28. O que estou fazendo?

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Narrado por Mya.

Passei o dia trancada em meu quarto pensando em tudo que aconteceu hoje, recebi algumas mensagens me chamando para o dever de representante mas não senti a mínima vontade de fazer nada. Algo me incomodava e eu sabia perfeitamente o que era.

Era ele.

Será que estava bem? Como será que passou o dia? Eu não tinha como saber se ele estava bem ou se ainda estava tomado pela tristeza.

Minha noite terminou assim, agoniada com a incerteza.

— O que está fazendo? — Meu irmão surgiu e se sentou ao meu lado ao notar que eu apenas trocava os canais da televisão tentando afastar os pensamentos.

— Não sei. — Respondi, ainda com o olhar preso na tela, parando em um canal de desenho animado. Era um desenho que assistia quando menor com Larry, Phineas e Ferb.

Por incrível que pareça, Larry tinha tempo livre quando menor, um tempo de 10 minutos mas ainda sim tinha.

— Esse desenho me traz algumas lembranças tão boas, mas ao mesmo tempo tão problemáticas. — Ele fez uma careta e eu soltei uma risada baixa. — Me lembra de você mas também da cobrança que eu colocava em mim por conta do papai. — Seu sorriso se desfez e eu concordei com a cabeça.

— Tudo que envolve o papai precisa ser problemático. — Larry riu e encarou a tela da televisão.

— Esses garotos são tão inteligentes que eu me forçava a me igualar a eles. Construía coisas, estudava dia após dia e não consegui me igualar a esses mini gênios. — Deixei de encara-lo e voltei a olhar o desenho. — Por um momento, o meu eu mais jovens se esqueceu que eram personagens fictícios.

— Mas você alcançou um nível de inteligência muito grande. Eu diria que é quase impossível supera-lo. — Sorri ao ver que ele deu uma leve risada.

— Você tentou por muito tempo, não é? — Cruzou os braços esperando a minha resposta. Aquilo não foi uma afronta ou uma forma de demonstrar que ele sempre estava no topo, como costumava fazer. Daquela vez, soou como "por que tentou fazer isso? Por que gastou seu tempo com algo tão banal?"

— Sim, bastante. E sabe, ainda gostaria de ser um orgulho para o meu pai. — Observei os dois meninos fictícios do outro lado da televisão, com mais um plano genial.

— Pensa pelo lado bom, agora sou uma decepção junto com você. — Ele riu e sua risada me fez rir mais do que a piada. Ele parecia mais leve agora que não tinha aquele peso todo que o papai colocava sobre ele. Mas eu não estava leve, ainda queria um dia, uma chance de chegar no nível que ele chegou. Incrivel como queremos sempre aquilo que mais precisamos batalhar para ter, e as vezes nem chegamos a alcançar

— Agora que parei de seguir o que ele quer, comecei outro curso na faculdade. Como ele se recusou a pagar, gastei todas as minhas economias e paguei tudo de uma vez. Não trabalho mais na empresa e talvez precise de um novo emprego. Ou seja, estou falido. — Riu mais um pouco e depois abriu um leve sorriso. — Mas estou feliz. Pobre, mas feliz. — E assim ele se ergueu do sofá e antes de sair, bocejou e se virou para mim. — Boa noite, maninha. Sugiro que vá dormir também, está com o semblante cansado.  — E assim, ele se retirou do lugar, me deixando pensativa.

Ele estava disposto a perder todos os benefícios que tinha desde a infância para realizar finalmente o seus sonhos. E mesmo perdendo tudo e indo contra o papai, ele estava feliz. Porque entendia que algumas vezes precisamos abrir mão de certas coisas para realizar nossos sonhos.

Senti os meus olhos pesados e aos poucos se fechando. E de adormeci com todo aquele cansaço do dia.

(...)

— Finalmente, representante! — Assim que adentrei as portas do grêmio com 30 minutos de atraso, a chamada que o diretor me deu, foi o suficiente para todos que estavam ali direcionarem seus olhares em minha direção. — Você por acaso ainda liga para esse cargo? — Seu olhar de repreensão caiu sobre o meu rosto, e aquilo pesou mais do que o normal em mim.

Me sentia pesada ao ponto de sentir meus joelhos bambos com o peso do corpo inteiro. Um turbilhão de pensamentos se apossaram da minha mente, e um pensamento especifico martelava sem cansar: "Está vendo? Você nunca fez e nunca fará o suficiente."

— O que eu estou tentando fazer mesmo? A quem estou tentando agradar? Tem certeza que está tentando agradar a si mesma, Mya? O que estou fazendo? O que está fazendo com a sua vida? — Eu repetia para mim mesma, com as mãos nos joelhos e a cabeça baixa. Vendo cada lagrima rolando pelo meu rosto e caindo direto no chão.

Senti um toque em minhas costas mas não me movi, estava tentando recuperar a minha mente de volta, o meu corpo e a minha alma. Estavam perdidos e acredito que se distanciaram do caminho. Uma voz firme, feminina, soou na sala me fazendo cair em si.

— Foi buscar os formulários importantes que eu pedi, não é representante? — Olivia massageava minhas costas como forma de consolo. Ela sabia o que estava acontecendo, e pensou em um jeito para acabar com aquilo.

— Sim. — Falei com o resto de firmeza que me restava.

— Ah sim, e onde estão? — Perguntou com toda desconfiança.

— Ela não deve tê-los achado, eu os escondi bem. — Deu uma leve risadinha. — Se me permitir, vamos nos retirar para procura-los. Bom trabalho para o senhor. — E assim ela me puxou da sala e eu me permiti ser levada. 

Olivia não disse nada e não olhou para trás, apenas me puxava até chegarmos em uma sala que estava em reforma. A menina colocou as duas mãos em meus ombros e me fez encara-la, sem hesitar, me abraçou tão forte que me senti sufocada.

— Por que você é assim? poxa! Por que não diz quando tem algo errado com você? Olha só o seu estado! — A garota dizia tudo aquilo berrando, como se estivesse magoada por eu estar escondendo toda aquela tristeza, e quanto mais gritava, mais me apertava.

A Maior Conquista: O AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora