42. Amor inconveniente.

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— O que você está aprontando, hein? — Perguntei enquanto andava ao seu lado de mãos dadas, em direção a sala de música.

— Não posso te contar. — Ele cantarolou, o que me fez revirar os olhos.

— Por que você não me conta? — Puxei um pouco o seu braço, parando em frente a porta da sala de música.

— Porque você vai ver agora. — Ele abriu a porta da sala e eu pude ver ao longe, em cima do grande piano, uma cesta enorme. Ao redor da cesta, tinha alguns livros e um caderninho branco todo detalhado. Espalhado sobre o piano, algumas pétalas de rosas e um buquê de flores todo delicado.

Eu estava tão surpresa que não sabia como reagir a tudo aquilo. Então foi por conta disso que ele perdeu quatro aulas?

— Meu Deus, Mike! — Meus olhos marejados me impediam de ver as coisas com mais nitidez. — Isso tudo é lindo!

Me aproximei do piano podendo ver as coisas mais de perto. A cesta estava repleta de doces e algumas guloseimas. Tinha algumas cartas também que eram lindas por possuir adesivos de coração.

— Esses livros pertenciam a minha mãe. — Ele pegou os livros para me mostrar. — São manuais de piano. Sei que você está tentando se aperfeiçoar, então achei que fosse uma boa ideia. — Ele sorriu de um jeito tímido.

— Nossa, eu adorei Mike! — Declarei, pegando o buquê de flores que eu não conhecia. — Que flores são essas?

— Essa foi a parte mais difícil de decidir. — Ele coçou a cabeça. — As flores! Bom, eu estava pensando em qual flor mais combinaria com o momento. Eu não queria que fosse algo repetitivo como um buquê de rosas. Todos dão um buquê de rosas! — Ele gesticulou como se aquilo fosse um absurdo. — É claro que as rosas possuem uma beleza única, e é até um pouco desagradável da minha parte despreza-las dessa maneira. Mas caramba, só tem isso de flor no mundo? — Ele carregava uma expressão de indignação, o que me fez rir. — Então eu fui pesquisar, como a minha lindíssima professora me ensinou. — Sorriu, me reverenciando. — E descobri as Áster. Essa flor tem um nome grego que significa "estrela". Devido ao seu formato que lembra os corpos celestiais. E eu descobri também que na linguagem das flores, essa flor simboliza amor, lealdade, sabedoria, luz e poder. Todas as qualidades que você possuí. Além de brilhar como uma estrela.

— Obrigada, Mike. — Abri um sorriso largo. Pulei em seu braços e o abracei tão forte que não queria soltar. Aquele abraço podia durar por toda eternidade, eu não me importaria de passar toda a eternidade ao seu lado, apenas o abraçando. — Eu adoro os seus abraços, sabia? Eu me sinto segura. — Declarei, colocando a minha cabeça encostada em seu ombro. — Eu adoro você, Mile.

— Eu também te adoro. — Apertou um pouco mais o meu corpo contra o dele. — Ainda tem mais uma surpresa.

Não entendi muito bem quando ele soltou o meu corpo de repente e correu em direção ao piano. Senti a falta de seu toque então juntei as mãos e aguardei, esperando ansiosamente por outro abraço.

Mike começou a tocar uma melodia que eu desconhecia. Dedilhava a música, muito concentrado no que fazia. De repente ele parou, me encarou e começou a cantar uma letra que eu acreditei ser dele.

— Não sou tão bom com as palavras, não sou tão bom em me expressar. Por isso eu decidi cantar. — O seu rosto estava tão vermelho, que eu sorri ao ver o seu esforço para vencer a vergonha. — Desde que eu te conheci, algo nasceu dentro de mim. Mais parecido com esperança.
Logo eu, que sem saber, o que era amor, te conheceu.
E agora aqui, perto de ti, não quero mais... viver sem você.
Então é isso que o amor faz? É querer mudar sem pensar no "mas"? É desejar você por perto? Querer carinho e afeto?
Então é isso que é o amor? Não querer te ver sentir a dor? Te proteger e te guardar. Ter um lugar... pra chamar de lar. — Ele continuou tocando mas agora sem a letra, somente a melodia. Sabe aquela melodia que tocou o meu coração na primeira vez que nos encontramos aqui? Senti praticamente a mesma emoção ao ouvir essa agora. Só que dessa vez eu não o odeio e desejo empurrar ele da cadeira. Agora eu o amo. E eu tenho certeza de que o amo.

— Minha mãe começou a escrever essa música quando era adolescente, eu apenas acrescentei algumas coisas. — Ele sorria enquanto ainda dedilhava as notas do teclado. — Ela era incrível.

— Eu nem imagino a mulher incrível que ela era. — Me sentei ao lado dele, e comecei a dedilhar algumas notas. — E se fizéssemos algo assim. — Ele me observavam enquanto eu juntava alguns acordes. — Agora é a minha vez, de te contar sem timidez.
O que eu sinto ao ver você, o tanto que quero te ter. — Eu o encarei, e o vi tocando juntamente comigo a melodia. Improvisando um pouco e com um sorriso tão largo, começamos a cantar juntos. — E logo eu, que sem saber, o que era amor, te conheceu.
E agora aqui, perto de ti, não quero mais... — O olhei no fundo dos olhos, parando por alguns segundo de tocar. — Viver sem você...

Cantamos a última parte de uma forma tão profunda, que admiramos um ao outro enquanto a música se findava. Mike abriu um leve sorriso e ergueu a mão, passando o polegar carinhosamente em minha bochecha.

— Logo eu... - Cantarolou a música com uma voz angelical. Ele tinha um dom natural para tudo que envolvia música. — Que sem saber... — Aproximou mais o rosto do meu, ainda com o seu sorriso. — O que era amor... — Eu sentia a sua respiração intensa, estávamos a um centímetro de distância. Um centímetro de beija-lo. — Te conheceu. — Cantou a última parte em um melisma perfeito, quebrando o último centímetro que restava.

Era incrível como eu nunca me cansava de seus beijos, como eu sempre queria mais de seus toques. Sempre o desejava a todo custo. E sempre queria mais de seu amor.

O amor é isso, então? Essa necessidade um do outro? Essa vontade de estar a cada momento perto um do outro e nunca se cansar? Era essa sensação de paz e sossego que ele me transmitia? Se for, tenho certeza que sinto o amor.

O amor é um sentimento estranho. Ele é inconveniente, vem e aparece quando não é chamado. Só surge e não necessariamente precisa de um motivo. As vezes você só ama por amar. E eu o amava. Era o amor incoveniente.

Surgiu quando eu menos esperava, quando eu achava que não precisava dele. Incrível o amor saber exatamente o momento de que eu mais precisava.

A Maior Conquista: O AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora