— Então você finalmente abriu a carta? — Eu perguntei assim que ele terminou de contar toda a história. Não conseguia acreditar que o garoto realmente estava se abrindo para mim. Falando de tudo aquilo que sentia e até mesmo o que estava com medo de sentir.
— Sim. — Suspirou. — Eu fiquei meio receoso de abrir. Me sentia culpado e minha mente a todo momento me acusava disso, mas eu arranjei uma força do além que me fez ler letra por letra.
— E como se sente agora? — Perguntei, como se tivesse necessidade de saber daquilo. Como se não saber, fosse doloroso demais para mim.
— Eu me sinto ótimo. Escrevi uma carta ontem também, como se estivesse conversando com ela, respondendo a sua carta. — Ele se perdeu um pouco nos pensamentos, com um sorriso lindo nos lábios. — Aquilo me ajudou bastante a organizar meus sentimentos.
— Eu fico muito feliz em saber disso. — Sorri, vendo ele começar a rir de repente. — Do que está rindo?
— É engraçado como agora nos damos bem. Quem diria que um dia iríamos nos entender? — Afirmei com a cabeça, rindo da sua observação. — E você? Como está, gatinha?
— Eu já disse pra parar de me chamar desse jeito. — Revirei os olhos, vendo ele tocar em uma mecha do meu cabelo. Ele colocou essa mecha atrás da minha orelha, encarando meus olhos enquanto sorria.
Aquilo me causou um arrepio da cabeça aos pés. Minha barriga de repente começou a revirar me deixando extremamente nervosa. Era como se meu corpo estivesse reagindo ao seu toque repentino.
O que é isso?
— Hum? Você ainda não me respondeu. Acha mesmo que eu não notei seus olhos vermelhinhos? — Ele pegou uma de minhas mãos, me incentivando a falar. — Tem a ver com o seu atraso hoje?
— Tem sim. — Respirei fundo, e prossegui. — Na verdade juntou um montão de coisas. Sabe, ontem eu senti que o meu relacionamento com o meu irmão mudou muito. Agora somos realmente irmãos.
— E como isso pode ser ruim? — Questionou, confuso.
— Acontece que ontem ele me contou o quanto se sentia bem agora, nessa nova fase da vida dele. Como ele estava feliz depois de deixar de cumprir as ordens do papai. Me contou o quanto se sentia livre por tomar suas próprias decisões e escolher os caminhos da sua vida agora. — Mike me observou atentamente. Era difícil me concentrar com os olhos dele vidrados em mim. — Digamos que eu esteja bem reflexiva sobre aquilo que quero para a minha vida agora. Se ainda pretendo me esforçar até acabar as minhas forças só para ter a atenção de meu pai, ou se pretendo colocar na minha cabeça que não preciso ser o orgulho dele, desde que eu seja o meu próprio orgulho.
— Sabia que meu pai era igual ao seu? — Ele soltou de repente, me fazendo encara-lo. — Quando minha mãe ainda era viva... — Engoliu a seco, como se falar da mãe ainda fosse difícil. — Quando ela ainda era viva, meu pai era bem difícil. Não dava o devido valor a ela, me forçava a seguir aquilo que ele acreditava para a minha vida, e gritava tanto quando eu deixava escapar as minhas vontades. Mas acontece que minha mãe não se rendia tão facilmente. Vivia discutindo por mim e talvez isso tenha agravado mais a situação dela. Por isso que foi tão difícil assim perdoar meu pai. Porque ele tem uma grande parcela de culpa no estado dela. — Ele olhou para a palma da minha mão e começou a brincar com os meus dedos. — Ele mudou. E mudou mesmo. É nítido o quanto a morte dela o abalou, e é nítido também o quanto ele se sente culpado. E o que eu quero dizer é, talvez seu pai um dia veja o quanto isso te faz mal. As vezes vai ser um pouco tarde que ele vai reconhecer, mas nunca é tarde demais para mudar.
— Tenho medo de que ele nunca mude. — Respirei fundo, olhando para os dedos que ele pressionava.
— Não vamos pensar assim. Vamos acreditar que ele ainda tem jeito. — Puxou a minha mão e me colocou de pé. — Agora sobre você, não aguento mais te ver se cobrando desse jeito. Você é uma só, Mya. Não pode fazer tudo ao mesmo tempo, precisa de descanso. Vamos refazer essa agenda pois você está muito sobrecarregada. Mas antes, vamos para a aula pois você já perdeu duas. — Ele entrelaçou os seus dedos com os meus e seguimos para a sala de aula.
O calor de sua mão reconfortava o meu coração. Aquele toque me fez lembrar que talvez, eu tinha alguém para contar nos momentos difíceis. E por incrível que pareça, esse alguém era Mike Lewis.
(...)
— Já avisei a minha mãe que vocês vão lá pra casa. — Olivia cutucava o celular com uma alegria contagiante. — Eu tenho tantas ideias meninas! Podemos passar no mercado e comprar uma penca de doces, assistir uns filmes com Skin Care no rosto, conversar sobre as coisas da vida e até jogar uns jogos!
— Mas eu achei que a gente ia dormir. — Hilary fez uma careta ao ouvir toda aquela lista.
— Eu ainda não avisei a minha mãe, um minuto. — Peguei o meu celular e me afastei um pouco de todos eles. Disquei o número de minha mãe, e escutei o celular chamando. — Mãe? — Escutei a sua voz do outro lado da linha. — Está tudo bem sim. — Olhei para os lados vendo que eles já estavam em cima de mim novamente, tentando ouvir o que ela falava. — Eu queria saber se posso dormir na casa dos Miller's hoje. — Os olhos deles de ansiedade quase me fez rir. — Olivia disse que empresta umas roupas dela. — Hilary pulava em ansiedade. — Não mãe, não vou usar calcinha dela! Posso comprar em uma loja. — Berrei, me esquecendo que os meninos estavam conosco. Me virei para trás, sentindo o meu rosto quente de tanta vergonha.
— Meninas dividem calcinha? — Ouvi a voz de Mike questionar.
— Achei que só os homens dividissem as cuecas. — Noah complementou enquanto eles gargalhavam.
— Tá bom mãe, eu vou te avisar quando eu chegar lá. Beijos, te amo também. — E assim eu tomei toda a coragem e virei para trás, vendo cada um deles segurando o riso. — Se alguém ousar rir da situação, eu juro que não vou perdoar. — Os encarei uma última vez, e me dirigi ao meu armário, ouvindo algumas risadas baixas.
Estava tirando os livros quando tomei um susto com a presença de Mike. Não percebi que ele veio atrás de mim, achei que havia ficado com o pessoal.
— Veio zombar da minha cara por conta da conversa sobre calcinha? — Ergui a sobrancelha.
— Não. — Riu um pouco. — Eu vim pegar o seu número. — O garoto estendeu o celular, com um semblante leve.
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A Maior Conquista: O Amor
RomanceAtingir uma meta ou um sonho muitas das vezes é uma tarefa bem difícil. Abrir mão de lazeres e das suas próprias vontades para conquistar o tão aguardado objetivo é bem complicado. Mas para Mya essa tarefa não era muito difícil, pois sempre soube ex...