Na segunda seguinte Priscilla me chamou para ajudar no celeiro novo, precisava preparar tudo para a chegada dos cavalos. Saimos ao mesmo tempo das baias com feno nas mãos e sem olhar e trombamos uma na outra e caímos.
Eu: AAAAAAAAAAAAHH...
Pri: Mas você tá cega é?
Eu: Eu vou botar um sino em você... Não faz barulho... Que susto... – a gente começou a rir. Ela levantou e me ajudou a levantar. O celular dela tocou era mensagem. Eu estava saindo do celeiro para pegar mais feno.
Pri: Parece que tem um porco selvagem solto pelas terras e tocando o terror. Melhor não sair... – quando cheguei na porta eu travei...
Eu: Ele é preto com pintas claras e é enoooorme? – falei estática.
Pri: Acredito que sim por que?
Eu: Acho que ele está aqui...
Pri: Não corre – falou tarde demais e eu entrei correndo e ele veio atrás e ela correu também entramos numa baia e fechamos. – Por que você nunca escuta? – falou ofegante.
Eu: Pelo mesmo motivo que você fala tarde demais... – falei ofegante. Ele deu uma cabeçada na porta.
Eu e Pri: AAAAAAAAAAAAAAAHHHHH...
Pri: Espero que essa porta o segure...
Eu: A gente vai ficar aqui pra sempre, vamos morrer aqui e nunca mais vamos sair até secarmos e viramos duas uvas passas...
Pri: Você precisa se tratar – me olhava tipo "você é meio maluca". – Daqui a pouco ele vai embora, relaxa.
Eu: Eu não nasci pra vida no campo.
Pri: Não mesmo. Mas olha só você já sobreviveu a três semanas e meia. Talvez seja seu recorde. Seus pais não esperavam que você fosse durar 24 horas.
Eu: Você fala com eles?
Pri: Trocamos mensagens uma vez ao dia.
Eu: Mas o que? – fiquei indignada.
Pri: São bem frios né?
Eu: Quem? Meus pais?
Pri: Sim.
Eu: São. – nos sentamos nos fenos. – Meus pais são aquelas pessoas que vivem para o trabalho e vivem em colunas sociais, em revistas, em sites e TV. O casal perfeito, os empresários bem sucedidos, os pais incríveis.
Pri: E tudo isso é verdade?
Eu: Sim. Exceto os pais incríveis. O tempo que eles tinham sempre se dedicaram ao casamento deles e nunca aos filhos então eu e meus irmãos fomos criados por babás e hoje cada um tem sua vida.
Pri: Deixa eu adivinhar... Seu irmão virou uma máquina de trabalho para orgulhar seu pai, e sua irmã virou algo totalmente diferente do que seus pais gostariam para irritá-los, e você fez o que eles queriam, mas virou a rebelde sem causa.
Eu: É – ri. – Meu irmão trabalha numa multinacional em Nova York, muito bem sucedido e joga na cara dos meus pais todo o sucesso dele, sempre que pode e não quis trabalhar com nossos pais, quis vencer por ele mesmo e conseguiu. Minha irmã virou médica, passa mais tempo no hospital e no consultório dela que em casa indo contra a vontade da minha mãe de ser uma boneca de luxo, e eu fiz administração e moda, trabalho na empresa as vezes, bebo, fumo, dou festas e muita dor de cabeça pra eles. E olha pra mim, estou sentada numa baia agora fugindo de um porco selvagem.
Pri: Quem te viu quem te vê – rimos.
Eu: De quem era essa fazenda?
Pri: Roubei. – eu arregalei os olhos e ela riu – É brincadeira. – riu – Era dos meus bisavós. Eles eram muito conhecidos aqui. Era pais dos meus avós paternos. A família do meu pai nunca se interessou por nada disso aqui e eu passava férias sempre aqui na fazenda. Eu falava para o meu bisavô que eu seria veterinária, administradora e jardineira – eu ri. – Inocencia de criança. Só pra cuidar de tudo isso aqui. E ele falava que um dia eu cuidaria de tudo isso. Minha bisavó faleceu quando eu tinha 12 anos e isso quase me matou. Foi uma briga gigantesca dos meus tios para ficarem com os bens dela, então meu avô em vida, distribuiu parte dos bens dele aos filhos e netos. Exceto a fazenda e os lucros da fazenda. Dividiu de maneira justa, todos eles concordaram em abrir mão da fazenda já que não cuidariam dela mesmo e ninguém teria condições de comprar essa fazenda se eles colocassem a venda.
Eu: É, porque essa fazenda é praticamente uma cidade, vale milhões.
Pri: Sim, vale e vale muito. Meu bisavô era um dos homens mais ricos do país, tinha bens do Brasil todo. Todos os tios hoje vivem super bem graças a tudo que ele deixou a eles. Meu pai faleceu quando eu tinha 14 anos e isso me arrasou e eu me mudei pra Goiânia, até então eu morava no Rio. Era meu bisavô e eu contra o mundo todo. Ele viveu muito – sorriu terna lembrando de tudo. - Ele chegou a ir na minha primeira formatura que foi de zootecnia. Ele dançou valsa comigo. Ela estava morrendo de orgulho de mim, e eu o ajudava muito aqui, já sabia tudo, e ele falava que eu precisava estudar mais para aprender a administrar e não perder dinheiro. E ele falava também "Priscilla, você é boa. Seja boa para as pessoas. Se imponha, mas seja boa para as pessoas". Ele morreu um ano depois nos meus braços. Muito idoso, mas muito feliz. E tudo ficou para mim.
Eu: Uau... E sua família não brigou?
Pri: Não podiam, ninguém saberia administrar. Os filhos dele que ainda são vivos, moram todos fora do Brasil vivem todos muito bem, e alguns nem vieram para o enterro. Ainda restava uma parte para receberem, cada um mandou designou um procurador para assinar a papelada e pronto. É a parte da família que não se fala que não se envolve. E eu faço tudo para essa fazenda ser sempre prospera porque era isso que meu bisavô fazia.
Eu: Por que você é tão durona?
Pri: Eu não sou durona...
Eu: É sim. Muita gente aqui tem até medo de você.
Pri: Eu sou imponente, é diferente. - e gata, pensei.
Eu: Se dá bem com sua família materna?
Pri: Sim. Mas a minha mãe ama o Rio de Janeiro então eu a vejo pouco, mas nos falamos com frequência. Nos últimos meses que temos nos falado pouco. Meu irmão eu falo todos os dias sinto falta de tê-lo por perto, mas diz ele que vai passar uma temporada aqui, eu duvido. Como disse, meu pai faleceu quando eu era adolescente. Minha mãe se casou de novo, meu padrasto é uma boa pessoa, mas eu prefiro me manter reservada sabe.
Eu: Entendo. As pessoas aqui gostam muito de você, embora você esteja sempre séria, e sempre dando ordens – ela soltou uma risada anasalada.
Pri: Eu não sou uma má pessoa. Tento fazer o bem sempre, e a vida, ou Deus ou o universo me retribui e eu continuo sendo grata por isso. Eu aprendi muito com meu bisavô e ainda mais com a Laura, ela me ensinou muita coisa. – suspirei.
Eu: Sente falta dela né?
Pri: Todos os dias. Mas ela está bem onde ela está, eu sinto isso – sorriu de leve. O porco bateu na porta com tudo nos fazendo gritar.
Eu: Ele vai invadir. – falei assustada.
Pri: Vou ligar pra alguém... – ligou para alguém e logo ouvimos uma movimentação e uma correria e logo saímos de lá. – Pegaram?
XX: Não. Ele fugiu. Foram atrás. Fugiu da fazenda dos Guimarães. Melhor irem pra casa.
Pri:Já vamos... –fomos pra casa.
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NATIESE EM: A FAZENDEIRA
FanfictionMeu nome é Priscilla Álvares Pugliese, tenho 31 anos, sou formada em Administração e Zootecnia. Moro em Goiânia na Fazenda Pugliese. Sou dona de uma das maiores fazendas cafeeiras, frutíferas, de gados e cavalos do país atualmente, herança de famíli...