Capítulo 3 - parte 2 (rascunho)

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A manhã daquele dia de Outubro estava perfeita para o teste. Apesar da baixa temperatura – não tão baixa na opinião da major Polanski –, o céu não apresentava uma única nuvem. A quantidade de pessoas que estava na base da força aérea em volta do pequeno avião todo negro era grande. A maioria absoluta era de cientistas que verificavam os diversos instrumentos de medião acoplados à aeronave, mas também havia alguns técnicos que conferiam os equipamentos e reclamavam dos cientistas que estavam sempre no caminho deles. Perto e observando tudo, além do coronel Fagundes, estavam o coronel Santana, responsável pela base e o major Marques, que não tirava os olhos da famosa piloto.

Mais afastados e retidos por um cordão de segurança formado por tropas de elite, um verdadeiro batalhão de repórteres e câmeras de todos os países observavam.

À primeira vista, a aeronave não se diferenciaria de um caça de modelo antigo, exceto para os mais atentos. As duas turbinas eram menores e havia alguns bocais minúsculos de jatos em várias outras posições que permitiriam controlar a nave em condições de ausência de atmosfera. Apesar de serem pequenos, esses jatos teriam capacidade para uma decolagem vertical, só que a major Polanski e o capitão não queriam mostrar todas as cartas de uma vez. O major Assunção fazia as últimas medidas quando a namorada apareceu junto com o capitão, ambos vestindo os uniformes espaciais brancos. Eram mais leves que as roupas de sair para o espaço, tendo bastante mobilidade, mas tinham proteção eficiente contra radiação cósmica e descompressão. O capacete era todo de vidro com displays virtuais, da mesma forma que os capacetes de combate. Faria sentou-se no banco de trás e a Major no comando de pilotagem.

– Você consegue ser linda até com essas roupas que lhe cobrem o corpo todo, meu anjo – disse Paulo ao vê-la, falando baixo.

A seguir, subiu a escada e ajudou-a, explicando os comandos adaptados. O cockpit não era muito diferente dos caças comuns daquela época, até porque esse aparelho era um caça. A poltrona ficava ao centro, sobrando pouco espaço nas laterais. Nos braços, havia dois sticks, um de cada lado. Em geral um era para pilotar e o outro para armamentos, duplicado na poltrona de trás. Naquele aparelho, contudo, os sticks do piloto e do navegador e artilheiro foram modificados. À esquerda, havia uma alavanca de controle da potência das turbinas e, à frente, uma quantidade respeitável de displays com as mais diversas funções.

– Veja o manete de aceleração – disse Assunção. – Ele tem duas alavancas. A maior é o multiplicador por dez. Por segurança, você não conseguirá subi-la mais de um ponto por vez ou a aceleração mataria vocês. Só conseguirá acelerar a grande em um ponto quando a pequena estiver no máximo. Ao acelerar com a grande, a pequena saltará para a posição inicial. Considere isso um desmultiplicador para o controle não ficar excessivamente sensível. Os retrofoguetes e os foguetes verticais são acionados pelo stick da esquerda, como se estivesse em um drone de brinquedo. As armas e os controles delas foram retirados para dar lugar aos instrumentos de medição.

– É fácil, meu amor, não te preocupes – disse ela, sorrindo. Quando estava bem acomodada e colocou o capacete, ele pegou a sua mão e beijou-a, sentindo o tecido liso da luva.

– Se cuide, meu amor – murmurou ele. Ergueu a voz e continuou. – E lembre-se que, na termosfera, não devem acelerar verticalmente demais ou vocês vão parar no espaço.

– Para isso preciso de Mach trinta e três, meu anjo – comentou ela, rindo.

– Isso é na superfície. Tome cuidado. Naquela altitude e bem mais fácil passar para lá da órbita.

– Tá bom. Amo você.

Fechou a carlinga e todos afastaram-se. O coronel Fagundes e alguns cientistas foram para a torre de controle enquanto a maioria ainda ficava por ali, aguardando.

Estação Júpiter 80Onde histórias criam vida. Descubra agora