15. Relâmpagos e trovões.

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Assim que ele colocou a mão na maçaneta e a inclinou para baixo, a porta não se abriu.

Ele tentou de novo.

Nada.

Mais uma vez. E só aí percebeu que estávamos trancados.

— Não é possível. — Reclamou, levando uma das mãos até os cabelos. — Eu tô muito ferrado. Como não escutaram o som dos instrumentos?

Me levantei e fui até a porta verificar se realmente estávamos presos.

— Meu Deus! Estamos presos! — Afirmei, surpresa.

— Ah, você jura? — Ele respondeu com um olhar fulminante.

— Por que você está tão ignorante? Achei que você estava sendo legal. Mas não, esqueci que estava falando sobre você. — O encarei, vendo-o revirar os olhos.

— Você é irritante. — Falou, se sentando ao lado da porta.

— Olha só quem fala. — Voltei a me sentar no piano, buscando o meu celular no meio das coisas. — Por sorte, eu tenho o número do diretor, então relaxa.

Ele afundou a cabeça entre as pernas e bufou. Tentei ligar o meu celular mas por algum motivo ele não ligava de jeito nenhum.

— Ah, não. — Reclamei.

— Ah não, o quê? — Perguntou, erguendo a cabeça.

— Acho que descarregou. Esqueci de botar pra carregar. — O menino me encarou incrédulo. — Por sorte, eu tenho o carregador aqui. — Sorri, pegando o carregador que estava perto da mochila. — Só temos que esperar uns minutos.

— Um minuto preso com você já é suficiente para enlouquecer. — Declarou.

— Por que não saiu assim que eu entrei na sala então? — Questionei, colocando o carregador na tomada e o encarando logo depois.

— Eu devia ter feito isso. Olha só eu enlouquecendo já. — Ele fez uma careta e se jogou no chão.

— Muito engraçadinho. Só pra deixar claro, eu também não sou nem um pouco fã de você, e mesmo assim, preciso olhar pra essa tua cara feia.

— Aí você forçou, né gatinha? Olha só pra mim. — Se levantou, indignado.

— Primeiro, para de me chamar desse jeito! E segundo, você é muito convencido.

— Tá, tá. Sua voz é irritante. — Bufou, indo em direção a uma estante que ficava no canto da sala.

— Babaca. — Revirei os olhos, sentindo uma certa raiva no peito.

Alguns minutos se passaram enquanto eu revirava as partituras e ajeitava uns papéis do grêmio. Uma chuva, que antes estava fraca, agora começava a ficar intensa e o meu corpo se arrepiava de frio e minhas mãos tremiam com medo de alguns trovões ainda baixos.

— Nossa que saco! Não aguento mais ficar preso aqui. Parece que meu oxigênio tá acabando. Para de respirar, pelo amor de Deus! — Ele fez um drama enquanto se aproximava de mim, se sentando ao meu lado no chão.

— Vou ligar o celular daqui a dez minutos. Não quero que ele vicie. — Respirei fundo, vendo a cara de descrente dele.

— É sério isso? — Perguntou.

— Muito sério. — O encarei. Naquele momento que meus olhos cruzaram com os seus, um arrepio correu pelo o meu corpo. Seus olhos pareciam esmeraldas de tão esverdeados. Sua pele era tão lisa que não precisava nem ser tocada para sentir. Seu cabelo formavam cachos tão perfeitos que era de se invejar. Eu mergulhava na imensidão daqueles olhos quando um barulho estrondoso fez com que a luz se apagasse.

Soltei um berro tão alto que se não explodiu os tímpanos dele, provavelmente causou algum dano. Me joguei sobre o menino sentindo o meu coração tão acelerado que poderia ser escutado a quilômetros de distância. Minhas mãos tremiam com o barulho.

Desde criança sempre tive pavor de trovões, raios e relâmpagos. Todas essas coisas. Minha mãe sempre dormia comigo em dias chuvosos. Fazíamos cabanas e comiamos doces, na intenção de me fazer esquecer dos trovões.

Um clarão se acendeu e logo em seguida outro barulho. Apertei tão firme as costas de Mike, que o escutei resmungar.

— Você pode me soltar? Estou sufocando. — Não conseguia me mover, estava tão apavorada que não conseguia nem ao menos pensar.

Mike, percebendo isso, passou um dos seus braços pelo meu ombro. Encostou minha cabeça em seu peito e apoiou o queixo sobre a minha cabeça.

Eu estava desabando. O pavor era nítido em meus olhos. Lágrimas escorriam descontroladamente pelo meu rosto enquanto eu tentava controlar a respiração.

Outro estrondo.

O abracei fortemente, tentando fazer a minha mente entender que aquilo não era tão perigoso quanto ela me fazia acreditar.

— Desculpa. — Ele sussurrou baixinho em meio aos barulhos da tempestade. — Não percebi que você realmente sente medo. Não tive empatia. Me perdoa. — Seus braços me aqueceram mais e mais. Senti seus dedos acariciando a minha cabeça.

Aquela altura, eu nem me importava mais. Só precisava de alguém para me lembrar que não estava sozinha.

— Posso te contar uma coisa interessante? — Eu assenti, pois naquele momento, sua voz estava sendo um alívio. — Se um relâmpago surgir e você começar a contar os segundo até o som do trovão, depois dividir esse número por 3, vai descobrir aproximadamente a distância em quilômetros que o raio caiu. — Ele dizia isso de forma tão segura, que me impressionou um pouco. — É claro que você já deve saber disso, afinal é muito inteligente. Mas estou aqui te lembrando. — Sorriu, amigavelmente. — Talvez se começar a contar o segundo assim que um relâmpago surgir no céu até o barulho, e depois dividir por 3, vai saber que ele caiu bem longe de você. E assim, talvez, o medo diminua. — Ele apoiou novamente o queixo sobre a minha cabeça. — E assim eu não terei que ficar te consolando. — o menino riu um pouco.

Me afastei ao ouvir que a chuva estava parando. Aos poucos, fui voltando e sentindo meu coração se acalmar. minhas mãos já não tremiam mais como antes. Eu estava voltando.

— Se acalmou? — Assenti, o vendo sentado de forma largada. — Que bom, porque eu acho que mais um pouco minha blusa não aguentava. — Ele mostrou o uniforme todo molhado com as lágrimas.

— Obrigada. — Sorri, sendo sincera. — Obrigada mesmo. — Tirei o celular da tomada, o liguei e logo procurei o número do diretor.

A Maior Conquista: O AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora