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Ayla Miller

Já é segunda, e eu não queria vir, queria ter ficado em casa para ouvir a descoberta que meu pai fez. Não nego como estou ansiosa para saber quem é que está atrás da gente, tentando nos matar.

As suspeitas do meu pai, é que seja alguém do governo, mas não acho isso, e sim, alguns inimigos dos meus pais. Sei lá, tem muita gente que odeia os dois, e para atingir eles, estão tentando nos matar.

Mas não tiro a teoria de que possa ser alguém do governo, um agente secreto, assassino contratado pelo governo para se livrar de nós... sei lá! Talvez eu esteja delirando com isso.

Respiro fundo o ar do pátio, ainda estou andando para a sala, porém, paro de andar quando vejo alguém um pouco distante, lendo um livro.

Não sabia que ele matava aula também.

Mudo meu rumo e caminho até o Isaac que está concentrado lendo um livro chamado "Uma vida com você". Não consigo ver o nome do autor devido ao seu dedo em cima, mas isso pouco me importa, nunca curti muitos livros.

- Não sabia que matava aula...

Ele continua lendo, nem abalou a minha chegada silenciosa.

- Minha primeira aula é o clube de literatura, não estou matando aula. - ele diz sem me olhar

- Hm... - agacho e abraço minhas pernas, focado em seus olhos pretos que mexem na medida das linhas - Seus olhos têm uma cor bonita

Ele os traz até mim.

- São pretos, iguais aos seus, não tem nada de bonito.

- Mas eu acho eles bonitos. - coloco meu queixo no joelho

- Gosto peculiar.

- Por quê? Você não gosta da cor preta?

- Não.

- Eu gosto da cor preta... me lembra tanta coisa... Qual é sua cor favorita?

É amarelo, mas só vou perguntar para saber o que ele vai responder

- Vermelho.

- Que mentira, é amare- - coloco a mão na boca antes de terminar a frase, só por causa do seu olhar

- Se sabe a minha cor favorita, por que perguntou?

- Só estou... tentando puxar assunto.

- Vai pra aula, é ruim para você ficar matando ela.

- Não tenho uma faca para matá-la. - sorrio, para seu rosto sério - O quê?

- Não precisa de uma faca para matar.

Meu sorriso some, quando seu olhar frio fica sobre mim, congelando até minha alma. Isaac desvia o olhar e foca no livro, odeio quando faz isso, quebra todo o clima bom que está tendo.

- Você gosta de batata com queijo, e carne? - pergunto, porque trouxe duas

- Batata com queijo e carne? - ele ergue suas sobrancelhas - Foi você quem fez?

- Sim. Quer experimentar?

Isaac me observa um tempo, até fechar seu livro e estender sua mão. Me sento no chão, sentindo minha perna se incomodar com o capim, porém, ignoro. Pego a vasilha e coloco sobre a tampa para ele, entregando em seguida.

Ele tira seus óculos devido à fumaça que os embaça, então, começa a comer. Isaac assopra por um tempo, até colocar um pedaço na boca. Ele mastiga, até engolir.

- O que acha?

- Está bom. Pelo menos sabe usar seu cérebro para fazer algo gostoso.

Fecho meu rosto, mas não dura com um sorriso sincero em seus lábios. Bem... não é aquele sorrisão que eu queria ver, aquele que chega mostrar os dentes, mas sendo sincero, é o que vale. Minhas bochechas ficam quentes, é lindo e impossível de ignorar.

- Você deu um sorriso sincero!

Ele desvia o olhar e para de comer a batata.

- Acho que está delirando.

- Eu vi!

- Não viu. - ele coloca a batata de volta na vasilha e me entrega a tampa - Estou indo.

- Pra onde? - quando pergunto, o sinal bate

- Pra sala.

Fecho a vasilha e o observo limpar sua boca.

- Deixa eu adivinhar sua cor favorita - ele diz olhando para mim antes de se levantar

- Tá! - sorrio por essa pergunta

- É azul.

- Quê? Como?

- Você está usando uma calcinha dessa cor - ele se coloca de pé e se retira, me deixando desnorteada

- Como? Eu estou de meia calça - olho para as minhas pernas - Puta que pariu! Eu não tô de meia calça!

Porra! Eu esqueci! Sempre venho com uma. Droga! Eu acabei saindo correndo devido ao horário e esqueci de colocar ela. Merda, merda, merda! A meia calça tem um pano escuro por dentro, então, não dá para ver a cor da calcinha, por isso que estava toda segura de estar sentada daquela forma.

Que vergonha!

Pego e minhas coisas e saio dali, quero esconder minha cara em um buraco e fingir que isso nunca aconteceu. Como posso ser tão descuidada assim? Droga! Eu odeio isso.

Sim, eu sempre fui cuidadosa para nunca verem minha calcinha, inclusive, sempre usei maio com um short. Eu tenho vergonha, e é muita vergonha.

Será o que ele pensou? Deveria pedir desculpas por isso? Por que nunca sei o que fazer quando algo constrangedor acontece? Ai... agora eu me odeio.

Continua...

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