50. Olhos repletos de fúria.

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— Por que não pediu para levá-la em um cabelereiro? Sou sua mãe mas não tenho dom nenhum para isso. — Minha mãe dizia, tentando soltar algumas mechas do penteado. Meu cabelo estava todo enroladinho por conta do babyliss, as mechas caíam ao lado do meu rosto em perfeitos cachos. Minha mãe levou duas partes do cabelo para trás, prendendo em um rabo de cavalo alto. A outra metade ela soltou, deixando os cachos. Colocou uma presilha que parecia um monte de folhinhas em forma de pedrinhas brilhantes, deixando o penteado ainda mais adorável.

— Para quem dizia não ter dom, ficou maravilhoso! — Eu me observei no espelho, vendo minha mãe com um sorriso contagiante.

Era incrível a nossa semelhança. Todos dizia o quanto Larry e eu éramos iguais a ela. Minha mãe era uma mulher muito forte, linda e dedicada. Sempre se se dedicou muito a sua família e ao trabalho, mas como todo ser humano, ela tem as suas limitações. Sua maior limitação era dar ouvidos ao meu pai, deixar que ele tomasse o controle de sua vida. Nunca sequer demonstrou a sua opinião porque a dele era suficiente. Mostrando assim, a sua enorme submissão. Era uma pena uma mulher tão incrível ser reprimida dessa forma.

— Você é linda. — Ela soltou de repente, com algumas lágrimas se formando em seu rosto. — Está tão grande... — Seu sorriso se desfez e foi difícil interpretar o que ela sentia. — As vezes eu nem acredito que você cresceu tanto assim.

— O tempo passa. — Me levantei da cadeira com a caixa do salto em minhas mãos. Eu não sei bem se sabia andar naquilo, mas estava contando com a sorte. — As coisas mudam. — Ela assentiu ao me ouvir dizer.

— As mães envelhecem, os filhos crescem. A lei natural das coisas. — Me sentei na cama e ela veio logo depois.

Coloquei o salto em meu pé e comecei a analisar tudo ao meu redor. Alguns pensamentos vieram como uma retrospectiva de tudo que aconteceu e está acontecendo. Das minhas primeiras memórias de mais nova até as minhas últimas lembranças de mais velha.

— Mãe, a senhora é feliz? — A encarei. A mulher parou de repente com a pergunta. Como se não estivesse preparado nenhuma resposta para aquela pergunta.

— Por que essa pergunta agora? Mas é claro que eu sou feliz. — Ela não era. — Minha vida profissional é ótima. — Ela não tinha amor em administrar empresas. — Tenho uma família perfeita. — Nossa família estava longe da perfeição. — O que mais eu poderia querer?

Eu poderia listar facilmente uma lista do que ela poderia querer ainda. Talvez um marido digno que realmente se preocupasse com o que ela sente ao invés de aparências, um marido que não a beije e a faça se sentir amada somente na frente das câmeras. Talvez um emprego onde ela não se sinta completamente sobrecarregada e o estresse acabe afetando a sua saúde mental. Um emprego onde não tomasse todas as horas da sua vida, assim ela poderia dar mais atenção aos filhos tendo a chance de vê-los crescer. Quem sabe também paz, sossego e tranquilidade? Quem sabe amor próprio? Ou então um mundo onde ela não tenha uma dependência emocional?

— Eu sei o que você está pensando. — Ela desviou o seu olhar de mim, com um sorriso tão fraco que era quase imperceptível. — E você tem toda razão. O que me fez aceitar uma vida tão repetitiva como essa? — Voltou o seu olhar para mim, e ela já tinha a resposta para aquela pergunta. — O meu amor por vocês. Desde que vocês tivessem uma vida boa, a minha não importava muito. Sei que erro diariamente por deixar ele controlar não só a minha vida como a de vocês também. Mas saiba que todo esse meu esforço foi por amor de vocês. E eu passaria por qualquer turbulência por vocês. — Ela limpou algumas lágrimas e naquele momento, foi a primeira vez que eu vi minha mãe com a guarda baixa. A minha mãe ferida pela vida, e que a todo custo tentava esconder essas marcas. A minha mãe que também sentia e não era só uma programação daquele monstro.

No momento em que eu peguei a mão da mulher para puxa-la em um abraço, a porta de me quarto foi aberta brutalmente. Causando um estrondo tão grande que eu dei um pulo de susto. Minha mãe levou a mão ao coração com tamanho barulho.

Lá estava meu pai, com os olhos repletos de fúria. Ele ficou uns minutos parado analisando a nossa reação até que seu olhar voltou para mim. O homem suspirou, como um leão prestes a atacar sua presa.

— Como ousa mentir para mim? — Soltou de repente. Sua voz era carregada de ódio e um medo enorme percorreu a minha espinha.

— O que está acontecendo, Adam? — A voz de minha mãe estava tão trêmula que me levou a crer que a situação estava séria.

— Cala a boca, Ava! O assunto não cabe a você resolver. — Ele pegou o seu celular e o virou para mim, mostrando uma foto onde eu e Mike...

Como ele tem uma foto onde eu beijava Mike..?

Um desespero maior ainda surgiu dentro de mim. Meu coração estava tão acelerado que eu o sentia saindo pela a minha garganta. Minhas mãos tremiam tanto que eu as apertei para esconder. Não conseguia falar, minha voz não saía de maneira nenhuma.

O homem se aproximou aos poucos e eu podia sentir o cheiro de sua ira.

O que eu fiz era tão errado assim?

— Quando eu disse para conserta-lo, eu não estava me referindo a essa vergonha que você está fazendo! Quando me contaram hoje mais cedo eu não acreditei! A minha filha com um imbecil e sem perspectiva de vida como aquele serzinho? — Parou em minha frente. Abaixei a cabeça vendo as lágrimas caindo sobre o meu vestido.

— N-não diz isso... dele. — Minha voz estava tão fraca que quase não foi possível ouvir.

— Como é que é? — Sua voz era mais firme do que a minha. Eu sentia as palavras ensurdecedoras novamente. O poder de cala foi devolvido a ele. — Diz para mim Mya, o que ele é então?

A Maior Conquista: O AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora