17. Você vive por validação.

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— Você está bem? — Olivia foi a primeira a perguntar assim que eu me sentei na mesa. — Estamos sentindo você um pouco distante...

Na mesa estava Olivia, Hilary e Noah. Que mesmo tendo feito amizade com Ethan, gostava da nossa companhia.

— Distante como? — Abri um dos meus melhores sorrisos, tentando não deixar um clima ruim.

— Não sei, parece muito sobrecarregada. — Hilary afirmou, com um pedaço de papel em mãos. Que eu julguei ser as falas para a peça.

— Eu estou bem, gente. Não se preocupem. — Dei o meu melhor sorriso para que o assunto chegasse ao fim.

— Não acredito. — Noah falou me encarando de um jeito estranho. Os olhos bem fechados e a boca trancada, como se tentasse ler os meus pensamentos. — Você mente bem, mas um dia não vai conseguir mais aguentar tudo isso aí sozinha. — Disse simplesmente e levantou, se retirando da mesa do pátio.

Por algum motivo, aquilo entrou dentro de mim como uma facada. E antes a dor que tomava o meu coração, se intensificou ainda mais causando uma nuvem de ansiedade tão forte, que senti vontade de vomitar.

— Com licença, preciso ir ao banheiro — Me levantei depressa ouvindo a voz de Olivia tão longe de meus ouvidos, que foi impossível interpretar o que estava sendo dito.

Na minha cabeça um turbilhão de pensamentos se apossava aos poucos de mim. Pensamentos do tipo: Por que ainda tenta se você não recebe o mérito que merece? Por que ainda insiste em quem não dá a mínima para você? Por que não desiste de tentar?

Eu precisava de um lugar para fugir. Meu rosto estava tão quente e molhado. Meus olhos embaçados, minhas pernas bambas que por mais que eu tentasse, não conseguia firmar.

Foi quando eu ouvi aquela música.
A mesma melodia.
Os meus acordes.
A mesma perfeição em forma de som.
A mesma pessoa que possivelmente estava tocando.

Eu estava tão desesperada que por um impulso, bati na porta.

A música parou.
Ouvi passos em direção a porta.
Logo em seguida ela se abre e lá está ele. O dono do rosto perfeito, do cabelo perfeito, do sorriso perfeito e da melodia perfeita.

Por qual razão, naquele momento, eu o deixei me tomar pelos braços? Por qual razão eu o deixei que seus olhos preocupados me tomassem? Por qual razão ele estava sendo o consolo?

Mike me puxou para dentro e fechou a porta. O único som que soava pela sala era do choro abafado em sua roupa. Um choro que não conseguia mais ser mantido preso aqui dentro.

Revoltas;
Esforços completamente em vão;
Angústia;
Falta de um abraço;
Responsabilidades
E um possível esgotamento mental.

Tudo girava em minha mente me fazendo desejar até mesmo não querer nunca mais pensar em nada.

Algumas pessoas costumam dizer: você tem tudo. Uma boa casa, uma cama, comida, amigos, dinheiro e pais que te amam e fariam de tudo por você.

Mas e quando você tem tudo isso, e por algum motivo não parece ter nada disso? Que por algum motivo parece que te falta algo. Algo que você não tem ideia, mas sente que falta.

Talvez esse vazio sempre estará aqui dentro do meu peito.

Mike sentou nas almofadas da sala de música e me colocou ao seu lado, deitando minha cabeça em seu peito. Ele cantarolava uma melodia. Sua voz era como um calmante para o meu peito que batia de forma descontrolada. Minhas mãos que tremiam, agora estavam cobertas pelas suas mãos.

Quando percebi que tudo ao redor estava se estabilizando, me afastei dele, abraçando minhas pernas com os braços, e apoiando minha cabeça nos joelhos.

— Acho que você chorar no meu peito está virando rotina, não é? — Sorriu de forma amigável, tentando quebrar o gelo da situação. Mas percebendo a minha reação, não tentou me fazer rir com as piadinhas sem noção novamente. — Quer me contar o que aconteceu? — Virei o rosto para o outro lado, na tentativa de fazer ele entender que eu não queria falar. — Tudo bem, no seu tempo.

— Por que tá sendo legal comigo? — Perguntei, ainda com o rosto virado para o outro lado. — Depois de todas as nossas intrigas e desentendimentos...

Ele demorou um pouco a responder. Pensei até que não queria, mas de repente começou a falar.

— Sua presença me faz bem. — Ergui o meu olhar para ele, vendo toda sinceridade em seus olhos. — E ver que a presença que me faz bem está mal, não me agrada muito. — Sorriu de um jeito agradável. O mesmo sorrisinho só que de uma forma que nunca havia visto antes. De forma sincera e verdadeira. — O que posso fazer para te deixar feliz?

— Obrigada. Você já fez o suficiente. — Tentei me levantar, perdendo a força da perna e caindo novamente. Respirei fundo e fiquei ali mesmo.

— É realmente muito engraçado. — Me encarou de um jeito intrigado. — Como alguém que sorri tanto, está sempre a mil, todo tempo ajudando alguém, se dedicando e orgulhando as pessoas, pode estar tão quebrada a esse nível? — Aquilo me fez suspirar.

— Não estou quebrada. Eu estou bem! — Me levantei, o encarando furiosamente.

— Eu estou vendo o quanto você está bem. — Arqueou a sobrancelha, de forma irônica.

— Você pelo jeito desconhece momentos de fraqueza, não é mesmo? — Perguntei no mesmo tom de ironia.

— Pelo jeito eu desconheço mesmo. — Sorriu. — Sabe Mya, você é uma pessoa legal. De verdade, eu acho isso. Mas o seu único problema é tentar agradar todos ao seu redor. Você vive por validação. — O olhei de forma espantada. Ele estava dizendo coisas que não tinha a mínima ideia. — É duro ouvir isso, mas é a verdade. — Deu de ombros. — Enquanto você viver tentando se encaixar em uma coisa da qual não pertence a você, vai acabar perdendo o ser incrível que você esconde aí dentro. — Ele pegou os seus pertences e estava prestes a sair quando virou para trás novamente. — Sabe esse eu que aparece quando você está comigo? Talvez devesse deixar ele aparecer mais vezes. Não tem nada de errado não ser forte o tempo inteiro. Não tem nada de errado não ser perfeita a todo tempo. Não tem nada de errado em ser você mesma e aceitar isso.

A Maior Conquista: O AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora