• alas •

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S/N:

    Sigo Itsuki pelo castelo até chegarmos do lado de fora. Ele está apressado, parece mesmo com vontade de me mostrar o que quer que seja.

    Nos fundos do castelo, além do jardim, há mais um prédio. Muito diferente da casa principal, aquele não possui pintura alguma, somente a cor natural das rochas que o compõem. Cerro as sobrancelhas e continuo seguindo Itsuki na direção daquele estranho lugar.

    Assim que chegamos bem em frente, a porta me chama atenção. É de madeira antiga, pesada e bastante embolorada. As dobradiças estão enferrujadas e há uma barra de ferro grossa e longa sustentada por duas trancas também de ferro. Está tudo muito sujo e abandonado.

— Que lugar é esse? -perguntei num tom baixo.

    Itsuki me informou que teríamos de vir escondidos dos guardas, mas que neste horário eles não estão no jardim e sim fazendo rondas pelo lado de fora. Amaya pode ser esperta, mas não sabe dividir as suas equipes de segurança.

    O mordomo faz a frente e tenta erguer aquela barra pesada, mas não consegue. Observo as suas tentativas por alguns segundos, rindo do seu desespero e empenho para fazer aquilo.

— Hehe. -ele dá um risinho desconcertado. — Você poderia...

— Claro. -estufei o peito e me aproximei. — Me dá licença!

    O garoto ficou vigiando o local enquanto eu me encarreguei de abrir a porta. Seguro o pedaço de ferro sem fazer força, para ter certeza do peso que tem. Realmente, Amaya não parece querer que alguém entre aqui, pois é muito pesado para ser removido por uma única pessoa.

    Agora, colocando mais força, dou um puxão na barra e arranco, quebrando as trancas também. Itsuki me olhou enquanto a sua boca se transformava em um perfeito "O".

— Ficou surpreso, bobinho? -brinquei, deixando os ferros em um canto no chão.

    Empurro as portas e cubro o nariz ao sentir o forte odor de mofo. Faço uma careta e coloco a gola da camisa no rosto, assim como o mordomo.

— Caramba, você é forte! -ele comentou.

— Você que é fraco. -brinquei, rindo.

    Ele parece uma criança prestes a fazer uma travessura. Não está mais com aquela postura de mordomo obediente, e sim, de um parceiro do crime perfeito. Esse pensamento me faz rir.

    Adentramos o prédio imundo e eu fecho a porta para pelo menos ouvir caso alguém tente abrir. Itsuki vai até um canto da parede onde há um interruptor e ascende as luzes do local. É um corredor escuro e com várias portas.

— Se tem luz, não é abandonado. -observei.

— Amaya vem aqui quatro vezes por semana. Nos outros dias, ela resolve afazeres fora do castelo. -ele explicou.

    Assenti e nós dois seguimos andando lado à lado pelo local. A maioria das portas está aberta, o que eu acho estranho, até chegar na parte das portas fechadas.

    Em cima de cada porta de ferro, há uma placa. Em uma delas está escrito "doentes mentais", e é aí que a minha ficha desaba.

— Não pode ser. -murmurei, colocando uma das mãos na boca, em choque.

— Eu disse que você tiraria as suas próprias conclusões. -Itsuki pareceu lamentar, e logo continuamos andando.

    Um pouco mais afastado, havia uma porta com uma placa escrito "gestantes", em outra "berçário", em outra "ists", em outra "mulheres", "homens" e "santuário".

    Eu ainda não abri nenhuma porta, e por mais forte que eu seja para essas coisas, meu estômago embrulha e eu vomito no meio do corredor.

— Você está bem? -o mordomo coloca uma das mãos nas minhas costas, preocupado.

— Estou. -me afastei do seu toque e me recompus. — Me diga que essas pessoas não ficam em salas escuras. -supliquei.

— Cada sala leva à um pátio diferente. São como alas, onde todos convivem livremente. -explicou. — Cada ala possui uma cantina, onde três empregadas se encarregam dos doentes e das demais pessoas.

— Não quero acreditar. -me apoiei na parede com ambas as mãos e baixei a cabeça. — Eles recebem visitas de algum médico?

— Apenas as parteiras.

— O que a Amaya fala sobre isso? -questionei.

— Ela resgatou todos esses pobres coitados e prometeu muitas coisas. -explicou, receoso. — Mas ela diz que não consegue administrar tudo isso sozinha.

— Então por que ajudar se não consegue cuidar? -o ódio toma conta do meu corpo e eu dou um soco na parede, abrindo um buraco não muito grande. Por pouco não quebrei tudo.

— Essas paredes são fortes. -o mordomo observou, coçando o queixo com um dos indicadores. — Você vai querer entrar em alguma das salas?

— Amaya já deve estar voltando. -pensei alto.

    Itsuki me olha, apreensivo. Percebo que ele está mais confiante do que eu sobre este lugar, o que faz surgir um pontinho de interrogação bem em cima da minha cabeça.

— Como sabe de tudo isso? -perguntei. Ele me encarou e arregalou os olhos.

— Eu sei sobre bastante coisas. -murmurou.

— Como? -cerrei as sobrancelhas. — Não acho que Amaya confiaria tanto assim em você.

— Poderíamos falar sobre isso numa outra hora? -perguntou com a voz trêmula, esfregando uma mão na outra.

    Sustentei o olhar sobre ele por um tempo e ponderei sobre o que seria o melhor a se fazer. Realmente, os motivos de Itsuki não me parecem tão importantes agora. Ele não me atacou, nem tentou, o que significa que os seus motivos tem uma grande probabilidade de serem fúteis.

— Eu não quero ver nada disso agora, escondida. -falei e o garoto me olhou. — Eu vou falar com a Amaya sobre isso e depois vamos reformar este lugar imundo.

— Tem certeza disso? -ele pareceu preocupado.

— Eu andei muito irritada com a minha irmã, mas ela ainda é a rainha que comanda tudo e todos aqui. -cruzei os braços. — Se eu quiser tomar o lugar dela, preciso ser calma e consciente.

    O brilho nos olhos do mordomo voltou. Ele parece admirar tudo o que eu falo, isso é esquisito. Estalo a língua e viro as costas, andando rumo à saída do prédio.

feiticeira • entre uchihas e senjusOnde histórias criam vida. Descubra agora