A Maior Conquista: O Amor

20. Por que você permite?

Assim que coloquei meus pés na escola, senti olhares sobre mim. Olhares por toda parte da escola.

Enquanto abria o meu armário para pegar os livros do dia e algumas anotações, Noah se aproximou me dando um tremendo susto.

— Então quer dizer que seu irmão ganhou um belo par de chifres? — Ele sorria ao dizer aquilo.

— Será que você pode ser um pouco mais incoveniente? — Hilary perguntou de um jeito debochado.

— Vimos as notícias. — Olivia surgiu atrás de mim, me causando outro susto. — Todos estão comentando sobre isso. — Ela carregava um semblante entristecido.

— É por isso que você estava tão triste? já sabia que seu irmão estava passando por essa situação? — A colorida me questionou com um olhar compadecido.

— Incrível como as notícias se espalham rápido, não é? — Sorri, vendo a expressão de incredulidade de cada um. — Estou perfeitamente bem, meu irmão está ótimo e a minha família continua impecável como sempre foi. Ele supera rápido, só não era para ser. — Fechei o armário e caminhei em direção a sala de aula, ainda sentindo os olhares sobre mim.

— Mya. — Ouvi uma voz familiar me chamar. — Quer dizer Múu. — Ethan dizia rindo descontroladamente. Ao seu lado estava Mike, que por outro lado, não parecia achar graça da situação.

— Perdão? Não entendi a piada. Será que você poderia me explicar? — Falei, com uma expressão amável. Um sorriso leve e a voz suave.

— Como? — Ele ria um pouco menos.

— Poderia me explicar o que é tão engraçado?

— Seu irmão é a graça. Ele não é considerado o mais perfeito dos homens que já passou por essa escola? Por que alguém tão perfeito foi traído? Talvez esse seja o seu destino também? — O garoto tinha um olhar desafiador. — Ser tão perfeita e tudo começar a desmoronar de repente? — Ele se aproximava de mim aos poucos. Ainda com seu sorriso desafiante. — Fala senhorita Mya Campbell. Até quando vai continuar triunfando?

Eu sentia um nervosismo muito forte tomar conta de mim. Talvez as pessoas em volta ou o fato do garoto ter jogado todos os meus livros no chão, tenha me feito perder um pouco dos sentidos.

— Será que você pode parar? — Tentei firmar a minha voz.

— Você é idiota ou o que? Dá pra parar com essa merda? Não tem ideia do que está dizendo! — Pude ver Hilary empurrar o garoto com tudo, enquanto Olivia pegava os meus pertences do chão.

— Quem você pensa que é para encostar em mim? — Quando Ethan levantou a mão e ameaçou bater em Hilary, Mike a segurou com um semblante muito calmo. — O que está fazendo Lewis?

— O que acha que estou fazendo? — Sorriu. — Pensa um pouquinho.

— Está me zoando? — Ethan parecia enfurecido.

— Eu? Não... Como pode achar isso? — Debochou mais uma vez.

— Solta ele, Mike! Eu vou meter a porrada nesse garoto. Chega, cansei desse império do mal! — Hilary correu na direção dele quando Noah avançou nela e a puxou de volta para o outro lado. — Me solta garoto!

— Para de ser assim! Tudo quer arrumar confusão. — Ele se debatia tentando segurar a garota.

— Dessa vez nem fui eu quem comecei. — Ela cruzou os braços e se permitiu ser segurada por ele.

— Vocês são tão idiotas que eu me impressiono. — Ethan puxou a mão com muita força e se soltou de Mike. — E você? Não vai falar nada, não? — Voltou a me encarar —  Isso aqui é tudo por você, não é? Todos te amam e te defendem.

— Para com isso, Ethan. — Mike pediu em voz baixa.

— Que foi? Não sabe se defender sozinha e precisa dos serviçais? Até o Mike você pegou? — Ele mais uma vez me tentou, encarando o fundo dos meus olhos.

Por que não consigo dizer? Por qual motivo não consigo mais me defender?

— Já pedi pra parar. — Mike avisou mais uma vez.

— A princesinha perfeita não é tão perfeita assim, não é mesmo? — Aquilo foi um basta.

Mike avançou no garoto e lançou um soco em seu rosto. Ethan tentou revidar mais era tarde demais já que um grupo de garotos surgiram para separar a briga.

Em um impulso, puxei o braço de Mike e o obriguei a vir caminhar comigo.

Eu ainda estava em choque. Palavras nunca entraram tão forte dentro de mim como naquele momento. Parecia que eu estava fazendo as coisas automaticamente. Como se minha mente em meio ao conflito, estivesse tentando fazer o corpo reagir.

Entrei pelas portas da sala de música e notei que a professora ainda não estava lá. O fiz sentar na banqueta do piano. Sentia o seu olhar sobre mim a cada passo que eu dava em direção aos armários, em busca de qualquer kit de emergência.

— Isso não é necessário. — Falou quando me aproximei com uma caixinha branca. Parecia irritado, sua voz mostrava claramente isso.

— Se vc visse o arranhado que eu ele fez no seu rosto, não diria isso. — Respondi, tirando um pedaço de algodão e álcool. — Vai arder um pouco.

Quando encostei o algodão em sua pele, ele não reagiu nem um pouco. Parecia distante e muito pensativo, nem ligava para aquela dor momentânea.

— Por que você permite? — Perguntou em meio ao silêncio.

— Do que você está falando?

— Por que permite? Você sabe muito bem do que estou falando. — Ele afastou a minha mão e a segurou, me fazendo encara-lo. Por que permite que te usem desse jeito? — Vendo que eu ainda não tinha captado a mensagem, foi mais direto. — Por que deixa os seus pais te usarem?

Senti que todas as palavras foram roubadas e arrancadas de mim em um piscar de olhos. Eu não tinha ideia do que dizer. Por que ele achava que eu estava sendo usada? Eu não estava sendo usada. Meus pais desejam e querem o melhor para mim, eles me amam. E cada um tem uma forma diferente de demonstrar isso.

Mas por alguma razão desconhecida, aquilo me afetou. Me abalou. Aquela era a visão que ele tinha dos meus pais?

— Por que está dizendo isso? Meus pais querem o melhor para mim, Mike. E eu também quero o melhor. — Voltei a limpar o pequeno corte quando ele segurou mais uma vez a minha mão

— Você acha que o melhor deles, é o melhor para você?