21. Mudanças.

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— Responde a pergunta que eu te fiz. — Se levantou e me forçou a encara-lo quando percebeu que eu estava desfocando o olhar.

— Sim, o melhor deles é ótimo. — Desviei o olhar.

— Responda olhando nos meus olhos. — Encostou a ponta de seu dedo em meu queixo, levantando a minha cabeça.

— Eu não tenho que te responder nada. — Afastei sua mão.

Ele recuou um pouco não sabendo nem como reagir. Se sentou novamente, respirando fundo.

— Você quer conversar? — Perguntou, erguendo os olhos.

Me sentei no banco de espera sentindo os meus olhos pesados. A minha mente parecia um verdadeiro furacão.

— No seu tempo. — Declarou. Naquele momento eu senti algo diferente. Ele sempre me proporcionava sensações diferentes.

E acho que por esse motivo, minha boca começou a falar como se já o conhecesse o suficiente para isso.

— Não sei como me sinto. — Ele saiu da banqueta e se aproximou ao ver que eu queria falar. Abracei o meu corpo e apoiei a cabeça nos joelhos, igual a uma criança amedrontada. — Eu só sei que não é um sentimento muito agradável. É como se sentir aprisionado. Como se fosse preso injustamente, sabe? — Ele assentiu, e eu prossegui. — Eu não me conheço mais. Os meus objetivos e tudo aquilo que eu almejo conquistar não me emociona mais. Tudo aquilo que eu construí e conquistei não foi nada, nunca é suficiente. E agora que surge a oportunidade perfeita de mostrar que eu posso me comparar a Larry, não me sinto tão motivada em passar por cima dele em um momento de fraqueza. — O encarei. Ele realmente estava me ouvindo. Era a primeira pessoa do mundo que gosta de me ouvir. E o mais engraçado disso tudo é que nem somos nada. — Larry não está bem. — Voltei a dizer. — Ele, assim como eu e até mesmo pior, precisou o tempo inteiro demonstrar o que não era. E agora com essa confusão toda, ele não quer mais demonstrar isso. — Limpei uma lágrima que rolou involuntariamente. — Papai queria o obrigar a casar com a moça, mesmo com toda a polêmica rolando. Ele não se importou com os sentimento do filho, a sensação que o menino estava de ser traído. E ver aquilo, me abalou. Meu pai não nos enxerga como seres humanos, e sim objetos exclusivos para o uso dele. — Ele fez um barulho com os lábios e arregalou os olhos, como se entendesse. — Mas eu ainda quero ser notada. Ainda quero que ele me enxergue como alguém que realizou grandes conquistas. Quero ser vista.

— Sabe, Mya. Talvez o erro do ser humano seja primeiro tentar agradar a todos, antes de si mesmo. Seja honrar primeiro a todos, antes de honrar a si próprio. Talvez esteja na hora de mudar isso. Mudanças são necessárias. — Ele passou as mãos em minha bochecha, limpando algumas lágrimas. Um sorriso se abriu em seus lábios. O mesmo sorriso caridoso que ele vivia escondendo de todos, menos de mim.

— Nunca fui muito fã de mudanças.

— Por que não gosta de mudanças? — Perguntou.

— Você nunca sabe o que esperar delas. Sabe, são como uma fatia de pizza. Você tem dinheiro só para uma pizza. Tem a chance de pedir a que você mais gosta e sempre compra, mas também tem a chance de comprar um sabor novo para experimentar algo diferente.

— Você escolheria a de sempre, tô certo? — Falou.

— Sim, pois é o sabor que eu já tenho uma noção de como é.

— Mas e se caso a pizza que você não experimentou fosse melhor do que a que você sempre pede? — Arqueou a sobrancelha.

— Mas isso é incerto. Gosto de coisas certas. — Balancei a cabeça para os lados como se fosse algo impossível de acontecer.

— E é por conta disso que você perde novas sensações. — O encarei. — Na vida, as vezes, a gente precisa arriscar um pouquinho. — Fez um sinal com as mãos, demonstrando a quantidade que precisamos arriscar.

— Não concordo com você. — Ri baixo.

— Não concordamos com muita coisa. Mas me parece que finalmente a gata e o cachorro estão se entendendo. Quem imaginaria que isso fosse possível? — Ele sorriu, me fazendo rir mais ainda.

— Quem imaginaria... — Rimos e algo veio em minha mente. — O que acha de começarmos de novo? — Estendi a minha mão, e pude ver o seu sorriso largo.

— O que eu ganho com isso? — Arqueou uma das sobrancelhas.

— Não deixarei de te dar aula nas monitorias e ainda posso te dar aulas extras. — Ele fez uma careta, como se aquilo não fosse nem um pouco bom.

— Essa não é uma proposta muito boa. — Balançou a cabeça, com um sorriso nos lábios.

— E em troca você pode me ajudar a melhorar minhas técnicas no piano. — O encarei como se aquela fosse uma proposta irrecusável.

— E ainda vou te dar aula? Não sei não. — Declarou.

— Ah, vai! Isso seria muito legal. — Empurrei seu ombro, vendo que ele queria rir.

— Ok, mas antes de aceitar... — Ele levantou e ergueu a mão para que eu levantasse também. — Você vai ficar me devendo um favor. Qualquer coisa que eu pedir.

— Qualquer coisa? — Pensei se aquilo era bom.

— Sim. Não vou pedir agora, mas quando precisar desse favor, você vai aceitar sem recusar. — Ele pegou uma folha de papel e uma caneta. Anotava algo enquanto eu pensava naquilo.

— Se o favor não for impossível eu faço. — Concordei e ele estendeu a caneta e fez menção para que eu olhasse o papel.

Lá estava uma espécie de contrato. Onde dizia que ambos iam ajudar um ao outro como forma de iniciar uma amizade. Tinha alguns termos que ele anotou mas não entendi metade por conta da sua letra horrorosa.

Assinei o meu nome juntamente com o dele e guardei o papel.

— Começamos hoje com a monitoria? — Ele sorriu.

— Você não sabe o quanto isso vai me ajudar. — Suspirei de alívio ao ver que pelo menos uma coisa estava dando certo.

— Eu tenho uma ideia. — Me encarou ainda com o sorriso. — Sei que o meu pai pediu para que me botasse na linha, talvez seja por isso que não gostei muito de você. Mas agora olha só, eu aqui concordando em ser colocado na linha.

A Maior Conquista: O AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora