48. Tudo pelo o quê? Um aplauso?

79 18 19
                                    

Passei mais ou menos uma hora com Mike em ligação. Ele me contou tudo sobre o seu final de semana, disse que o pai o pertubou para ver um jogo de basquete do Lakers contra o Warriors, falou que o pai não parava de gritar o nome do Lebron James enquanto pulava o agarrando.

O garoto estudou muito para me dar orgulho, e também passou grande parte do dia tocando na sala que disse ser da sua mãe. Ele disse que sentiu a minha falta e que ao tocar as canções, me imaginava sentada do seu lado com a cabeça apoiada em seu ombro, apenas o observando tocar.

Quando eu desliguei avisando que precisava estudar, ele contestou muito mas entendeu. Disse que eu o trocaria mais uma vez pelos estudos, mas que ainda gostava de mim.

Sentei em minha mesa de estudos e coloquei uma música clássica na caixa de som, músicas clássicas sempre me ajudam na concentração. Passei as próximas quatro horas revisando os mesmo conteúdos da semana inteira. Repetindo exercícios até chegar no limite.

Levei uma das mãos em minha cabeça, ao sentir uma pontada. Provavelmente uma enxaqueca. Peguei o celular para ver as horas, eram exatas oito e quarenta da noite. Uma notificação ocupou a tela.

Acabei de encerrar os meus estudos, e você? Estou contando os segundo para essa prova! — Era Alex. O menino estava tão animado para isso que eu me sentia cobrada.

Me sentia pressionada em ser a melhor para que não viesse prejudica-lo. Eu sabia o quanto aquilo importava para ele. É caso eu não fosse boa o suficiente, ele pagaria por um erro que nem é seu.

Acabei o meu também. Boas vibrações! — Enviei, bloqueando o celular. O coloquei lentamente na mesa, sentindo as batidas do meu coração mais fortes. Olhei para as minhas mãos trêmulas, mas a visão estava turva por conta das lágrimas. Eu sentia uma terrível vontade de vomitar. Uma ansiedade tão forte despertou dentro de mim, que eu não tive escolha a não ser senti-la.

Me levantei da cadeira, sentindo que minhas pernas não estavam firmes. Caminhei lentamente em direção a cama, aonde eu me sentei com as pernas cruzadas, tentando recuperar a minha consciência.

Você não vai conseguir.
Por que ainda vai tentar?
Acha mesmo que é capaz?

Um turbilhão de pensamentos dominavam a minha cabeça. Eu não conseguia me estabilizar, estava desesperada.

— Não, para... — Soltei como em um sussurro.

Você é tão incapaz que sinto vergonha!

— Para com isso! Não é verdade. — Gritei tentando abafar as vozes da minha cabeça. — Não diz isso!

Sua incom...

— Mya! Calma, Mya. Tá tudo bem. — A voz foi interrompida. Ela não falava mais, não me atormentava. Ela foi interrompida por uma mais grave, a voz de Larry. — Tá tudo bem irmã, eu tô aqui com você. Nada disso é verdade, você não precisa escutar o que sua mente diz. — Encostou a minha cabeça em seu peito, enquanto agarrava o meu corpo para um abraço. — Nada disso é verdade.

— Eu não sou boa. — Os soluços surgiram. — Eu sou tão ruim assim..? — Minha voz saiu tão fraca que senti pena de mim mesma naquele momento. Como alguém podia se deixar chegar a esse nível? Como alguém podia se cobrar tanto ao ponto de colocar em risco a sua saúde mental? Tudo pelo o quê? Um aplauso? Olha só o que um aplauso e uma única validação faz com uma pessoa...

Eu preciso tanto assim desse aplauso?

— Você é o ser humano mais forte que eu conheço. — Beijou o topo de minha cabeça.

Ele está mentindo.

A voz tentou mais uma vez.

Enfiei o meu rosto em seu peito, tentando afasta-la com todas as minhas forças.

— Você vai conseguir e provar para essa voz o quanto é capaz. — Disse calmamente, me apertando contra o seu corpo na tentativa de me consolar.

(...)

Deitei a minha cabeça no travesseiro, observando o teto com as constelações. Abracei o urso de pelúcia, tentando me sentir mais segura.

Larry ficou uma grande quantidade de tempo aqui, até me incentivar para descer e jantar. Eu tentei comer, mas minha garganta estava com um nó tão grande que a comida não desceu, então preferi não forçar.

Não estava tão nervosa quanto antes, mas mesmo assim ainda me sentia tremendamente mal. Como se embebedar e sentir todos os efeitos no dia seguinte, era dessa forma que eu me sentia. Eu estava sentindo os efeitos cruéis da ansiedade.

Eu rolei para um lado, rolei para o outro e nada do sono vir. Não conseguia parar de fazer a minha mente pensar nos problemas. Até que escutei uma batida na porta.

— Posso entrar? — Não me esperou responder, apenas entrou é se sentou na beira da minha cama. — Como está se sentindo maninha? Eu trouxe um copo de água. — Me sentei na cama  pegando o copo com a água.

— Acho que estou indo. — Respondi, observando a água balançando por todos os lados no copo.

— Tem tempo já? — Ele perguntou e eu entendi perfeitamente ao que se referia.

— Tem sim. — Abaixei a minha cabeça, me sentindo mal por me permitir passar por aquilo. Por ser tão fraca e não conseguir dominar as minhas próprias emoções.

— Eu sinto muito por ter passado tudo isso sozinha. — Ergui o meu olhar, notando a expressão do menino. — Eu estava tão cheio de mim que não percebi o quanto você precisava de um apoio. — Soltou o ar. — Nossa, eu me sinto tão mal por ver você passar por praticamente tudo que eu passei. Eu queria que tivesse uma forma de quebrar esse destino, você não precisa fazer isso, Mya. Não precisa de tanta cobrança assim. Você merece paz, poxa! Ele não tem o direito de interferir assim na sua vida! — Ele carregava uma indignação no seu tom de voz. — Por favor, você precisa fazer alguma coisa por você. — Colocou uma de suas mãos em meu ombro, o que me fez encara-lo. — Eu queria ter tido alguém para me dizer isso... você pode quebrar essa maldição hereditária. não tem que provar nada para ninguém além de si própria. E acho que você já tem provado para si mesma o quanto é forte. — Abriu um sorriso consolador, se levantando da minha cama. — Boa noite maninha, dorme bem.

A Maior Conquista: O AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora