Capítulo 14

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Nat: Priscilla, eu posso te fazer uma pergunta sem você querer me matar? Só me responda se sentir a vontade com isso.

Eu: Pergunta... – a olhei.

Nat: Ontem eu fui dormir e eu ouvi você chorando. O que houve? Eu ia bater no seu quarto, mas a julgar pela raiva que você estava de mim e mal falou comigo ontem além de me mandar para o inferno, achei melhor não fazer isso – eu suspirei.

Eu: Ontem foi um dia intenso pra mim. Cheio de emoções. E eu não me permito ter muitas emoções senhorita Smith.

Nat: Natalie... Ou Nat... Não precisa me chamar de senhorita Smith sempre.

Eu: Ontem eu fui ao cemitério visitar o túmulo da minha noiva.

Nat: Aquela moça bonita que está no porta retrato do seu escritório? – eu a encarei. – Desculpa, eu entrei lá a pedido da Luíza para deixar alguns papéis. – eu soltei o ar.

Eu: É. Laura o nome dela. Ela morreu a três anos. E ela foi... Ela é uma pessoa muito especial pra mim e vai ser pra sempre. A equoterapia existe por causa dela. Começou com ela como primeira assistida.

Nat: O que houve com ela?

Eu: A gente concorria nos campeonatos de equitação e no campeonato estadual estávamos concorrendo. Eu, ela, a Luíza, e a Dani uma grande amiga minha que agora mora fora do Brasil e um outro amigo nosso que agora mora em São Paulo. Eu já tinha feito o circuito, a Luíza e a Dani também, e era a vez dela. A Laura estava reclamando de dores de cabeça a alguns dias foi ao médico fez exames e não deu nada, mas as dores persistiram. E ela foi competir com dor sem falar pra ninguém. No último salto ela caiu. O Trovão era o cavalo dela e ele parou e esperou por ela, esperou que ela se levantasse e todo mundo esperou que ela se levantasse, mas ela não se levantou. – parei alguns segundos. – Ela desmaiou em cima do cavalo. Fomos para o hospital e quando chegamos lá ela passou por inúmeros exames. A Laura teve um AVC. Ela precisou fazer uma cirurgia e depois da cirurgia ela nunca mais foi a mesma. Laura não mexia nada do pescoço para baixo, ela ficou tetraplégica por causa da queda no meio do salto. Ela tinha chances de recuperar os movimentos dos braços e ela recuperou com o tempo, mas o dano cerebral era grave demais. Ela ficou com a visão diminuída, ela não falava quase nada, porque ficou muito tempo com traqueo, então vimos que a equoterapia a ajudaria e eu consegui que ela fizesse aqui na fazenda. Os pais dela se mudaram pra cá e a sobrevida dela melhorou muito com essa atividade. Depois de 1 ano do AVC e ela se recuperando o máximo que podia dentro do quadro grave dela, ela teve outro AVC e ela teve morte cerebral 10 dias depois. – sequei a lágrima que caia. – Ela dizia que quando ela se recuperasse, era para arrumarmos mais cavalos para oferecer a equoterapia a quem não pudesse pagar. Ela dizia para eu arrumar uma nova namorada e que eu fosse feliz e eu ficava brava quando ela dizia isso, eu não queria uma nova namorada eu queria ela. Ela pedia pra eu cuidar do Trovão, e resgatar todos os animais que pudesse e estivessem sob maus tratos. Ela se despediu de mim todos os dias desde que voltou a falar até o dia que ela voltou para o hospital. O velório dela foi no celeiro como ela pedia sempre e o Trovão não saiu de perto um minuto. O corpo dela estava coberto por rosas brancas e um beija flor sempre estava ali. Quando ela foi enterrada um beijo flor estava rodando ali em volta do túmulo. Ela amava os pássaros, as flores, todos os tipos de animais, ela era tão grata a tudo. Ela agradecia tudo, o dia bom o dia ruim, o dia difícil, o dia triste. Ela passava pelo pomar, pelo cafezal, pela horta, pela granja, pelo gado, pelos cavalos, porcos sempre agradecendo a Deus e abençoando tudo aquilo. E quando ela não podia falar, eu fazia oração por ela antes de dormir, e quando acordava, porque ela se agitava muito por que ela sentia falta e ela não conseguia fazer como sempre fazia. Ela nunca perdeu a fé, o amor, a alegria. E eu posso amar outra pessoa, me casar, mas ela vai ser pra sempre meu grande amor e a pessoa mais perto da perfeição que eu já conheci. – ela secou a lágrima que caia.

Nat: Nossa, ela era realmente muito incrível e foi muito guerreira.

Eu: Sim. Muito...Nesses três anos sem ela eu sinto a falta dela todos os dias. Tem certas datas que eu acho que ela vai descer as escadas e entrar na cozinha com toda a alegria dela – sorri de leve. – Ela dava valor as menores coisas. Ela amava tudo e todos. Eu tento continuar com todas as obras dela porque também me fazem muito bem e eu tenho muito mais do que eu preciso. Uma creche foi inaugurada meses depois que ela partiu e recebeu o nome dela. Creche Laura Menezes de Albuquerque. Ela quem quis abrir a fazenda para as crianças conhecerem. Ela mudou minha vida totalmente. Laura não era fútil, não era apegada a bens materiais, as festas que ela gostava eram aquelas que poderiam ajudar outras pessoas. Os aniversários dela, ela pedia sempre para trazerem um alimento ou uma roupa ou um brinquedo para doação e nada para ela. Ela amava receber flores como presente, um cartão. O que ela gostava fora tudo isso era de viajar, a gente viajou bastante. Ela amava conhecer outras culturas, outros lugares, mas ela não era uma mulher fixada em festas fúteis, em joias, em roupas caras. Ela era simples e com um coração imenso e se foi muito cedo, com 28 anos.

Nat: Realmente ela se foi muito cedo, mas teve uma passagem muito bonita na terra.

Eu: É... Isso ela teve... Ela foi um anjo na vida de muita gente – não falamos mais nada, ficamos ali saboreando o vinho.

Nat: Vou dormir... Boa noite e obrigada pelo vinho.

Eu:De nada... Boa noite. –ela entrou. Eu não demorei muito ali e subi também. Me senti um pouco fraca porexpor minha vida assim pra ela, ou melhor, por expor a Laura pra ela. O restoda semana passou, eu avisei a Natalie que o sábado e o domingo dela eramlivres. No sábado de manhã eu ia a cidade e ela perguntou se poderia ir juntoqueria comprar umas coisas pra ela. Como eu não ia demorar e tinha outrascoisas a fazer, emprestei um dos carros da fazenda pra ela ir a cidade e fazero que ela quisesse. Natalie chegou era meia noite e bêbada.

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Eu chorei com a história da Laura... 

NATIESE EM: A FAZENDEIRAOnde histórias criam vida. Descubra agora