37. Não posso agora.

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Paguei o meu sorvete e me despedi de Alex enquanto eu tentava achar o meu celular, me lembrando que havia o esquecido na casa de Olivia. Fiz sinal a um táxi e passei o endereço da casa dos Lewis para o motorista.

Eu nunca achei que um dia estaria dentro de um táxi desesperada para chegar até Mike. Mas vê-lo daquele jeito foi de partir meu coração. Me senti errada e um monstro por ferir alguém que estava sendo tão gentil agora comigo. Meu coração se compadeceu de uma tal forma que eu tive a certeza de que aquilo era um dos sintomas.

Não tinha como não ser. Não gosto de vê-lo mal. E não apenas isso, não gosto de vê-lo chateado comigo, isso parece me ferir mais do que as palavras duras de meu pai.

— Obrigada, bom trabalho. — Paguei o motorista e me retirei do carro parando em frente a porta de sua casa.

Um frio na barriga começou a tomar conta. Por que me sinto assim a qualquer coisa relacionada a ele? Não... eu sabia o porquê disso. Não tinha como não ser...

Toquei a campainha da casa e aguardei até que um homem bem alto apareceu com um sorriso no rosto, que o fazia franzir um pouco o nariz. Mike tinha essa mania as vezes. Sorria franzindo o nariz, o que o deixava fofo.

— Bom noite... — O senhor me analisou um pouco até que deu um berro em surpresa, o que me fez tomar um susto e dar alguns passos para trás. — Você é a filha dos Campbell, não é? — Eu balancei a cabeça positivamente, ainda me recuperando do susto. — Entra minha querida. Deve estar atrás do Mike, né? Por alguma razão sinto que você é a causa da mudança dele. — Ele levou uma das mãos em meu ombro e me fez andar pela casa.

— Creio eu que a mudança partiu dele. — Tentei me afastar um pouco, mas foi em vão.

— Mas as vezes precisamos de alguém que puxe, não é verdade? Muito obrigado por puxar ele. — Se afastou de mim, parando em frente a uma porta de madeira. — O quarto dele é esse. Ele chegou meio estranho hoje e eu não entendi muito o motivo. Preferi acreditar que era por conta da escola e só estava cansado. Se ele te tratar mal é só me gritar. — E assim se retirou me deixando pensar em como gritaria ele sem ao menos saber seu nome.

Pensei por uns segundos se deveria bater na porta. Até que a porta se abriu em minha frente, revelando um Mike sem camisa, com uma bermuda preta e os cachos um pouco desarrumados. Eu virei um pouco o rosto tentando disfarçar a minha vergonha, enquanto o garoto parecia muito confortável.

— Você aqui? Na minha casa? — Ergueu uma das sobrancelhas, parecendo surpreso. — O que faz aqui?

— É... eu vim... — levei uma das mãos ao pescoço, o coçando como se tivesse algo ali. — Eu só vim me certificar se você está... bem.

— Estou ótimo. — Respondeu, ríspido.

Eu o encarei tentando entender o porquê de estar me tratando daquela maneira. Achei que finalmente estávamos nos entendendo e por conta de um erro, ele me condena dessa maneira?

— Eu sinto muito por esquecer da nossa aula, e sinto também pela monitoria. — Eu tentava me desculpar. O menino apenas balançava a cabeça, sem nem ao menos me olhar nos olhos. — Se quiser você pode me ajudar agora. Não tenho mais nada pra fazer o resto do dia... — Tentei mais uma vez.

Me encarou por mais alguns segundos. Eu virei o rosto me sentindo extremamente mal. Era como se ele estivesse me acusando por todas as coisas que eu fiz hoje.

— Não posso agora. — Respondeu simplesmente.

— Ah... mas por quê? — Comecei a sentir uma sensação muito ruim de perda. Como se ele estivesse tão distante agora, que podia ser comparado ao Mike que conheci no corredor da escola. O Mike que não se importava e que nem fazia questão da minha presença. E por alguma razão, ele não fazer questão da minha presença me incomodava.

— Acho que isso não cabe a você saber. — Respondeu, cruzando os braços e apoiando o corpo no batente da porta.

Senti meu coração naquele momento errando uma batida. Como se tivesse desaprendido a bater. Abaixei minhas mãos ao lado do corpo e o encarei. O encarei, sendo invadida por uma sensação horrível de culpa. Culpa por o ter magoado o suficiente para não me querer mais por perto. Por que eu faço isso? Por que acabo sempre fazendo as pessoas se afastarem? É por conta disso que nunca mantenho ninguém por perto.

— Mike? Por que está me tratando assim? — Suspirei, tentando segurar as malditas lágrimas que ameaçavam descer. Abaixei a cabeça tentando desviar daqueles olhos frios que me encaravam.

— Mya, eu acho melhor você ir emb... — Ele não terminou pois seu pai surgiu ao meu lado, colocando uma das mãos em meu ombro, com um sorriso no rosto.

— Mya, você vai ficar para o jantar, não é? — Perguntou alegremente, me encarando e logo após encarando Mike.

O meninos desviou os olhos, como se estivesse deixando eu decidir. Eu não me sentia confortável naquelas condições. O garoto não me queria por perto e eu devia me conformar com isso. Nunca fomos amigos, era apenas um contrato que fizemos. Apenas negócios.

Por alguma razão aquilo doía. Como nunca doeu antes.

— Sabe senhor Lewis, eu acho que devo ir agora. Meus pais estão me esperando e vão ficar preocupados. — Recusei gentilmente.

— É só avisá-los! Tenho certeza que vão deixar. — Insistiu.

— Eu até gostaria mas esqueci meu celular na casa de uma amiga. — Tentei mais uma vez recusar.

— Não seja por isso! Eu mesmo aviso a eles. — Ele se afastou de mim e saiu em direção oposta a nossa. Me deixando ali completamente paralisada, ao lado de uma estátua de cera, de tão frio.

A Maior Conquista: O AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora