Capítulo 54 :

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Carla Diaz

Depois que saí do apartamento do Arthur, não consegui derramar mais uma lágrima. Fiquei embasbacada demais para expressar qualquer emoção.

O idiota estava tão empenhado em me ferir, em me afastar. Bom, ele tinha conseguido.

Compreendi, no entanto, que o Arthur estava quebrado demais para que eu ainda tivesse esperanças.

Algo me dizia que tinha a ver com amor mal resolvido o fato de ter se tornado tão cafajeste.

Lembrei-me da tia dele dizendo algo sobre coração quebrado, mas já não me importava mais. Eu o deixaria com todos os seus demônios para trás, afinal, nunca seria páreo para eles.

Entretanto, arrancar o amor que eu sentia por ele do meu peito, não aconteceria da noite para o dia.

Por um momento, pensei que pudéssemos sim viver esse sentimento intensamente, contradizendo a tudo e a todos. Que inocência a minha.

Enforquei-me na minha própria corda, me joguei do precipício cultivando esperanças, mas estava acabado.

Choraria, sofreria, entretanto, também superaria... Não era a primeira vez que eu passava por aquilo e talvez nem fosse a última.

Claro que o que sentia pelo meu ex não chegava aos pés dos meus sentimentos pelo Arthur, mesmo assim, eu tinha meus amigos para me ajudar a superar.

E, por saber que poderia contar com eles sempre, é que estava parada na porta do apartamento da Pocah, tocando a campainha.

Minha amiga abriu a porta e me encarou com um sorriso acolhedor, antes de me puxar para um abraço.

Ali, nos braços protetores dela, eu chorei, só que nem foi pelo Arthur, foi de arrependimento por ter sido uma vaca com ela.

Carla: Me desculpe! — pedi enquanto a apertava contra mim.

Pocah: Shiiii! Não chora, Carla. Vem aqui. — Ela fechou a porta e me puxou para o sofá. — O que aconteceu?

Carla: Eu o procurei. — Limpei as lágrimas teimosas. — Mas foi bom, acho que agora aprendi.

Pocah: Oh, amiga, sinto muito!

Carla: Não sinta. — Funguei limpando as lágrimas. — Aquele cafajeste está quebrado e, o que quebra, raramente tem conserto. Não tenho estrutura pra tentar resgatá-lo das profundezas da alma obscura dele. — Filosofei, acabei rindo e Pocah riu comigo.

Pocah: Então nós vamos te ajudar a esquecer. — Ela pegou o celular.

Carla: Nós? — perguntei, confusa.

Pocah: Sim, nós. Seus amigos, quem mais?

Enquanto ela falava com o João, eu a observava tão determinada e decidida, praticamente o obrigando a largar o que quer que estivesse fazendo para nos encontrar no apartamento dela, como se estivesse em uma Super Operação. E estava, na cabeça dela, estava.

Operação "acordar a Carla para a vida".

Operação "desintoxicar o Arthur da alma da Carla".

Sorria da minha própria desgraça enquanto ela intimava nosso amigo a levar cervejas com ele, como se a doida bebesse.

Trinta minutos depois, João bateu na porta, como um garoto obediente. Sem perguntar nada, apenas me abraçou e beijou minha testa.

Sorriu o seu melhor sorriso reconfortante, antes de ir até a cozinha pegar bebidas para nós.

Sentados no tapete da sala da Pocah, com a Totoya dormindo no bercinho que ela deixava na sala, contei nos mínimos detalhes a minha conversa com o Arthur.

João: Eu avisei que se ele te magoasse, ia se ver comigo. Tô sedento de vontade de quebrar alguns dentes dele. — Meu amigo apertou a latinha de cerveja vazia, amassando-a.

Carla: Você não vai fazer nada, ta doido? Ele e crossfiteiro — eu disse firme. — No fim das contas, ele acredita estar me fazendo um favor. Na verdade, até está. Melhor agora, não é mesmo?

João: Nada disso, Carlinha! Você já está envolvida e está sofrendo! O idiota deveria ter se mantido longe...

Carla: John... — o interrompi. — Obrigada pela força. Você também, Pocah. — Olhei com carinho para ela.— Vocês dois, o Ronan e a Totoya, além dos meus pais, são tudo o que me importa. — Segurei a sua mão.

— Quando você saiu lá de casa, eu questionei sua amizade. Achava que as amigas deveriam ficar ao lado umas das outras até nas piores decisões. Eu estava errada. Uma amiga de verdade aponta o erro da outra, critica e não apoia as loucuras, tenta fazer a outra enxergar a verdade. É isso o que você vem tentando fazer desde que me envolvi com o Arthur. Sei que só estava tentando me proteger...

Pocah:  Se houvesse a mínima chance daquele cafajeste galinha te fazer feliz, eu seria a primeira a apoiá-lo.

Carla: Eu sei, eu sei, hoje eu sei. — Abracei-a.

João: Também quero abraço. — Ele se jogou sobre nós. Ficamos os três ali, rindo, conversando e bebendo — eu e o João — até o Ronan chegar e se juntar a nós.

Pouco depois das dez da noite, anunciei que precisava ir. Estava levemente embriagada e rindo sem parar, era a minha deixa.

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O Crossfiteiro Irresistível.Onde histórias criam vida. Descubra agora