16. O que tem de tão errado assim comigo?

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Assim que coloquei os pés dentro de casa, minha mãe, meu pai e meu irmão me encaravam com uma preocupação imensa nos olhos.

— Meu Deus, filha! — A mulher ruiva correu em minha direção e me esmagou com os seus braços. — Onde estava? Por que não ligou? Meu Deus! Eu fiquei tão preocupada!

Por cima dos ombros de minha mãe, pude ver o olhar desconfiado de meu pai. Provavelmente me faria diversas perguntas das quais eu estava cansada demais para responder.

Me sentei no sofá ao lado da mulher que ainda me encarava preocupada, como se eu ainda não estivesse ali.

— Onde você estava? — Sua voz grossa e ríspida surgiu no ar me causando um arrepio. — Por qual motivo chegou tão tarde?

— Eu... acabei ficando presa na escola. — Larry ergueu uma das sobrancelhas. — Eu estava treinando Chopin na sala de música, mas por alguma razão, não escutaram. E eu acabei presa a noite inteira. — abaixei o meu olhar ao me sentir pressionada com tantos olhos. — Eu tentei ligar, mas uma chuva muito forte começou e acabou levando a energia da escola.

Ambos me encaravam como se eu fosse uma completa mentirosa e fiz tudo aquilo para ir em algum balada próxima. Aquilo que causou uma angústia muito grande.

— Ok. — Disse simplesmente. — Vá se trocar. — O homem falou por fim, e subiu as escadas em direção ao seu quarto, onde bateu a porta tão forte, que causou um estrondo.

Minha mãe o seguiu logo depois. Ela abriu um sorriso fraco e abaixou o olhar, subindo as escadas.

— Não culpe ele. — Larry começou a dizer assim que o silêncio se instalou no quarto. — Ele achou o pior.

— O que seria o pior pra ele? Eu estar em alguma balada ou, não sei, beijando várias pessoas por aí? Será que o pior é eu estragar a imagem da família em uma única noite? — Perguntei em um tom irônico.

— Você estar morta. — Cruzou os braços com um semblante sério. — Esse é o pior pra ele. Por mais que não pareça.

Um silêncio pousou sobre a sala. Ele falou de uma maneira tão firme, que eu abaixei a minha guarda.

— Por mais que não pareça Mya, ele se preocupa com o nosso bem estar. — Larry deu duas batidinhas em meu ombro, e se retirou da sala de estar.

Eu estava exausta e cansada de tudo o que aconteceu hoje. Resolvi ir para o quarto e tomar um banho enquanto tentava absorver tudo.

Mike foi muito empático hoje.

Posso te contar uma coisa interessante? — Eu assenti, pois naquele momento, sua voz estava sendo um alívio. — Se um relâmpago surgir e você começar a contar os segundo até o som do trovão, depois dividir esse número por 3, vai descobrir aproximadamente a distância em quilômetros que o raio caiu. — Ele dizia isso de forma tão segura, que me impressionou um pouco. — É claro que você já deve saber disso, afinal é muito inteligente. Mas estou aqui te lembrando. — Sorriu amigavelmente. — Talvez se começar a contar o segundo assim que um relâmpago surgir no céu até o barulho, e depois dividir por 3, vai saber que ele caiu bem longe de você. E assim, talvez, o medo diminua. — Ele apoiou novamente o queixo sobre a minha cabeça. — E assim eu não terei que ficar te consolando. — Ele riu um pouco.

Eu gostei desse lado dele. Será que agora por algum milagre poderíamos nos tornar amigos? Deixar as diferenças de lado e finalmente conseguir realizar o que o meu pai tanto quer?

(...)

— Nunca imaginei que diria isso. — Margaret começou a falar assim que eu terminei de tocar. — Mas você aprendeu as pausas. Isso é um milagre.

Aquilo não me fez tão bem assim. Pois eu estava perdida na imensidão dos meus pensamentos. Ou melhor, estava perdida nos acontecimentos de hoje mais cedo.

...

— Eu não aceito isso Ava! — Meu pai berrava na cozinha logo pela manhã. — Por que Mya não consegue seguir os passos de Larry? É tão difícil para ela fazer o que ele faz? — Ele parecia muito irritado. — Olha o texto gigante que Margaret me enviou dizendo o quão sem talento ela é. Segundo ela, Mya não sabe o que são pausas!

— Você precisa se acalmar Adam. — A mulher tentava amenizar a situação. — Ela está se esforçando.

— É para onde está indo esse esforço todo? Ela não ganhou nem o concurso de poesias do ano passado. O resultado saiu hoje e adivinha? Ela não ficou nem entre os 10 colocados. Larry se inscreveu nesse concurso e ficou em primeiro lugar logo na primeira vez que realizou. Eu não consigo entender o que fiz de errado na criação dela.

Meus olhos estavam tão embaçados por conta das malditas lágrimas que insistiam em descer.

"Eu não consigo entender o que fiz de errado na criação dela"

O que tem de tão errado assim comigo?

Só por que talvez eu não seja tão boa assim com a música? Ou por que eu não sou capaz de ganhar os concursos de primeira? Ou será que é por que eu não sou Larry?

...

— Mya? Você está me ouvindo? — Margaret tentava chamar a minha atenção mas sua voz parecia mais um zumbido em um silêncio muito perturbador.

— Sim. — Saí do tranze me lembrando de que ainda estava em aula.

— Hoje você foi melhor, mas ainda não acredito que esteja melhorando. Um exemplo disso é a sua concentração, que está péssima. — Recolheu os seus pertences e depois me encarou, dizendo. — Até a próxima aula. — Saiu da sala me deixando ali, sozinha.

Por que sou tão... Eu? Por que ser eu se tornou tão ruim? Por que de repente me sinto assim?

A Maior Conquista: O AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora