Quando cheguei no Rio peguei um taxi e fui para o lugar que eu sabia que seria bem recebida. Eu já tinha livre acesso lá então o porteiro me deixou subir. Toquei a campainha e ela logo atendeu.
Luana: Natalie? – eu desabei em lágrimas e ela me abraçou. – Hei... O que houve? – me abraçou mais forte e eu só chorava. – Entra – me ajudou com as malas e fechou a porta. Ela pegou um copo d'água e me deu. – Toma essa água. – eu tomei e depois de cinco minutos em total silêncio eu falei.
Eu: Acabou...
Luana: Por que?
Eu: Autopreservação. – ela me olhou para que eu continuasse – Você sabe tudo que a Priscilla vem passando e ela está ainda num quadro sério da doença, do tratamento ela acabou de sair do hospital. No dia 12 passamos a madrugada com a Luíza em trabalho de parto e foi exaustivo pra ela e ela dormiu o dia todo de cansaço e mal estar. Ontem ela saiu cedo antes de mim e foi trabalhar cuidar dos bichos andar a cavalo. Ela desmaiou quando chegou em casa, ela chegou no limite das forças dela e ainda eram 11 da manhã. Ela não pode nem sair sem máscara ela não podia nem ter contato com os bichos ainda e ela fez mesmo assim. É como uma criança teimosa, você fala não e ela vai lá e faz o contrário. Eu tenho feito de tudo para deixa-la bem, confortável, feliz, se sentindo bonita e mulher porque eu sei que ela está com a auto estima baixa, se sentir amada, meu Deus eu digo que a amo o tempo todo porque é a verdade – suspirei. – E ela não faz o menor esforço para se cuidar, se recuperar e ficar bem pra mim. Ela corre risco ainda, e ela sabe disso. Ela não tem imunidade, ela ainda tem que tomar todas as vacinas de novo e ela está arriscando tudo. Ela ainda tem 1 ano de tratamento via oral pela frente e ela com menos de uma semana de alta do hospital depois de uma quimio que a colocou em coma por 3 dias, e ainda a manteve por dias no hospital, ela fez tudo que ela não podia fazer. Ela pode morrer se ela não se cuidar e ela não se importa Luana, enquanto isso eu estou cuidando da fazenda, das contas, de funcionários, das medicações dela, de tudo. – voltei a chorar – E ela ainda teve a coragem de me dizer que eu estava sendo egoísta com ela. Eu, sendo egoísta como? Ela sim está sendo egoísta comigo o tempo todo. Eu larguei tudo pra ser dela, pra cuidar dela e ela não se importa.
Luana: E então você pegou suas coisas e veio embora?
Eu: Sim. Eu não vou ficar assistindo-a morrer aos poucos e ficar tentando tapar buracos. Isso é masoquismo.
Luana: Natalie, do que você tem medo?
Eu: Dela morrer. Eu prefiro me afastar e não ver isso acontecer do que ficar perto e não conseguir salvá-la.
Luana: Ok... Você está vivendo com medo 24 horas e não está percebendo. Você não pode viver assim Natalie. Você está ficando doente mentalmente com isso. Seu medo inconsciente está te adoecendo por isso você largou tudo e veio embora.
Eu: Pode ser. Só não posso ficar assistindo isso acontecer na minha frente, dói demais.
Luana: E não vai doer ficar longe dela?
Eu: Já está doendo – solucei – Desde que entrei no carro na porta da casa já está doendo muito. Mas eu não posso nadar oceanos por quem não está pulando uma poça por mim e nem por si mesma. – ela me abraçou.
Luana: Coloca pra fora, vai ficar tudo bem... – peguei meu celular na bolsa depois de um tempo e o liguei, tinha dezenas de mensagens dela. Eu reativei meu chip antigo do Rio de Janeiro e tirei o de Goiânia.
Eu: Posso ficar aqui, até eu arrumar um apartamento.
Luana: É claro que pode – sorriu. – A casa é sua, sabe que pode ficar o tempo que quiser. Vamos eu te ajudo a desfazer as malas – ela me ajudou a guardar tudo no armário do quarto de hospedes, pediu nosso almoço a gente comeu. Falou como tá o clima na empresa dos meus pais e que está pensando seriamente em sair de lá. O autoritarismo da minha mãe está insuportável. Ficamos ali um bom tempo conversando sobre tudo isso e falando sobre o que eu ia fazer agora. A noite eu não dormi nada, estava triste, com saudade da Priscilla, pensando se o que eu fiz era o certo. Na manhã seguinte acordei cedo, a Luana estava saindo para trabalhar.
Eu: Bom dia.
Luana: Bom dia – sorriu. – Fiz café, tem bolo, tem frutas e pão.
Eu: Obrigada. Vem almoçar em casa?
Luana: Sim, vou trazer almoço.
Eu: Não precisa, eu faço alguma coisa pra gente.
Luana: Desde quando você cozinha?
Eu: Aprendi algumas coisas na fazenda. Vou no mercado e faço algo pra gente.
Luana: Tá bom. Venho meio dia.
Eu: Ok. E Luana, não conta que eu estou aqui tá?
Luana: Tá... Fica tranquila. - ela saiu. Eu tomei café tirei a mesa lavei a louça, olhei a dispensa e não tinha nada. Como ela vive sem comida em casa? Pensei. Tomei um banho me troquei e me lembrei que não tenho mais carro. Pedi um uber e fui ao supermercado fiz compras, pedi outro uber e fui pra casa. Guardei tudo e comecei a fazer o almoço. Coloquei a mesa fiz um suco. Quando colocava a comida na mesa a Luana chegou. - Nossa que cheiro bom...
Eu: Acabei de fazer a comida.
Luana: Que mesa linda... Vou lavar as mãos. - ela logo veio se serviu. - Nossa que delicia, está uma delicia.
Eu: Obrigada. As moças que cozinham na fazenda me ensinaram bastante coisa.
Luana: Amém por elas. - rimos.
Eu: Como foi sua manhã?
Luana: Um saco. Sua mãe está insuportável a cada dia que passa. Seu pai até perdeu a paciência com ela hoje.
Eu: Não sei como ele ainda suporta. - contei do dia que eles foram na fazenda.
Luana: Estou pensando seriamente em pedir demissão. Não aguento mais ficar estressada por pouca coisa sabe.
Eu: Te entendo. Preciso comprar um carro.
Luana: Usa o meu. Ainda não vendi o meu carro depois que comprei o seu. Usa meu carro.
Eu: Ah que bom. Mas depois vou comprar um pra mim, dependendo de como tudo for ficar. - suspirou.
Luana: Ela ligou?
Eu: Não. Eu voltei com o meu número daqui do Rio. Vou fazer alguns contatos vou procurar emprego, vou procurar um apartamento. Tenho que recomeçar minha vida.
Luana: Será que vai reaprender a viver sem a Priscilla?
Eu:Eu preciso. - agente logo terminou o almoço, ela foi trabalhar, eu lavei a louça liguei meunotebook, atualizei meu currículo e enviei para algumas empresas. Procureialguns apartamentos e tinha um no mesmo prédio da Luana, tinha três quartos, umescritório, sala, cozinha, lavanderia. Era um prédio novo em São Conrado, noandar acima da Luana. Não precisava de reformas, nunca teve morador, era idealpra mim. Marquei com o corretor de olhar no dia seguinte.
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Não julgo...
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NATIESE EM: A FAZENDEIRA
FanfictionMeu nome é Priscilla Álvares Pugliese, tenho 31 anos, sou formada em Administração e Zootecnia. Moro em Goiânia na Fazenda Pugliese. Sou dona de uma das maiores fazendas cafeeiras, frutíferas, de gados e cavalos do país atualmente, herança de famíli...