melhor alcançar Júpiter, então está decidido. Fui clara?

– Sim, senhora – respondeu o técnico cabisbaixo.

Polanski, entretanto ficou preocupada com a situação. Era questão de tempo até começarem os problemas. Entretanto, ela acreditava que antes de as coisas saírem de controle, alcançariam a estação.

― ☼ ―

My God do inglês Meu Deus. T. A.

Estação Júpiter 80Onde histórias criam vida. Descubra agora