10. Para você é fácil.

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— Você está bem? — Assim que entrei na sala de aula do Alex, notei o menino sentado em uma das cadeiras com um semblante nada bom. — Que pergunta idiota, é óbvio que não está.

— Estou bem sim. — O olhar do menino focou nos meus e eu pude notar a tonalidade roxa envolta de um dos seus olhos.

— Qual deles fez isso com você?! — Me aproximei brutalmente, notando o seu desconforto por eu estar tão próxima. — Me desculpa. Eu sinto muito por essa situação.

— Não é culpa sua se eles consideram tão errado assim ser inteligente e dedicado. — Ele deu um meio sorriso, olhando para os seus óculos em mãos. — Estou acostumado.

— Não deveria se acostumar com uma situação dessas. — Me afastei dele, indo em direção a um dos armários no canto da sala, onde provavelmente ficavam livros, kit de emergência e entre outras coisas. — Ninguém deveria se acostumar com isso. Se acostumar com humilhações diárias, com implicâncias por você ser quem é e até mesmo com agressões sem motivo algum. Acha que alguém deveria se submeter a uma coisa dessas?

— Não, não acho. — Ele abaixou sua cabeça, enquanto eu caminhava de volta até a sua mesa, com uma malinha branca em mãos.

— Então por qual motivo você ainda se submete a esse tipo de situação? — Abri o pequeno baú branco vendo algumas pomadas, curativos e até remédios.

— É complicado, Mya. Para você é fácil. — Ele fez uma careta e virou o rosto para o outro lado quando aproximei um algodão com algo que julguei ser para olho roxo. — Você sabe o que está fazendo?

— É claro que sei! — Virei o seu rosto para o meu lado, fazendo ele me encarar. — E porquê é mais fácil para mim?

— Bom, você não é só inteligente. — Ele desviava o olhar sem conseguir manter contato visual. — Você é linda, muito determinada e confiante. — Imediatamente minha mão parou de tocá-lo. Meus olhos se arregalaram e eu percebi o meu coração errar uma batida pela surpresa.

Eu não sei o que foi aquilo. Mas aquilo não foi normal.

Eu me senti tão estranha por finalmente ser elogiada por alguém. Normalmente quando me elogiavam era coisas do tipo "seu cabelo ruivo é lindo igual ao do seu irmão", ou "inteligente porque aprendeu tudo com Larry", ou pior "sua garra me lembra a de seu irmão".

Eu não sei bem o que senti naquele momento, mas ser elogiada sem que me comparassem com Larry, definitivamente me agradou muito e me fez sentir algo surreal.

— Admiro a maneira como você faz todo mundo gostar de você apenas com um sorriso. — O menino tomou o algodão da minha mão e o levou até o olho inchado. — E posso ser sincero? Um dos sorrisos mais lindo que eu já vi.

Eu precisei me agarrar na mesa pois aquilo me fez ir com tudo para trás e quase virar a cadeira junto comigo.

Meu Deus, ele gosta do meu sorriso?

— Enfim, é fácil ser tão perfeita assim. — Ele se levantou da cadeira e foi em direção a porta da sala. — Obrigada pela conversa, e bom, pelos cuidados. — Deu um meio sorriso, saindo pela porta logo depois.

O que foi que acabou de acontecer?

Ele acha mesmo que eu sou perfeita? Não, melhor, ele acha mesmo que é fácil ser perfeita?

Ser perfeito é uma luta constante em busca de algo que jamais pode ser alcançado.

Mas aos olhos dele eu era perfeita. Aos olhos de alguém, eu tinha alcançado a perfeição. Isso era inacreditável.

— O que você está fazendo aqui? — Hilary adentrou pela porta da sala enquanto eu ainda me perdia com os pensamentos confusos.

— O que você está fazendo aqui? — Perguntei de volta, vendo sua careta.

— Vim devolver os fones de Elisa, a menina do grêmio que é responsável pelos eventos da escola. — A garota passou por mim e foi até uma das mesas da parte da frente. — Ela é dessa turma.

— Entendi. — Me levantei da cadeira, tentando forçar meus pés a ficarem firmes. Por que raios estavam bambos?

— E você? O que faz sozinha nessa sala? — Ela voltou até mim, entrelaçando nossos braços.

— Gosto de pensar sozinha. — foi a primeira desculpa que surgiu na minha mente.

— Nas salas de outros alunos? Tá legal, você é estranha. — Ela encostou a porta e caminhamos juntas pelo corredor. — Estou tão cansada. — Jogou sua cabeça em meu ombro. — Eu quero fugir desse lugar.

— Infelimente você não pode fugir. — Por um momento me senti paralisada com o ato da menina. Não estava acostumada com tanta demonstração de afeto e carinho. Ela parecia tão a vontade e tudo que eu queria era afastar sua cabeça de meu ombro e tirar seu braço do meu. Mas por algum motivo que desconheço, não o fiz.

O que estava acontecendo comigo?

— Quem disse? Não preciso comparecer as últimas aulas se eu não quiser. — A colorida piscou um dos olhos.

— Acontece que agora você faz parte do meu grupo de amigos. Ou seja, você não mata aula mais. — Ergui as sobrancelhas, encarando ela.

— Eu não vou aguentar ter duas nerdolas como amigas. — Se afastou com uma careta.

— E eu não vou aguentar uma deliquentizinha como amiga. — Sorri pra ela, ouvindo sua risada.

— Oi gente. — Olivia surgiu entre a gente com um sorriso no rosto. — Preparadas para a aula de matemática?

— Ah não. Por favor fala que você tá brincando e na verdade a aula é de qualquer outra coisa que não envolve exatas. — Hilary afundou o rosto em suas mãos.

— Força guerreira. — Coloquei minha mão em seu ombro, tentando consolá-la.

— Eu vou matar aula. É isso, já me decidi. — Ela correu na nossa frente, desesperada para fugir daquele lugar.

— Não vai não! — Olivia correu atrás da garota na tentativa de alcançá-la.

A Maior Conquista: O AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora