02. Que mundo é esse?

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— Meu Deus eu nem acredito que ficamos na mesma sala novamente! — Olivia dizia assim que vimos nossos nomes no mural do pátio principal da escola. — Turma 2001!

Olivia e eu nos tornamos amigas quando éramos apenas pequenas meninas que não tinham objetivo algum de vida. Assim como eu, Olivia Miller cresceu e se tornou uma menina muito dedicada e esforçada. Além de ser uma das mais cobiçadas pelos alunos e alunas.

Ela possuía a pele negra, tranças box braids nos cabelos até o final das costas. Olhos castanhos em um tom claro e seu rosto era tão angelical que qualquer um poderia admirá-la por horas.

— Eu já imaginava. Afinal, nos esforçamos muito para ficar na primeira turma. — Respirei fundo, ainda analisando o meu nome no meio da turma 2001. A primeira turma de segunda ano. A mesma de Larry.

Eu consegui...

Minha escola dividia os alunos da seguinte forma: os mais interessados e disciplinados serão designados para as primeiras turmas. Já os que não tinham nenhuma expectativa para o futuro, eram colocados nas últimas turmas. Porém, essa regra vem sendo quebrada com o passar do tempo.

Muitos pais ficam indignados pelos seus filhos não serem colocados em uma turma no qual eles julgam ser digna, e muita das vezes acabam subornando até mesmo o diretor para que mudem de turma.

E isso acabou misturando todos os alunos. Mas mesmo assim, minha família nunca admitiu que eu fosse de qualquer outra turma a não ser a primeira.

— Nos esforçarmos tanto para no final ficar na turma de alguém como o Jones. — Ela bufou ao notar o nome do garoto na lista. — Fala sério! Como ele conseguiu passar de série? Achei que seria expulso depois da sua última pegadinha com o diretor. — Falou se referindo a Ethan Jones. O garoto que posso considerar o pior tipo de pessoa para se envolver, seja em namoro ou amizade.

Me lembro até hoje o quanto ele foi insensível ao rabiscar o quadro de sua falecida esposa, no último dia de aula do ano passado. Era visível no olhar do diretor o quanto ele ficou abalado com aquilo. Ainda mais por não poder fazer nada sobre isso já que os pais do menino o ameaçaram caso ele sequer cogitasse expulsá-lo.

— Certamente os pais arranjaram o jeito de fazê-lo continuar aqui. — Declarei, ainda analisando a lista de alunos. — Vejo que temos muitos alunos novos. Você, como vice-representante, pode ficar encarregada de apresentar a escola para esses alunos?

— Claro! Mas achei que você faria isso. — Falou, enquanto caminhávamos pelos corredores em busca de nossos armários.

— Eu tenho milhares de assuntos para resolver ainda hoje. Não sei se consigo cuidar de tudo. — Suspirei ao me lembrar das palavras que saíram da boca de meu pai em nosso café da manhã.

— Relaxa. — Uma de suas mãos tocou o meu ombro. — Nem sempre conseguimos dar conta de tudo. É por isso que o vice-representante existe. — Ela abriu um sorriso largo, mostrando seus dentes brancos e grandes.

— Tem razão. — Dei um sorriso fraco, parando no meio do corredor dos armários analisando cada um dos números na tentativa de achar o meu, quando de repente alguém esbarrou com tudo em mim, me fazendo derrubar o que estava em minhas mãos.

Por um momento, quando olhei para cima me deparando com aqueles imenso olhos verdes, me perguntei se estava em um romance extremamente clichê onde a mocinho esbarra na mocinha e ela derruba os livros. Mas ficou claro que eu não estava quando ele simplesmente colocou seus fones de volta no ouvido e saiu andando.

— Ei! Você não esqueceu de nada, não? — Chamei sua atenção, incrédula com a situação. Ele voltou a sua atenção para mim, tirando os fones de ouvido. O garoto possuía a pele negra em um tom claro. Seus cabelos eram cacheados em um corte onde os lados eram baixos e a parte de cima com cachos bem definidos e volumosos. Seus olhos eram amendoados e verdes, seu nariz estilo asiático e seus lábios inferiores pesados.

Me perguntei se ele podia ser real de tão perfeito.

— Está falando comigo? — Ele falou com um tom de ironia, revelando uma voz suave e baixa. O garoto arqueou sua sobrancelha, esperando uma resposta da minha parte.

— Com quem você acha que eu estou falando? — Bufei, me abaixando para recolher meus livros.

— Não sei, depende muito. Vai que você é esquizofrênica. — Deu de ombros, virando seu corpo por completo em minha direção.

— Você é tão engraçadinho. — Fingi uma risada falsa, organizando os livros em uma pilha. — Não acha que me deve um pedido de desculpas? — O menino juntou os lábios em um bico e franziu as sobrancelhas. Parecia confuso.

— Você que está no caminho e eu que lhe devo desculpas? Que mundo é esse? — Falou e logo em seguida se virou, seguindo seu caminho pelo imenso corredor.

Imediatamente me virei para Olivia, que possuía um olhar tão confuso quanto o meu. Quem era aquele menino? E quem ele estava pensando que era para falar comigo daquele jeito?

— Um aluno novo, provavelmente. — Olivia se abaixou ao meu lado, tentando me acalmar. Provavelmente a minha raiva estava tão transparente que ela percebeu.

Odeio primeiros dias de aula.

— Ele vai passar a entender as regras dessa escola hoje mesmo. — Abri o armário que tinha o pequeno número nove ao lado, coloquei todos os meus materiais incluindo a mochila e fechei com toda a minha força.

— Sabe, eu acho que o armário não tem culpa. — Olivia declarou, ao me ver andando apressada em direção a diretoria.

Estava disposta a descobrir quem era aquele aluno e colocá-lo no lugar dele. Se ele estava achando que podia me tratar daquele jeito e sair empune, estava muito enganado.

Não era porque ele possuía uma beleza surreal de tão incrível, que podia tratar as pessoas do jeito que quisesse.

Bati na porta do diretor e esperei o seu consentimento para entrar. Assim que entrei, pude notar o olhar fundo e cansado do mesmo.

— Bom dia senhor diretor. — Ele voltou a encarar os papéis em sua mesa ao notar que era eu.

— Bom dia, Mya. Como está? — Me estendeu uma pilha de papéis e pastas. — Aqui está tudo que precisa fazer para hoje. Sabe como é os primeiros dias, né? Bastante trabalho para resolver.

— Eu... estou bem. — Respirei fundo, pegando a pilha de assuntos pendentes. — Eu estou perfeitamente bem. — Forcei um sorriso.

Odeio primeiros dias de aula.

A Maior Conquista: O AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora