51. Você é a culpada.

60 18 33
                                    

Ali, encarando aqueles olhos enfurecidos, uma coragem surgiu dentro de mim. Ergui o meu rosto me agarrando a essa coragem.

— Ele é a pessoa que fez mais por mim em um tempo de mais ou menos três meses, do que você fez a vida inteira. — Cuspo as palavras, sem me importar mais com nada. Eu não estava nem aí se fosse o ferir, ele já me feriu tantas vezes que não era possível contar nos dedos. Quem se importa com os sentimentos dele? Ele não tem consideração alguma pelas emoções dos outros.

— Você enlouqueceu? — Ele gargalhou como se aquilo fosse a piada mais engraçada do mundo.

— Não, pai. Estou em sã consciência. Quero ser amada por ele, quero que ele me ame... Pai, eu gosto tanto dele e sou muito grata por tudo que ele tem feito por mim. Ele tem um cuidado tão especial pela minha vida que se ao menos o senhor vi... — Me interrompeu com mais uma risada.

— Você quer ser amada por ele? Que ironia! Como alguém tão insignificante pode ser amada? — Aquelas palavras entraram como agulhas afiadas, que atravessaram o meu peito até chegar ao coração. Era isso que ele pensava? — Você não é digna nem do amor de um delinquente, Mya.

— Para com isso, Adam! — Ouvi o grito de minha mãe. Sua voz estava chorosa e o seu grito foi quase como um pedido de misericórdia.

— Não é atoa que ninguém dessa família consegue viver o amor. E sabe o porquê disso? Nessa família o amor não existe, Mya. — Sua expressão era fria. Ele já não se importava mais com o que pensariam dele, só precisava manter a sua vontade acima da nossa. Mesmo que para isso tivesse que ferir o meu coração.

— Por que você faz isso? — Praticamente sussurrei.

— Estou abrindo os seus olhos. Não existe amor! As pessoas não amam, elas se aproveitam uma das outras, é assim que vivemos! Então vê se você abre os seus olhos para o que realmente importa, a sua vida! — Ele agarrou o meu braço e me fez encara-lo no fundo de seus olhos. — Se você não me escutar, vou mandar esse garoto para o outro lado do mundo.

Eu estava apavorada. Nunca lidei com o esse lado tão assustador de meu pai. Nomalmente ele costumava manter seus demônios mais controlados.

— Larga ela agora! — Larry surgiu de repente no quarto, empurrando o nosso pai para longe, me colocando atrás dele. — Não encosta nelas!

— O filho rebelde quer mostrar bom serviço? — O homem abriu mais uma vez o seu sorriso medonho.

Eu me sentei na cama sentindo as minhas pernas bambas. Já não ouvia mais suas vozes pois estava imersa em minha mente. As vozes começaram a surgir, me lembrando do quanto eu era horrível.

Você é a culpada por tudo isso, não está vendo?

— VOCÊ É UM PÉSSIMO PAI! COMO TEM CORAGEM DE DIZER COISAS TÃO DETESTÁVEIS ASSIM PARA SUA FILHA? — Larry berrou, me tirando do transe.

Eu me sentia tão fraca. Não tinha forças nem sequer para parar com aquilo tudo.

— E COMO VOCÊ TEM CORAGEM DE SE DIRIGIR ASSIM COMIGO? — Sua voz era mais assustadora que a de Larry, era mais forte e tenebrosa, não tinha como brigar com aquilo. — Você por acaso se esqueceu que ainda mora na minha casa? Eu posso fazer você sair daqui a hora que eu bem entender.

— Então me faça sair! Me expulsa de uma vez! Não é possível que não tenha um coração batendo aí dentro... — Larry estava nitidamente abatido com aquilo tudo. — Não é possível que você seja esse monstro. — Ele mantém os olhos firmes, desafiando o homem. — ME EXPULSA ENTÃO! ANDA!

— Como pode existir filhos tão ingratos assim? — O homem fechou uma das mãos ao lado do corpo. Ele a fechou de maneira tão bruta que era possível enxergar as suas veias. — Vocês terão o que merecem! — Deu um soco muito forte na porta do meu quarto.

— Eu não aguento isso. — Me levantei, obrigando as minhas pernas a se firmarem. Passei pelo homem, correndo na tentativa de fugir dos problemas.

Desci as escadas e corri em direção a porta, ainda ouvindo os escândalos em meu quarto. Os funcionários me olhavam com pena e alguns pareciam espantados com a situação.

Passei pela porta correndo como nunca antes. Fugindo de todos os meus medos e tudo aquilo que me atormentava, como se minha vida dependesse disso. Lágrimas escorriam pelos meus olhos descontroladamente, eu enxergava embaçado por conta delas, mas lutei para continuar seguindo o meu caminho.

(...)

Observei a escola de longe. Alunos entravam e saíam com sorrisos no rosto. Não tinha condições para me misturar no meio deles. Dei a volta e entrei por trás do colégio. Eu sabia exatamente onde escondiam a chave reserva, então entrei pela cozinha e caminhei pelos corredores vazios. O som alto do lado de fora quebrava o silêncio do lugar. O baile estava acontecendo na quadra mas o meu objetivo não era chegar até lá.

Entrei na sala de música sentindo o cheiro do ambiente. Paz e calmaria. Era isso que aquele lugar me transmitia.

Fechei a porta vendo o lugar sendo tomado pela escuridão. Me sentei no canto do sofá, me permitindo ser afundada por todo aquele mar de emoções.

Você é a culpada.

A Maior Conquista: O AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora