49. Amar em meio ao ódio.

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Evitei estudar naquela manhã de segunda-feira. Hoje seria o dia do baile e eu não pretendia chegar lotada de energia negativa. Eu precisava me divertir, esvaziar a minha cabeça ao lado das pessoas que gosto.

Então apenas decidi cuidar de mim o dia inteiro. Chamei o meu irmão e o obriguei a faltar a faculdade naquela manhã.

— Você acha que eu tenho a sua vida? — Me questionou.

— Por favor maninho! Preciso de uma companhia e você precisa hidratar esse cabelo. Um diazinho, vai. — Implorei, juntando as mãos uma na outra em forma de petição, com um bico no rosto.

— Você não tem amigas não? Elas provavelmente estão se produzindo também. — Ele juntava as coisas dele para ir a faculdade.

— Olivia foi trocar as tranças e Hilary está fazendo as unhas. Eu não tenho ninguém! — Retruquei.

— E aquele seu amigo lá? O loirinho que sabe tudo da minha vida. — Colocou a mochila nas costas já indo em direção a porta.

— Noah está planejando uma declaração de amor!  — Me coloquei em sua frente, ainda implorando com os olhinhos do gato de botas.

— E Mike? — Ele respirou fundo, totalnente sem paciência. Eu abaixei as mãos ao lado do corpo, pensando no quão ruim seria trazer Mike para cá. E se meu pai desconfiar que somos alguma coisa? E se ele resistir a isso? E se caso expulsar Mike? Não podia deixar que Mike conhecesse esse lado ruim dele.

— Não acho que seria uma boa ideia. — suspirei. — Tá tudo bem, eu entendo que você está super dedicado aos seus estudos, não vou obriga-lo. — Me retirei de sua frente, vendo a sua desconfiança.

— Vai me deixar ir mesmo? — Arqueou uma das sobrancelhas e eu assenti para o menino. — Então tá bom, tchau. — Passou por mim.

— Não era para você ir! Segue o roteiro caramba! É para ficar com pena de mim! — Fingiu não ouvir, abrindo a porta e saindo por ela. — Pra que serve irmão?

Estava indignada ainda olhando para a porta da sala, quando me virei e dei de cara com o meu pai.

— Ah, bom dia pai. — Abri um sorriso rápido.

— Bom dia minha filha. Está indo estudar? Espero que esteja. Está ciente que sua prova é amanhã, né? — Perguntou com um semblante sério. O senti me pressionar.

— Estou sim, pai. — Abaixei a minha cabeça. De alguma forma ele conseguia sugar todas as minhas energias.

— Mya. — Chamou a minha atenção, me olhando no fundo dos olhos. — Tem algo que queira me contar?

— Algo..? — Seu olhar frio se mantinha firme.

— Sim. Tem algo? — Insistiu.

— Não, não tem. — Será que ele sabia de alguma coisa? Eu fiz algo que possa o decepcionar?

Mike.

Mike surgiu em minha cabeça como resposta da sua atitude repentina. Será que ele sabe de Mike?

— Tudo bem então. Estou indo para o meu escritório, caso precise de alguma coisa, é só chamar. — Saiu da sala de estar, caminhando em direção ao seu escritório.

Senti uma ansiedade imensa correndo pelas minhas veias.

Ficou tão furioso que olhou nos meus olhos e disse "seu moleque, você vai aprender que jamais deve me desrespeitar". E ofereceu uma proposta aos pais para outro país, como uma oferta agradável.

E se ele tentasse... tirar Mike de mim? Acho que Mike foi uma das melhores coisas que aconteceu em minha vida, depois de uma grande quantidade de tempo. Se ele retirasse essa parte boa da minha vida, tenho medo de todas as outras chegarem a um desequilíbrio anormal.

Peguei o meu celular e disquei o seu número. O celular chamou uma, duas e no terceiro toque ele atendeu.

— Olá, senti saudades e acho que o disque dois não resolveria, então optei pelo atendimento mais rápido. Será que o atendente Mike Lewis pode resolver a minha questão? — Brinquei, ouvindo uma risada alta do outro lado da linha.

— Mas é claro minha linda, aguarde uns minutos na linha. — Cantarolou uma musiquinha de espera enquanto eu segurava a risada. — Bom dia, no que posso te ajudar?

— Acho que estou com um caso sério de vontade de te ver. Não sei como resolver isso! — Continuei na brincadeira.

— Simples, venha me ver. — O menino simplesmente saiu do personagem.

— Você saiu do personagem! — O acusei controlando a risada.

— Ah, me desculpa senhora. — Coçou a garganta. — Gostaria de marcar um encontro para resolver essa questão? — Falou, forçando um pouco mais a voz.

— Infelizmente não posso. — Ouvi um desânimo do outro lado da linha. — Só vou te ver mais tarde. Preciso adiantar algumas coisas antes do baile. — Caminhei de volta até o meu quarto, onde fechei a porta e me sentei com as pernas cruzadas na cama.

— Agora foi você quem saiu do personagem. — Fez um barulhinho de reprovação com a boca. — Mas agora falando sério, eu não aguento mais ficar  sem ouvir a sua voz, sem saber de você ou te ver. O que é que você fez?

— Não te conto os meus truques. — Sem perceber, eu já estava sorrindo por sua conta. — Mas saiba que é recíproco.

Um silêncio surgiu no ambiente, mas logo foi quebrado com sua voz.

— Eu pretendia contar só na hora do baile mas já que você me ligou, tenho uma surpresa pra você.

— Outra? Ainda nem terminei de comer os doces da cesta. Larry tá comendo a maioria. — Olhei para a cesta em cima da minha escrivania. As flores estavam no jarro do corredor e as cartinhas todas penduradas no quadro da parede.

Elas carregavam frases bem curtas como:

"odeie-me ou ame-me, ambas estão ao meu favor. Se vc me ama, eu vou estar sempre no seu coração; se voce me odeia, eu vou estar sempre na sua mente." do William Shakspeare

Ele me disse que adorava essa frase, principalmente porque no início, antes de nos apaixonarmos um pelo outro, eu o odiava e o sentimento era recíproco das duas partes. Mas o mais interessante é que ele passava a maioria do tempo em minha cabeça, assim como a frase diz. E eu também  passava a maioria do tempo na sua. Até que um dia eu passei a não estar somente na sua mente, mas também em seu coração. Aprendendo a amar em meio a todo aquele ódio.

A Maior Conquista: O AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora