23. Assunto proibido.

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— Caramba eu nem acredito que consegui tocar! — Eu dizia animada, saíndo da sala de música juntamente com Mike.

— Você tocou a música inteirinha. — Ele também parecia animado.

— O que estão fazendo? — Ouvi a voz de Hilary e me virei em direção a voz, vendo Olivia e Noah ao seu lado, nos encarando com olhares desconfiados.

— Estávamos na aula de música. — Declarei, sentindo que estava fazendo algo de errado por conta do olhares.

— Mike você é da aula de teatro, por que estava na aula de música? — Olivia semicerrou os olhos, encarando o menino.

— É verdade. E ainda disse que ia no banheiro para escapar da aula. — Foi a vez de Noah acusar.

— Não sou muito fã de teatro. — Deu de ombros.

— E porquê estão juntos? — Hilary jogou a bomba que todos eles estavam se questionando. Era nítido no olhar.

— Vem cá, isso é um interrogatório? — Mike fez uma careta entediada.

— Você está sozinho com a nossa amiga! — Olivia respondeu.

— E..? — Perguntou com uma das sobrancelhas arqueadas. — Ela também é minha amiga.

Aquela simples frase me fez encara-lo, surpresa. Ele me encarou de volta e sorriu. Um formigamento muito forte percorreu por todo o meu estômago me fazendo desviar o olhar.

— Então agora ele faz parte do grupo? A gente nem gostava dele e você resolve enfiar ele assim?! — Hilary bufava igual uma criança de cinco anos que não recebeu o doce que queria.

— Noah não fazia mais parte do grupo e você enfiou ele. — Apontei para o loirinho que parecia gostar da ideia de ter mais um homem no grupo.

— Xeque-mate. — Olivia declarou por fim.

(...)

Salut mes amis. — Falei assim que sai da aula de francês e avistei todos eles sentados no banco do pátio com uma cara de bumbum. A mesa estava repleta de folhas e canetas.

— Volta a falar inglês e ajuda a gente nessas questões do reforço de matemática. — A colorida parecia exausta de tanto pensar.

— Então quer dizer que aceitaram ele? — Disse quando notei Mike sentado ao lado deles, com questões de matemática também.

— Fazer o que.

— Tenho que dar monitoria agora, mas se quiserem eu ajudo depois das minhas duas aulas. — Apoiei a mochila em um dos bancos e guardei os livros de francês.

je ne peux plus prendre de cours — Mike declarou quando o silêncio havia se estacionado no local.

Todos os encararam como se ele fosse de outro mundo. Não entendi completamente o que ele disse, mas era algo sobre não aguentar mais alguma coisa.

comprend moi? — O sotaque francês era tão perfeito que se eu não o conhecesse, diria que veio de lá.

— Você fala francês? — Perguntei, completamente surpresa.

— Minha mãe era francesa e me obrigou a aprender seu idioma quando era menor. — Deu de ombros com um sorriso. Como se aquilo fosse uma memória boa.

— Por que disse "era"? — Me arrependi de ter perguntado no mesmo instante em que as palavras saíram. O sorriso que estava em seu rosto foi sumindo aos poucos, e o vi engolir a seco enquanto desviava seu olhar.

Parecia desconfortável com aquilo, talvez porque para ser gentil como estava sendo, devesse responder a pergunta, e era nítido que não queria responder.

— Eu... — Começou a dizer. — Eu não devo satisfação alguma da minha vida. — E assim se levantou da mesa, e foi em direção as salas de aula.

Tentei chamá-lo mas algo me dizia que aquilo não devia ser resolvido agora. Agora ele era outra pessoa, a pessoa que eu não gostava. A pessoa que usava a ignorância, grosseria e a raiva para esconder uma camada enorme de dor.

— Eu acho que você tocou em um assunto proibido. — Hilary foi a primeira a dizer, com um semblante meio abalado.

— Tocou sim. — Noah declarou, com os olhos vidrados no corredor por onde o menino se foi. — Segundo as notícias da época, a mãe de Mike, Diane Lewis, morreu em 2019 um ano depois de ser diagnosticada com um tumor no pâncreas. No tratamento era necessário uma cirurgia de alto risco, na qual ela fez e não resistiu. — Eu prestava atenção em cada palavra que ele dizia. Me sentindo insensível por ter tocado em um assunto tão confidencial. — Dizem que ela sabia que não ia resistir e escreveu duas cartas antes de ir para a cirurgia. Uma para o marido e outra para o filho.

Me sentei no banco da mesa sentindo uma imensa necessidade de ir agora ao seu encontro e o abraçar. Uma necessidade de tirar toda dor que com certeza ele ainda sente, assim como fez comigo.

(...)

Depois de dar a monitoria de Liam, era a vez de Mike, assim como combinamos. Mas aí dez minutos se passaram.

Vinte minutos se passaram.
Meia hora se passou.
Mais quarenta minutos.
Uma hora completa se passou.

E ele não apareceu.

E talvez eu esteja tão mal em relação a minha pergunta de mais cedo, que não consigo de jeito nenhum sentir raiva por ele não ter aparecido.

Juntei as minhas coisas e estava caminhando em direção ao portão principal para ir embora. Quando passando pelo corredor das aulas extracurriculares, ouvi uma melodia.

Eu não reconheci a música, mas reconhecia exatamente quem estava fabricando ela.

Bati na porta da sala, ouvindo a música cessar. Ele não mandou entrar e não se aproximou da porta para abri-la. Ele não queria abrir e eu não queria tomar essa iniciativa. Estava com medo. Senti um medo muito estranho de vê-lo magoado por minha causa.

Nunca me importei em magoar ninguém. As vezes era ensinada a fazer isso para alcançar minhas metas e minhas conquistas. Mas sabe, quando meus amigos e ele surgiram em minha vida, sinto medo de magoa-los. Sinto medo da ideia de perde-los.

E agora, ali, eu sinto medo de perde-lo. Sinto medo de não me querer mais por perto por conta desse pequeno erro.

Quando estava pensando em mil jeitos de fazê-lo me perdoar, a porta se abriu e lá estava ele, me encarando com os olhos inchados e a bochecha repleta de lágrimas.

Ele não estava me ignorando, ele estava escondendo essa parte sensível dele de mim. Mas por alguma razão, decidiu que esconder era em vão.

A Maior Conquista: O AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora