18. Que bom que desceu.

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Não apareci na monitoria.
Nem na escola no dia seguinte.
Nem nas aulas extracurriculares.
E nem na monitoria novamente.

Não tinha ânimo. Algo se apossou de mim e não queria de forma alguma me deixar reagir. Eu estava a um passo de simplesmente deitar e desejar não acordar mais.

Pela primeira vez em toda a minha vida, vi que eu não sabia lidar com todas as minhas responsabilidades. Pela primeira vez, vi que talvez não conseguiria realizar todas as minhas conquistas. Pela primeira vez, não fazia sentido as coisas.

"Você vive por validação"

Era a única coisa que ecoava em minha mente.

— Mya? Papai e mamãe estão preocupados com você. — Larry falou assim que bateu na porta do quarto. — E eu também estou... — Completou, assim que percebeu que eu não responderia. — Tudo bem se não quiser falar. Eles não estão em casa, tá bom? Se quiser sair para comer alguma coisa ou sei lá, desejar uma companhia, pode sair do quarto.

Como mais uma vez ele não obteve uma resposta, desistiu de tentar e se afastou da porta do quarto.

Meus pais devem estar uma fera por eu ter faltado tantos compromissos em um único dia. Meus amigos, os professores e os alunos devem estar preocupados. E talvez Larry esteja também, ele tem demonstrado se importar.

Afastei a coberta do corpo e coloquei os meus pés no chão. Passei o dia inteiro na cama então consequentemente, passei o dia de pijama. Minha cara estava horrível, meus olhos fundos de tanto chorar, meu rosto todo amassado e os fios vermelhos completamente desorganizados.

Fui em direção ao banheiro e lavei o rosto. Prendi o cabelo em um rabo de cavalo bem preso e escovei os dentes.

Desci as escadas e encontrei o que menos esperava ver.

Larry estava chorando.
Chorando mesmo, de soluçar.

Quando ele ouviu o barulho dos meus passos, nem se importou em limpar as lágrimas do rosto.

Me aproximei do menino, por pura vontade. Meus pés se moviam calmamente em sua direção. Nunca havia o visto chorar, aquilo era novo para mim.

— Que bom que desceu. — Ele sorriu fraco. Seus olhos estavam tão fundos quanto os meus. Seus cabelos tão bagunçados que parecia ter dormido o dia todo. Sua guarda estava tão baixa que eu senti que algo grande aconteceu.

— Você não parece bem. — Me sentei ao seu lado no sofá e ele sorriu mais uma vez.

— Nem você. Irônico, não? A diferença é que eu já passei dessa parte que você ainda enfrenta. Estou em um nível um pouco mais complicado. Um nível que sinceramente, está acabando comigo. — Respirou fundo.

— Nunca achei que algo pudesse realmente acabar com você. — Falei, espantada. Ele riu baixo e seus olhos começaram a encher de lágrimas.

— Acabou comigo quando eu fui forçado a me encaixar em um lugar do qual eu não pertencia. Acabou comigo, quando precisei forçar sorrisos e fingir que tudo estava sob controle quando, na verdade, eu estava desmoronando por dentro. Acabou comigo quando virei motivo de chacota na escola, pelo fato de ser tão inteligente que ninguém me queria por perto e ainda diziam "esse garoto é ridículo, vive humilhando a gente por achar que sabe demais", ou então "O queridinho dos professores, não quero gente assim perto de mim". Percebi que doía quando chegava todos os dias esgotado psicologicamente por doar toda a minha energia em coisas que eu não fazia nem questão de praticar. Percebi que estava me ferindo quando eu precisei dar tudo de mim para alcançar uma perfeição inalcançável. Qualquer erro era motivo para a minha ruína. Percebi que meu momento perfeição chegou ao fim quando hoje, recebi a notícia de que fui traído pela minha noiva.

Quando ele declarou as últimas palavras, arregalei meus olhos em total surpresa.

Ele... Ele foi traído? O senhor perfeição foi... traído?

Lágrimas, descontroladamente, caíam de seu rosto. Ele estava sem chão. Estava inconsolável.

— Como..? Como isso é possível, Larry..? Como? — Vê-lo naquele estado tocou a minha alma. Vê-lo abatido daquele jeito, me fez chorar.

— Sabe, as pessoas me olham e acham que eu sou forte o tempo inteiro. Mas eu não sou, Mya. E ter o seu momento de fragilidade faz parte do ser humano. Mas aparentemente eu não sou um ser humano, sou um robô. Um robô que foi programado para agir como eles querem. Fui programado para ser perfeito e isso incluí não mostrar fraqueza. — Ele pegou um lenço e limpou os olhos inchados. — Anne foi a única coisa que me obrigaram a fazer e eu realmente me entreguei depois. Eu a amava de verdade. Sempre fui sincero com ela em relação aos meus sentimentos e ela aparentemente era sincera com os dela. Mas não, ela nem sequer gostava de mim. Porque se não foi capaz de ser sincera comigo, e decidiu que trair a minha confiança seria melhor que me dizer a verdade, ela não se importava.

Um silêncio pairou sobre o lugar. Ele não parecia querer mais falar, então era a minha vez de dizer. Mas o que dizer ao seu irmão que não é tão próximo assim de você e que acabou de ser traído?

— Eu sinto muito. — Eu disse apoiando a minha mão sobre a dele. — Eu realmente sinto muito.

— Eu sei que sente. — Ele sorriu, mas era um sorriso tão cansado e entristecido. — Você sente porque passa pelas mesmas coisas que eu. O que me oprime, agora quer te oprimir. Você não pode se deixar levar assim como eu, Mya. Mesmo que você vá contra todos, siga aquilo que você acredita, aquilo que o seu coração verdadeiramente almeja. Não seja como eu, não me tenha como um espelho. — Ele engoliu a seco ainda olhando nos meus olhos. — Sabe, eu vejo um grande potencial em você. Vejo que você vai quebrar o que eu não consegui.

— Larry, você não precisa fingir ser perfeito. Olha só para você. Olha quantas coisas conquistou sem muito esforço. Como pode dizer isso? — Me levantei indignada. — Eu sim fui pressionada. Você não tem noção do que é ser pressionado. — Caminhei em direção ao meu quarto e encostei a porta sentindo meu coração sair pela boca.

A Maior Conquista: O AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora