Capítulo 27

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Na segunda seguinte Priscilla me chamou para ajudar no celeiro novo, precisava preparar tudo para a chegada dos cavalos. Saimos ao mesmo tempo das baias com feno nas mãos e sem olhar e trombamos uma na outra e caímos.

Eu: AAAAAAAAAAAAHH...

Pri: Mas você tá cega é?

Eu: Eu vou botar um sino em você... Não faz barulho... Que susto... – a gente começou a rir. Ela levantou e me ajudou a levantar. O celular dela tocou era mensagem. Eu estava saindo do celeiro para pegar mais feno.

Pri: Parece que tem um porco selvagem solto pelas terras e tocando o terror. Melhor não sair... – quando cheguei na porta eu travei...

Eu: Ele é preto com pintas claras e é enoooorme? – falei estática.

Pri: Acredito que sim por que?

Eu: Acho que ele está aqui...

Pri: Não corre – falou tarde demais e eu entrei correndo e ele veio atrás e ela correu também entramos numa baia e fechamos. – Por que você nunca escuta? – falou ofegante.

Eu: Pelo mesmo motivo que você fala tarde demais... – falei ofegante. Ele deu uma cabeçada na porta.

Eu e Pri: AAAAAAAAAAAAAAAHHHHH...

Pri: Espero que essa porta o segure...

Eu: A gente vai ficar aqui pra sempre, vamos morrer aqui e nunca mais vamos sair até secarmos e viramos duas uvas passas...

Pri: Você precisa se tratar – me olhava tipo "você é meio maluca". – Daqui a pouco ele vai embora, relaxa.

Eu: Eu não nasci pra vida no campo.

Pri: Não mesmo. Mas olha só você já sobreviveu a três semanas e meia. Talvez seja seu recorde. Seus pais não esperavam que você fosse durar 24 horas.

Eu: Você fala com eles?

Pri: Trocamos mensagens uma vez ao dia.

Eu: Mas o que? – fiquei indignada.

Pri: São bem frios né?

Eu: Quem? Meus pais?

Pri: Sim.

Eu: São. – nos sentamos nos fenos. – Meus pais são aquelas pessoas que vivem para o trabalho e vivem em colunas sociais, em revistas, em sites e TV. O casal perfeito, os empresários bem sucedidos, os pais incríveis.

Pri: E tudo isso é verdade?

Eu: Sim. Exceto os pais incríveis. O tempo que eles tinham sempre se dedicaram ao casamento deles e nunca aos filhos então eu e meus irmãos fomos criados por babás e hoje cada um tem sua vida.

Pri: Deixa eu adivinhar... Seu irmão virou uma máquina de trabalho para orgulhar seu pai, e sua irmã virou algo totalmente diferente do que seus pais gostariam para irritá-los, e você fez o que eles queriam, mas virou a rebelde sem causa.

Eu: É – ri. – Meu irmão trabalha numa multinacional em Nova York, muito bem sucedido e joga na cara dos meus pais todo o sucesso dele, sempre que pode e não quis trabalhar com nossos pais, quis vencer por ele mesmo e conseguiu. Minha irmã virou médica, passa mais tempo no hospital e no consultório dela que em casa indo contra a vontade da minha mãe de ser uma boneca de luxo, e eu fiz administração e moda, trabalho na empresa as vezes, bebo, fumo, dou festas e muita dor de cabeça pra eles. E olha pra mim, estou sentada numa baia agora fugindo de um porco selvagem.

Pri: Quem te viu quem te vê – rimos.

Eu: De quem era essa fazenda?

Pri: Roubei. – eu arregalei os olhos e ela riu – É brincadeira. – riu – Era dos meus bisavós. Eles eram muito conhecidos aqui. Era pais dos meus avós paternos. A família do meu pai nunca se interessou por nada disso aqui e eu passava férias sempre aqui na fazenda. Eu falava para o meu bisavô que eu seria veterinária, administradora e jardineira – eu ri. – Inocencia de criança. Só pra cuidar de tudo isso aqui. E ele falava que um dia eu cuidaria de tudo isso. Minha bisavó faleceu quando eu tinha 12 anos e isso quase me matou. Foi uma briga gigantesca dos meus tios para ficarem com os bens dela, então meu avô em vida, distribuiu parte dos bens dele aos filhos e netos. Exceto a fazenda e os lucros da fazenda. Dividiu de maneira justa, todos eles concordaram em abrir mão da fazenda já que não cuidariam dela mesmo e ninguém teria condições de comprar essa fazenda se eles colocassem a venda.

Eu: É, porque essa fazenda é praticamente uma cidade, vale milhões.

Pri: Sim, vale e vale muito. Meu bisavô era um dos homens mais ricos do país, tinha bens do Brasil todo. Todos os tios hoje vivem super bem graças a tudo que ele deixou a eles. Meu pai faleceu quando eu tinha 14 anos e isso me arrasou e eu me mudei pra Goiânia, até então eu morava no Rio. Era meu bisavô e eu contra o mundo todo. Ele viveu muito – sorriu terna lembrando de tudo. - Ele chegou a ir na minha primeira formatura que foi de zootecnia. Ele dançou valsa comigo. Ela estava morrendo de orgulho de mim, e eu o ajudava muito aqui, já sabia tudo, e ele falava que eu precisava estudar mais para aprender a administrar e não perder dinheiro. E ele falava também "Priscilla, você é boa. Seja boa para as pessoas. Se imponha, mas seja boa para as pessoas". Ele morreu um ano depois nos meus braços. Muito idoso, mas muito feliz. E tudo ficou para mim.

Eu: Uau... E sua família não brigou?

Pri: Não podiam, ninguém saberia administrar. Os filhos dele que ainda são vivos, moram todos fora do Brasil vivem todos muito bem, e alguns nem vieram para o enterro. Ainda restava uma parte para receberem, cada um mandou designou um procurador para assinar a papelada e pronto. É a parte da família que não se fala que não se envolve. E eu faço tudo para essa fazenda ser sempre prospera porque era isso que meu bisavô fazia.

Eu: Por que você é tão durona?

Pri: Eu não sou durona...

Eu: É sim. Muita gente aqui tem até medo de você.

Pri: Eu sou imponente, é diferente. - e gata, pensei.

Eu: Se dá bem com sua família materna?

Pri: Sim. Mas a minha mãe ama o Rio de Janeiro então eu a vejo pouco, mas nos falamos com frequência. Nos últimos meses que temos nos falado pouco. Meu irmão eu falo todos os dias sinto falta de tê-lo por perto, mas diz ele que vai passar uma temporada aqui, eu duvido. Como disse, meu pai faleceu quando eu era adolescente. Minha mãe se casou de novo, meu padrasto é uma boa pessoa, mas eu prefiro me manter reservada sabe.

Eu: Entendo. As pessoas aqui gostam muito de você, embora você esteja sempre séria, e sempre dando ordens – ela soltou uma risada anasalada.

Pri: Eu não sou uma má pessoa. Tento fazer o bem sempre, e a vida, ou Deus ou o universo me retribui e eu continuo sendo grata por isso. Eu aprendi muito com meu bisavô e ainda mais com a Laura, ela me ensinou muita coisa. – suspirei.

Eu: Sente falta dela né?

Pri: Todos os dias. Mas ela está bem onde ela está, eu sinto isso sorriu de leve. O porco bateu na porta com tudo nos fazendo gritar.

Eu: Ele vai invadir. – falei assustada.

Pri: Vou ligar pra alguém... – ligou para alguém e logo ouvimos uma movimentação e uma correria e logo saímos de lá. – Pegaram?

XX: Não. Ele fugiu. Foram atrás. Fugiu da fazenda dos Guimarães. Melhor irem pra casa.

Pri:Já vamos... –fomos pra casa. 

NATIESE EM: A FAZENDEIRAOnde histórias criam vida. Descubra agora