Capítulo 6 - parte 3 (rascunho)

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Mal descarregaram tudo o que era destinado à base lunar, a tripulação voltou para a nave. Polanski gostou de conhecer a base, mas quem se deliciou mesmo foi o amigo e o mardo porque era uma base exclusiva de pesquisas. Ao entrarem na nave, ficaram saudades de ambos os lados, em especial porque eram todos muito gentis.

Antes da decolagem, a comandante fez uma reunião na sala de comando com as pessoas mais envolvidas com a nave. Luíza deu a palavra para a navegadora explicar o curso.

– Vamos acelerar a nave contra Vênus de forma a usarmos a sua gravidade para nos acelerar porque o planeta está em uma posição bem prática...

– Mas isso é desnecessário – disse Paulo, interrompendo a navegadora que fez uma careta. – O nosso pássaro não depende desses recursos para ganhar velocidade.

– O senhor tem toda a razão, doutor Assunção, mas é o nosso caminho e não custa facilitar as coisas. A ideia é aproveitar a curva que a atração solar nos fará para nos dirigirmos a uma tangente próxima do Sol. Graças ao revestimento especial do doutor Faria, estaremos perto da órbita de Mercúrio. Nesse momento, vamos precisar de dar muito empuxo na nave para compensar a atração gravitacional que sofreremos. Em compensação, teremos a nave a uns dez por cento de c ao fim da manobra com muito menos esforço e desgaste físico que sofreríamos se fossemos acelerando com foguetes até essa velocidade. Isso garantirá uma viagem mais curta e veloz.

O americano, que estava presente e ouvia a conversa, chegou a soltar um gemido quando ouviu a velocidade que a nave alcançaria. O projeto americano nem em sonhos conseguia conceber uma nave que chegasse a tanto. Um por cento de c já seria um grande feito para eles e a tripulação daquela nave falava em chegar a cento e oito milhões de quilômetros por hora como se fosse algo trivial.

– Senhora ter certeza que vai dar essa velocidade toda? – perguntou, sem se aguentar.

– Naturalmente, senhor Wiliam, até bem mais que isso – respondeu Ana. A seguir, ia continuar a explicar quando foi interrompida mais uma vez.

– Quanto de aceleração no ponto crítico? – perguntou, Luísa, preocupada.

– Dezoito g com uma margem de segurança tanto para a órbita quanto nossa segurança, de forma a podermos acelerar mais ou reduzir. O doutor Silas disse que nas câmeras podemos ser submetidos em até vinte e cinco g.

– Exato – confirmou o médico. – Mesmo assim, solicitei uma margem de segurança larga.

– Fez muito bem, doutor – disse Luísa, pensativa. – Nessa velocidade, chegaríamos a Júpiter em umas dez ou doze horas, em vez de alguns meses...

– Mas chegaríamos mortos, TC – interrompeu Antônio, sacudindo a cabeça. – Seríamos esmagados pela aceleração da frenagem. Não é como um carro onde o tempo de aceleração e parada é muito curto em relação ao tempo que andamos. Na metade do caminho precisamos de pensar em reduzir a velocidade, tal como fizemos para chegar à Lua.

– Só por curiosidade – questionou Polanski –, quanto tempo poderíamos levar para chegar lá nessas condições?

– Dois meses é uma boa segurança, talvez até menos, mas é melhor não levar para os limites – respondeu Paulo e o americano soltou outro gemido porque eles levavam oito meses com as melhores condições. Na posição atual de Júpiter, levariam mais de um ano e meio.

– Muito bem, vamos todos para as poltronas e duplicaremos a aceleração durante algum tempo. Depois faremos a nave rodar e manteremos um g até ao momento de todos irem para as câmaras e o automático assumir. Doutor, quando atingirmos a velocidade de cruzeiro, eu quero ser acordada junto com o major Assunção. Ficaremos quinze dias de plantão e, depois, será a vez da doutora Ana e do Antônio. Alternando assim, teremos a garantia de haver sempre um piloto com capacidade de assumir o controle da nave no mínimo de tempo. Considerando a elevada velocidade que desenvolveremos, não custa ser precavido. Afinal, dois meses não é nada. Será até divertido ver a cara de todo mundo quando chegarmos lá.

– Confirmado, comandante – respondeu o médico, rindo. – Eu confesso que gostei muito da ideia.

– Então todos a postos – disse a tenente-coronel, levantando-se, bastante satisfeita. – Estamos oficialmente a caminho de Júpiter 80. Paulo, ativar catalisador, Toninho, decolar assim que liberarem tanto engenharia quanto a base.

– Da base já temos luz verde, TC – disse Ricco que estava sentado no posto de rádio e fez a solicitação.

– Perfeito, decolar assim que possível – ordenou Luísa, muito feliz.

– Ignição em dez, nove, oito... – a contagem do Major fez todos ficarem com atenção às telas. Quando terminou, dezesseis línguas de fogo saíram dos bocais dos propulsores de base.

Devagar, a nave foi se erguendo e girando para a posição ideal de subida.

– Propulsores de cauda – pediu Antônio, enquanto fazia o nariz subir devagar.

– Ativados... – disse Luísa, trabalhando como piloto auxiliar. Embora fosse possível o piloto fazer tudo sozinho, se necessário, era bem mais confortável trabalhar em conjunto.

– Atenção aos g's – alertou o capitão. – Posição de empuxo vertical em dez segundos.

– Compensação dos jatos principais em andamento.

– Tudo em ordem aqui – confirmou Paulo, olhando as telas.

Assim que a nave ficou na vertical a aceleração ficou mais violenta e começaram a se afastar da Lua.

– Virar cinco graus a bombordo – pediu Ana, conferindo as coordenadas para Vênus. – Aprumar aos trinta minutos.

– Confirmado, Aninha – disse Antônio, sorrindo para a colega.

– Velocidade três mil metros por segundo e subindo – informou Luísa. – Aceleração dois g. Acho que podemos manter esta taxa por quarenta minutos e rodamos.

– Combinado, TC – disseram Paulo e Antônio ao mesmo tempo.

― ☼ ―

A nave acabara de efetuar a rotação e seguia com uma gravidade fixa. Isso agradou a muita gente que correu para os laboratórios, fazer observações. Qum uma aceleração constante do jeito que estava., a velocidade dela crescia de forma absurda e, no fim do dia, já estavam perto de Vênus, cuja órbita estava em um dos pontos mais próximos da Terra.

– Atenção à tripulação – disse Luísa no intercomunicador –, estamos chegando perto de Vênus e ligaremos os foguetes por cerca de cinco minutos. Isso nos fará sofrer pressões de oomze g por algum tempo. Por isso, vão imediatamente paras as vossas posições e preparem-se. T menos dez minutos. Capitão, iniciar rotação para preparar para aceleração.

– Atentos g zero – disse Faria, no intercomunicador.

Apos confirmarem que todos estavam seguros, Antônio acionou os foguetes, fazendo uma aceleração progressiva. Quando alcançaram a órbita de Vênus, contornando-a, a nave foi acelerada a pouco mais de dez g, controlada pelo computador de borda, uma vez que a maioria perderia a consciência. Nessa velocidade absurda a gravitação do vizinho da Terra promoveu o efeito "estilingue" e a "Marcos Pontes" disparou em direção ao sol com uma velocidade que nenhuma nave da Terra ainda havia conseguido. Na ponte, apenas Luísa mantinha a consciência quando a aceleração foi cortada e o resto da tripulação acordava. A comandante acompanhou a rota na tela, comparando a linha calculada e a da nave. Satisfeita, notou que parecia estar tudo okay.

Assim que a navegadora se recuperou, conferiram a rota e Ana reforçou com um sorriso de aprovação. Luísa ligou o comunicador e disse:

– Atenção tripulação, manteremos esta trajetória pelas próximas quarenta horas quando será necessário todas recolherem-se para as câmaras de sustentação – disse, alegre. – Senhoras, nós estamos com a velocidade mais elevada feita por uma nave até hoje. A gravidade será zero por este período. Por enquanto é só.

Após, Polanski virou-se para Ricco e pediu:

– Tenente, abra um canal para a Terra.

― ☼ ―

"c" é a sigla matemática para a velocidade da luz.

Estação Júpiter 80Onde histórias criam vida. Descubra agora