Capítulo 87 :

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Pocah: Até que gostei, mas por que não escolheu uma em inglês?

Arthur: Deus me livre, cantar já vai ser difícil em português, quem dirá em inglês.

Pocah: Ué, que dificuldade? Não viveu nos Estados Unidos por tanto tempo? Seu inglês deve ser ótimo.

Arthur: Já escolhi, e aí? Vai ajudar ou não?

Pocah: Vou, mas precisava ser sertanejo?

Arthur: E tem gênero melhor para expressar sentimentos? Sofrência?

Pocah: Sofrência — desdenhou. — Duvido que tenha sofrido a metade do que fez a minha amiga sofrer.

Arthur: Acredite, eu sofri em dobro tudo o que fiz a ela. — Encarou-me com um olhar estreito, mas por fim, assentiu.

Pocah: Tenho que aprender a tocá-la. Então, desinfeta daqui e me deixe trabalhar. Nos encontramos à meia-noite em frente ao prédio da Carlinha.

Arthur: Sem ensaiar? — Ela gargalhou.

Pocah: Já está se sentindo o cantor famoso, é? — Ignorei a gracinha. — Ok, nos encontramos aqui meia hora antes pra eu tentar ajudá-lo a minimizar um pouco o mico eterno que irá pagar.

Mico. Seria mesmo um mico eterno. E se os vizinhos me tacassem ovos? E se ela nem aparecesse na janela?

Fiz um carinho na cabeça da Vitoria e, quando já estava saindo, perdido em meus pensamentos, Pocah me chamou:

Pocah: Arthur... Eu amo minha amiga e, só por amá-la, irei te ajudar a consertar essa cagada que você fez. Pise de novo na bola e vou garantir que nunca mais engravide ninguém.

Pocah: Sai fora, idiota! — Ignorei a parte da ameaça, mas me aproximei e a abracei. É claro que ela me empurrou.

Arthur: Me desculpe, me empolguei — pedi, envergonhado.

O quê? Até os cafajestes tem seus momentos de constrangimento.

Pocah: Tudo bem. O Ronan me contou o que você passou com a Larissa, eu conheci aquela cadela. — Confesso que senti um desconforto por ela saber, mas estava na hora de exorcizar de vez aquele demônio da minha vida.

Arthur: É passado. O que me transformei depois disso é passado também.

Pocah: É bom mesmo! Pois o que você passou não lhe dá o direito de sair por aí ferindo o coração das pessoas. — Estava demorando para começar o sermão, mas ouvi e aceitei, sem reclamar.

Arthur: Sei disso agora. E, no final das contas, acabei com meu coração ferido também.

Pocah: Faça minha amiga feliz.

Arthur: Farei.

Saí de lá até mais tranquilo depois da nossa conversa.

Pocah era uma boa amiga, eu tinha que admitir. Carlinha tinha sorte.

Embora apavorado, ansioso e me sentindo meio ridículo, na hora marcada, parei o carro na frente do prédio da Carla.

Pocah e Ronan encostaram logo atrás de mim. Respirei fundo e saí do carro decidido: se pagar o mico do ano fizesse com que ela voltasse para mim, eu cantaria não só uma música, mas um repertório inteiro.

Pocah: Pronto, Luan Santana? — Ela alfinetou quando se aproximou.

Ela parecia bem com aquilo. Violão debaixo do braço, sorriso no rosto. Não dava para saber se estava feliz por me ajudar com a amiga, ou só se divertindo as minhas custas.

Mas o real motivo sequer interessava.

Arthur: Estou pronto.

Pocah: Vou ligar pra ela. — Afastou-se para fazer a ligação e Ronan se aproximou com um sorriso no rosto. Mas não era um sorriso de zombaria, era de incentivo.

Ronan: Estou orgulhoso, meu amigo! — Segurou o meu ombro. — Você finalmente se tornou o homem que deve ser. O homem que a minha amiga merece.

Arthur: Devo isso a ela, a minha Pitica. Vou ao inferno por ela, Ronan.

Ronan: Vamos — concordou, apontando com a cabeça para a esposa.

Pocah: Se prepara, Arthurito. — Ela se juntou a nós.

Arthurito? Que evolução! Aulas, cria!

Pocah: Ela está vindo aí.

Corri no carro e peguei uma latinha de cerveja, abri-a rapidamente e bebi quase tudo de uma vez.

Pocah: O que está fazendo, idiota?

Arthur: Isso se chama coragem. — Ergui a garrafa na direção dela, que revirou os olhos meneando a cabeça.

Joguei a latinha no banco de carro e me posicionei debaixo da sacada, que ficava no segundo andar do prédio e de frente para a rua. Encarei a janela e nada dela aparecer.

Arthur: Será que ela não vem? — Pocah deu os ombros, franzindo o cenho.

O desespero ameaçou tomar conta de mim. Se Carlinha não saísse na sacada, era por que ela não me queria mais?

Pocah tinha contado que eu estava esperando debaixo na sacada?

Já estava considerando invadir o seu apartamento ou gritar dali mesmo, implorando por perdão, quando ela finalmente saiu.

Pocah sorriu e começou a tocar os primeiros acordes no violão.

Respirei, puxando todo o ar possível para os meus pulmões e cantei. Cantei com todo sentimento e emoção que explodia em meu peito. Decidido e muito concentrado, e, graças a Deus, não errei, só desafinei um pouquinho.

Não dava para ver sua expressão por causa da escuridão, mas eu pedia a Deus que estivesse gostando.

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O Crossfiteiro Irresistível.Onde histórias criam vida. Descubra agora