Narrado por Mike.
Uma onda de nostalgia e um filme de lembranças se apossou de mim de uma forma tão intensa ao ver o tanto de coisas que ele guardou da mamãe. O quarto era imenso e estava com literalmente tudo dela. Cada canto estava preenchido com uma parte dela. Uma das paredes pintadas com sua cor favorita, roxo azulado, da cor de uma tanzanita. As outras paredes com um branco neutro mas com várias fotos e quadro pendurados, quadros que ela mesma pintava. Havia um quadro que eu quase não acreditei quando vi.
Eu achei que tinha jogado fora...
Me aproximei para ver o quadro todo colorido que pintamos juntos, quando notei o grande piano no canto da sala perto de um sofá, em perfeito estado.
Eu também não pedi para que se livrassem dele?
Retratos por todo o canto me fizeram perceber que ele recolheu tudo aquilo que pedi para jogar fora, não eram cópias, eram as coisas que eu tinha da mamãe. Todas as coisas que eu jurava que jamais veria novamente.
Meu desenho do dia das mães com uma rosa pendurada, chaveiros, o cordão com o pingente que carregava uma foto nossa... Tudo estava ali, inteirinho.
— Quando você começou a jogar tudo para fora completamente desolado, eu sabia que um dia você precisaria dessas coisas. Então eu as guardei, guardei os tesouros de sua mãe. — A essa altura, ele já se encontrava chorando. — Não tinha coragem de jogar tudo isso fora, mas era doloroso demais manter isso por perto, ter que olhar todos os dias para as suas coisas e saber que ela não se encontra mais aqui, acabava comigo. Então as trouxe para cá. — Ele pegou um pequeno espelho que minha mãe carregava de um lado para o outro em um dos bolsos. Ela era linda, mas era tão insegura que precisava a cada minuto saber como estava sua imagem, mas não tinha ideia do quanto era linda.
Costumavam dizer que eu tinha seus olhos esverdeados e os cabelos enrolados. Costumavam dizer também que eu tinha o mesmo dom de tocar a alma das pessoas com a música, e que o meu sorriso transmitia a mesma luz que o dela. Mas se um dia transmitiu, acredito que não tramita mais.
Quando ela se foi, um vazio muito grande se apossou do meu coração. Um vazio que era impossível ser preenchido. Nada mais fazia sentido, nada mais me fazia ansiar por viver. Os sonhos viraram bobagem e os planos foram frustados. Nada tinha sentido sem ela, o mundo se tornou sem sentido, sem um propósito.
Nem a música foi capaz de tampar o estrago.
— Toma. — Meu pai estendeu um envelope branco que ainda estava lacrado. O papel parecia gasto, estava amassado e um pouco empoeirado.— Guardei essa carta logo depois que você a amassou e jogou no chão, lembra? Achei que um dia fosse querer ler as últimas palavras de sua mãe.
Encarando aquele papel, me senti culpado. Culpado porque todos esses anos eu a todo custo tentei me livrar de toda memória de minha mãe. Fiz questão de apagar qualquer coisa que pudesse me trazer uma lembrança dela, até mesmo as músicas deixei de tocar por sua conta. Encarando aquele papel, um turbilhão de pensamentos tomou posse de minha mente. Cada um me acusava de ser um monstro que tentava a todo tempo fingir que ela nunca existiu.
— Não mereço isso. — Entreguei de volta a carta, e me retirei do local, sendo completamente tomado pela angústia.
A expressão de tristeza e preocupação nos olhos do meu pai foi suficiente para perceber que minha decisão era a errada. Mas não me sentia digno de ler os sentimentos de minha mãe depois do que fiz.
— Espera, filho. — Ele puxou o meu braço me fazendo voltar e encara-lo. Abriu uma de minhas mãos, pôs o envelope e a fechou. — Eu sei que esses pensamentos te acusam no momento, mas você não é o que eles dizem que você é. A sua forma de lidar com o luto foi se afastando, mas você percebe hoje que essa não foi a melhor forma. Não deixe a sua mente te apontar desse jeito. — Abriu um sorriso acolhedor e soltou minhas mãos, voltando para a enorme sala.
Olhei para aquele papel em minhas mãos e me questionei sobre tudo mais uma vez. Sobre o porquê de uma pessoa tão boa assim ter partido de maneira cruel como essa. O porquê eu precisei crescer sem uma mãe para me acolher nos momentos difíceis ou então porque esse tal Deus precisava mais dela com ele, do que ela comigo.
Por que um ser humano consideravelmente bom, sempre precisa enfrentar grandes desafios enquanto os ruins nem sequer pisam em um cocô na rua?
Quando me joguei sobre a cama ainda encarando o papel, senti uma tristeza muito forte em meu peito. Como se fossem lágrimas que há muito tempo estavam presas e nunca encontraram uma brecha pra sair.
— A senhora não tem ideia do quanto sinto sua falta viu. — Um sorriso surgiu em meio ao choro. — Dói não te ter mais aqui. — Fechei os meus olhos involuntariamente e os pensamentos surgiram. Os cachos de seu cabelo, seu olhos esverdeados em um formato amendoado, seu sorriso iluminado surgiram como fotografias em minha mente.
Endireitei a minha postura e abri a sua carta, retirando o pedaço do papel com um cuidado único. Minhas mãos tremiam e eu sentia meu coração batendo mais forte. As letras estavam mais embaçada por conta das lágrimas, mas mesmo assim, lutei para prosseguir a leitura.
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A Maior Conquista: O Amor
RomanceAtingir uma meta ou um sonho muitas das vezes é uma tarefa bem difícil. Abrir mão de lazeres e das suas próprias vontades para conquistar o tão aguardado objetivo é bem complicado. Mas para Mya essa tarefa não era muito difícil, pois sempre soube ex...