59. Já que você insiste.

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— Fala moleque. — O porteiro fez um toque de mão com Mike assim que nos aproximamos. — Que que tu manda?

— E aí Jimmy? Eu tô de boa cara. — Colocou as mãos no bolso como um garoto descolado. — Tô precisando de uma coisa sabe, tu pode me ajudar aí?

— Já imagino o que você quer. — Ele olhou para o menino com um sorriso perverso. — Já vai levar outra cara? — Ergui a minha sobrancelha, o encarando de braços cruzados.

— Que outra maluco! — Ele soltou uma risada nervosa.

— Agora é a representante de turma do segundo ano? O cara tá potente pra fazer você matar aula com ele, hein! — Se virou para mim e eu senti vontade de agarrar no pescoço dele.

— Para com isso. — Forçou um sorriso para o porteiro.

— Pode ir moleque, tu é gente boa. — O porteiro abriu as portas nos dando espaço para passar. — Beija muito. — Abriu novamente o seu sorriso, enquanto passamos por ele.

(...)

— Eu já falei que não tem nenhuma garota, Mya! — Ele dizia insistentemente enquanto eu mantinha o meu semblante sério.

Mike passou no mercado e compramos algumas coisas que segundo ele, eu não podia ver até chegar no local.

— Eles vivem dizendo isso por conta da minha má fama! Por que todo sem perspectiva de futuro precisa ser visto dessa forma? Como pegador de mulheres? — Ele falou aquilo com um certo nojo. — Eu não levo ninguém a lugar nenhum sua ciumenta! E mesmo que levasse, Isso fica no passado, entende? Meu presente é com você.

— Então você admite! — O olhei com a boca aberta.

— Não! Meu Deus você ouviu o que eu falei? — Bufou.

— Ouvi muito bem! — Voltei a olhar para frente. Eu na verdade não estava sentindo tanto ciúmes assim, estava apenas o irritando para ver até onde ele aguentava.

— Ô amor! Para com isso. — Resmungou, me fazendo começar a rir descontroladamente. — Caramba! Fica de graça!

— Você vive de graça! Parece até um palhaço.

— Chata. — Dei um tapa em seu ombro o vendo sorrir.

(...)

Mike me levou para um dos parques mais frequentados de Los Angeles, Amir's Garden. Ele disse que ontem, quando estava sentindo a minha falta, teve a brilhante ideia de irmos passar o dia lá. Ele comprou um monte de coisas, uma delas provavelmente era comida, e disse que seria um piquenique improvisado.

— Nossa, mas esse lugar é lindo! — Declarei ao pararmos em um lugar aberto, o chão coberto por grama e rodeado por árvores. No meio, perto de uma árvore, havia uma mesa verde com dois bancos largos em cada lado. Em um dos cantos do gramado, um jardim florido dava uma cor ao ambiente.

— Gostou? — Perguntou, enquanto forrava uma toalha quadriculado no chão. — Eu gosto desse lugar.

— Eu adorei. — Observei ao redor, notando uma joaninha voando em minha direção. Ela pousou em um de meus dedos e eu tentei chamar a atenção de Mike sem que ela voasse para longe. — Psiu.

— Por que você tá fazendo psiu? — Ele continuou ajeitando as coisas, sem olhar para mim.

Ei! — Tentei mais uma vez.

— Fala, ué! — Ainda não me encarou, estava ocupado demais abrindo os pacotes de salgadinho.

— OLHA, MIKE! — Berrei, fazendo a joaninha sair voando apressada. Mike olhou quando ela já estava bem distante.

— O que foi? Não sei porquê você está gritando. Eu, hein. — Deu de ombros, voltando o seu olhar para as compras.

Ele ajeitou a toalha de um jeito tão organizado e fofo que me fez esquecer da joaninha. Decidi me juntar a ele e ajudar a arrumar.

— Peraí que eu já volto. — O cacheado saiu, indo até a entrada do parque, onde sumiu do meu campo de visão.

Decidi beliscar um pouco o que estava por cima, disfarçando para não deixar visível que comi. O menino não demorou muito para voltar, e quando voltou, trouxe com ele o seu violão que estava dentro da capa.

— Vai tocar uma serenata de amor para mim, é? — Declarei, assim que se sentou ao meu lado.

— Você não tá merecendo. — Disse, me fazendo rir. Ele tirou o seu violão da capa e o ajeitou de uma forma confortável. Dedilhou algumas notas bem distraído, com um sorriso leve nos lábios.

amor, amor, amor.
me faça um favor e senta aqui, pra eu sentir, o seu calor. Era nítido que ele improvisava uma letra enquanto aquecia os dedos no violão. Eu adorava ver o quanto ele é bom com tudo que envolve música. Ele usava uma batida muito usada em rock, pop e até mesmo sertanejo universitário. Era uma batida que te fazia dançar sem nem querer dançar. — Sua vez. — Ele continuou a batida na esperança que eu continuasse com a letra. De repente parou. — Canta, vai.

— Você acha que eu sei criar letras aleatórias em minha cabeça? Não sou igual a você. — Argumentei, tomando um pouco do refrigerante que ele comprou.

— Tenta, vai! — Começou a tocar novamente, o mesmo ritmo. Esperando a minha entrada. — Só sente vai, é só falar o que vier na sua cabeça.

amor, amor, amor. Não sou igual você, não sei cantar nem muito menos me expressar. — Ele parou de tocar na hora, pois caiu em uma gargalhada profunda.

— Ô amor, por que você é assim? — Colocou o violão sobre a capa e pegou um cacho de uva.

— Já te disse mil vezes que não me dou bem com música. Mas por algum motivo, me apaixonei por um músico. — Ele abriu um sorriso e eu peguei uma uva do motinho que ele catou.

— Ei! Não fica me distraindo para roubar minha comida! — Tentou pegar a uva de mim, mas ergui meu braço me afastando um pouco. Ele passou por cima dos alimentos ainda tentando pegar a uva de minhas mãos. Inclinou o seu corpo até alcançar a fruta e cair em cima de mim com tudo. Gargalhamos com a situação. Até que ele parou e observou atentamente o meu rosto.

— Não roube a minha comida. Caso contrário, vou roubar beijos seus. — Ele mostrou a uva que tinha pego. Cheguei o rosto para frente e com a boca, peguei a uva, a engolindo. O menino observou aquilo chocado. — Sua...

— Cadê o beijo? — Abri um sorriso de canto, o vendo balançar a cabeça em negação.

— Já que você insiste. — Uma de suas mãos agarrou o meu queixo, ele uniu os nossos lábios em um beijo lento. Tão lento e delicado que eu o sentia sorrindo em cada intervalo.

A Maior Conquista: O AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora