64. O mito de Platão.

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No intervalo, Noah veio se sentar conosco. O menino não me encarava de jeito nenhum e parecia muito irritado comigo. Mas é óbvio, era amigo de Mike. Mike provavelmente contou o que aconteceu a ele e o loiro ficou ao lado do amigo. Não o culpo.

Me senti meio que excluída pois eles falavam de diversos assuntos e quanto eu tentava me encaixar em um deles, Noah sempre me cortava e prosseguia a conversa com uma outra tese.

Eu ignorava aquilo tudo. Não podia culpa-lo. Comia tentando encher a minha boca para não me sentir desconfortável por não estar falando nada. Até que ao longe, avistei Mike sentado sozinho em um banco. Ele estava distante com seus fones de ouvido, tinha um tempo que não o via de fones. Desde o início das aulas, para ser mais exata. Seus braços estavam apoiados nos joelhos e sua cabeça baixa. Me perguntava o que se passava em sua mente naquele momento.

O menino ergueu a cabeça e olhou para o lado, onde os seus olhos foram em direção aos meus, pela segunda vez no dia. Desviei o meu olhar para Noah, que se encontrava em minha frente. Noah revirou os olhos e eu suspirei.

— Noah, qual é o seu problema? — Coloquei a caixinha de suco na mesa com muita força, encarando o menino com uma expressão brava.

— Nenhum. — Ele virou o rosto para o outro lado, com um bico formado nos lábios.

— Você fica aí me olhando com essa cara feia! Me cortou em todos os assuntos e nem ao menos dirigiu a palavra a mim hoje! O que está acontecendo?

— Você é uma destruidora de corações! — Me acusou, me encarando novamente. — Sua destruidora de corações!

— Você pode, por favor, parar de tomar as dores do seu amigo e entender os dois lados? — Respondi, calmamente.

— Eu vou sair de perto de você antes que destrua o meu coração também. — Virou o rosto novamente para o lado e se levantou com a sua bandeja na mão. — Vou para a aula de filosofia porque eu prefiro ouvir sobre Platão, do que ouvir a sua voz! — E assim ele foi embora, parando perto de Mike que se levantou e foi com ele.

— O que que deu nele?! — Perguntei indignada. Pegando a minha bandeja e indo entregar no refeitório. As meninas vieram logo atrás, com uma expressão desentendida.

— Bom, Mike contou a ele tudo que aconteceu. Noah está do lado de Mike. — Hilary respondeu, defendendo o namorado.

— Olha, sendo bem sincera, nós também estamos do lado dele. — Olivia respondeu, me fazendo parar quase de imediato. Encarei as meninas que tinham um olhar inocente. — Desculpa, Mya. Te amamos, mas ele não tem culpa.

— Tudo bem, eu consigo viver com isso. — Respondi ao ver que não mudaria muito coisa ficar debatendo. Acho que todos estavam do lado dele e minha opinião não importava muito.

Quando deixamos as bandejas lá, nos dirigismo até a sala de aula para a última aula do dia. Que era a que eu mais temia.

E se caso o professor não aceitasse me deixar fazer a prova? E se a justificativa de meu pai não foi o suficiente para me ajudar? Será que o diretor falou com ele?

Me sentei na cadeira sentindo a ansiedade correr pelo o meu corpo. Amassei os dedos uns nos outros, tentando aliviar de alguma forma todo aquele nervosismo.

Alguns alunos voltavam do intervalo,  quando o professor entrou pelas portas com uma expressão séria, fazendo o meu estômago revirar.

— Bom dia, hoje o assunto é um pouco complexo então já vou fazer a chamada para começarmos a falar sobre ele. — O homem sentou na cadeira, colocou a pasta sobre a mesa e a abriu, falando cada um dos nomes.

Assim que encerrou, eu decidi que o melhor seria falar com ele no final da aula. Ele parecia muito apressado e com pouco tempo.

— Bom, o assunto que vamos tratar hoje ainda é sobre Platão. Dessa vez, vamos abordar "O banquete". Que é uma narrativa, onde são expostos vários discursos a respeito do amor. — Ele anotou no quadro a palavra "amor", bem grande. — Os filósofos, nesse contexto, buscam a ideia do que é o amor. — Ele abriu um sorriso, colocando a frase "O que é o amor" ao lado, ligando com uma seta. — Diotima diz que o amor leva o ser humano a buscar a beleza, Sócrates afirma que o que se ama é somente aquilo que não se tem, "O amor é a falta". Fedro diz que o amor é o que mais aproxima os homens da essência do que é belo, Eriximaco afirma que o amor não está apenas nas almas dos homens, mas também em outras partes, como animais, objetos e plantas. Agatão atribui ao amor todas as perfeições inimagináveis.   — Ele colocou o nome de cada um deles no quadro. — A questão é, juntando a ideia desses homens, eu gostaria de saber qual é a ideia que cada um de vocês possuem sobre o amor. — Anotou mais uma vez no quadro a frase "O que é o amor para você?". — Vocês vão anotar no caderno e depois vão compartilhar uns com os outros a ideia do que é o amor. — Ele pegou um livro enquanto os alunos pareciam super envolvidos tentando descobrir a melhor definição para um sentimento tão intenso.

O que é o amor?

— Enquanto vocês buscam o que é o sentimento, vou contar a vocês o mito da alma gêmea, que se encontra nesse mesmo livro. — Ele se levantou novamente, só que dessa vez, com o livro na mão. — Esse mito, criado por Platão, diz que os homens foram criados como seres completos. Com duas cabeças, quatro braços e quatro pernas, isso permitia que suas atividades fossem mais eficientes. Porém, o orgulho dos homens aumentou, achando-se mais superiores do que os deuses. Desafiaram os deuses, mas enfim, perderam, sendo castigados por Zeus. — Eu observei ao meu redor vendo o quanto todos pareciam interessados. — Com a espada, Zeus dividiu os homens ao meio. Os homens foram enviados a terra separados da sua outra metade. E desesperados, buscam a sua outra parte, sofrendo com a falta um do outro. — O professor carregava uma empolgação nunca vista antes. — E por essa razão, homens e mulheres buscam até hoje a sua outra metade, esperando um dia, estarem completos novamente.

Eu voltei o meu olhar para o papel, assim que achei que ele havia terminado. Mas não, ele voltou e prosseguiu com o seu diálogo.

— Ah, quase me esqueci. — Abriu um sorriso no rosto. — Dizem que quando uma alma encontra a outra, se torna uma unidade. E não existe alegria maior do que estar completo. Alguma vez já se sentiu completo? — Ele terminou de dizer, trazendo uma pergunta reflexiva no final.

Alguma vez... se sentiu completa?

A Maior Conquista: O AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora