• jantar •

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S/N:

Chegamos em frente à casa de Tobirama e eu tiro os calçados para entrar, ele abre a porta e nós entramos. Consigo reparar rapidamente no local: não é tão grande como pensei que seria, mas é limpo e aconchegante. A sala e a cozinha não possuem divisórias, apenas o banheiro e o que suponho serem dois quartos separados. Todos os cômodos são divididos por portas de correr, o que deixa o ambiente com a impressão de ser maior. É uma casa linda e organizada.

- Seus olhos são curiosos. -observou Tobirama. Olho para ele. - No que está pensando?

- Estava reparando na casa. -respondo. - É bonita. Não sabia que você era tão organizado.

- Solteiro, moro sozinho, ocupado... -ele listou enquanto pegava um pote de comida na geladeira. - Não é difícil manter a casa limpa.

- Solteiro? -faço uma careta confusa. - Você é solteiro?

- Sim. Pensou que eu não fosse? -riu, dividindo a comida em dois pratos.

- Não parece ser. -dou de ombros e me aproximo dele na cozinha.

- Mas sou. -concluiu, colocando um dos pratos no microondas. - E você? -ele se escora com as costas no balcão da cozinha.

- Mais solteira do que eu, só duas de mim. -ri, sentando-me numa almofada à mesa.

- Talvez. -ele não escondeu um riso fraco. - O homem que ficar com você vai ter que ser bem paciente.

- Por quê? -arqueio uma sobrancelha.

- Você fala muita besteira, garota. Além de ser petulante e abusada. -falou, virando-se para tirar o prato do microondas e colocar o outro.

- Que bom. Se eu fosse séria e sem graça igual você, a nossa relação seria pior do que já é. -cruzo os braços sobre a mesa, falando num tom convencido.

- Vou te treinar para que se torne uma mulher decente e deixe de ser a bobona que você é. -responde ainda de costas.

- Mas você ri das coisas que eu falo, eu percebo. -dou um sorriso orgulhoso. - Você reclama tanto de mim, mas sou eu quem torna os nossos treinos divertidos.

- Eu estava brincando. -ele se aproximou com os dois pratos e colocou um deles na minha frente. - E tire os cotovelos da mesa, é falta de educação.

Respiro fundo e pego os hashis, começando a comer. É um macarrão que parece ter sido comprado num restaurante, mas mesmo assim é muito bom. Estou tão faminta que nem reparei quando Tobirama se sentou à mesa e também começou a comer.

- Falou com o Hashirama? -ele perguntou. - Sobre não ter comida na sua casa.

- Não tenho motivos para falar. -dou de ombros. - Eu tenho dinheiro, só esqueci de sair para comprar.

- Por que não vai quando chega do treino? -questionou.

Não deixo de reparar no jeito que ele segura os hashis e como se porta à mesa. Ele é um homem elegante, apesar de viver lutando. Sua postura é de alguém muito refinado e educado.

- Eu chego, tomo banho e durmo. -explico, fazendo uma pausa para colocar mais um pouco de massa na boca. - Durante o dia e tarde, quando durmo, não tenho pesadelos. Só durante a noite.

- Então você não come? -ergueu as sobrancelhas.

- Eu acordo quando já está escuro, como muito, depois volto a dormir. -forço um sorriso para disfarçar o quanto essa rotina é mentalmente cansativa. - Mas o meu segundo sono nunca é bom. Eu estou tendo pesadelos todos os dias, então durante a noite eu não descanso, porque não durmo direito.

- Que tipo de pesadelos são esses? -continua questionando.

- Quer saber a roupa que eu uso para dormir também? -disparei num tom meio rude, mas logo percebi que posso estar exagerando. - Desculpe, eu falo assim por instinto. É a minha maneira de me proteger.

- Percebo isso. -comentou, voltando a comer.

- São pesadelos estranhos, como dragões me perseguindo. Tento fugir e nunca consigo, e quando eles me alcançam, eu sinto a dor como se tivesse sido ferida no mundo real. -explico, parando de comer e prestando atenção nas minhas lembranças. - Normalmente eu entro num estado de sono leve, como se metade da minha consciência estivesse dormindo e a outra metade ficasse acordada.

- Isso acontece com frequência?

- Começou há um tempo. Não lembro da última vez que conseguir dormir bem durante a noite. -confesso, sentindo borboletas na minha barriga só de pensar que precisarei dormir de novo.

- E em qual momento você consegue acordar? -perguntou num tom estranhamente acolhedor.

- Quando o relógio desperta. Eu torço para despertar e acabar com aquela tortura. -finalizo.

Quando percebo que Tobirama não vai dizer mais nada, volto a comer, dando de ombros e agindo como se aquilo não me afetasse. Eu sei que são só sonhos, creio que vão parar. Só fico incomodada pois parecem muito mais reais do que, de fato, são. Daqui um tempo posso me acostumar com isso.

- Você parece cansada. -ele observou, quebrando o silêncio. - Não vai conseguir aprender a técnica que eu planejo te ensinar amanhã.

- Uma nova técnica? -fico animada. - Tipo suiton?

- Exatamente isso. -sorriu de canto.

- Eu vou estar 100% pronta, eu garanto! -estufo o peito, sorrindo largo.

Eu me imagino sendo uma ninja forte, com várias técnicas e lutando no campo de batalha. Suja de poeira, de sangue, mas exalando chakra e talento. Meus pais ficariam orgulhosos e eu também, não tem como ter autoestima baixa se souber lutar como uma guerreira.

Eu só não gosto dessas coisas básicas que o Tobirama me ensinou até agora, como controle de chakra. É entediante, mas sei que é necessário.

- Quer dormir aqui? -ele perguntou. Engasguei rapidamente com a comida, tossindo algumas vezes. - Cuidado.

- Desculpe. -me recomponho. - Está me convidando para dormir aqui?

- A casa tem dois quartos e ambos são devidamente limpos. -ele fecha os olhos, cerrando as sobrancelhas.

- Não é essa a minha preocupação, mas... -pondero por alguns segundos se devo ou não aceitar o convite. - Por quê?

- Você vai descansar melhor. Posso observar como o seu corpo reage durante o sono para garantir que não seja algum jutsu que esteja sendo usado contra você. -explica. - E posso te acordar durante os pesadelos. Assim você acorda, se recompõe e volta a dormir depois. Consequentemente vai descansar mais.

- Se você acha que isso pode me ajudar, tudo bem. -aceito. - Mas e as minhas roupas?

- Pode ir treinar com essa que está usando e para dormir eu posso te emprestar alguma, caso queira. Ou dorme com essa aí e treina com a mesma amanhã. -dá de ombros, sem se importar muito.

- Eu não gosto de dormir com a mesma camisa que treino. Se puder me emprestar alguma, eu agradeço. -lanço um sorriso simpático.

Tobirama assente e se retira da mesa. Ele quase não come., observo. Queria eu ser assim.
Termino de raspar qualquer vestígio de comida do prato e me retiro também da mesa, indo até a pia para lavar o que sujei.

feiticeira • entre uchihas e senjusOnde histórias criam vida. Descubra agora