Sem você tá difícil demais (10)

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Chamei Léo para fora do quarto e fechei a porta.

- Fica com a Marília, eu vou falar com o médico e levar sua irmã pra fazer uns exames.

- Mas... Mãe, não é melhor levar ela na delegacia?

- Não adianta mais. - Suspirei.

- Por quê?

- Porque já dei banho nela. Tinha que ter levado ela direto pra delegacia, mas eu só queria tirar aquilo da minha filha.

- Mas tem as marcas.

- Com as marcas podem alegar que eu mesma fiz aquilo, Léo.

- Maiara, eu vim assim que soube. - Disse D. Ruth.

A olhei. A única coisa que fiz foi abraçar ela e desabar em seus braços. Ela me abraçou também e fez carinho em seus cabelos, talvez tentando entender.

- O que houve?

- Ela acordou... Acordou mas não lembra da gente. - Digo chorando.

- Como não? Que história é essa?

Não consegui responde-la, o choro me impedia. Vontade de também bater com a porra de um carro e perder a memória, talvez doeria menos.

- Mãe! - Léo me segurou.

Meu corpo estava mole, eu tremia de um jeito nunca visto antes. A dor que eu sentia no peito parecia que iria me matar.

- Maiara, calma. - Disse dona Ruth.

Léo me pôs sentada em uma cadeira e foi pegar uma água, enquanto D. Ruth tentava de toda forma me fazer parar de chorar ou tremer. Eu tentava me acalmar, tentava falar alguma coisa, mas era praticamente impossível.

Encostei minha cabeça na parede tentando respirar, enquanto mesmo com as mãos trêmulas fazia massagem em meu peito para tentar amenizar aquela dor.

- Mãe, toma.

D. Ruth pegou o copo e deu a água na minha boca. Abracei ela a procura do abraço da minha loira que tanto me acalma, mas não encontrei. Mesmo com a visão turva, pude ver já alguns enfermeiros e acho que um médico ao meu lado, tentando me fazer levantar.

- A... A Aurora... - Digo com dificuldade.

- Mãe, ela está bem, está com a Marília. Você precisa ficar bem.

Me levantei escorando nas paredes ainda com a mão no peito, indo até o quarto, vendo Aurora dormindo na cama da loira, que estava sentada na poltrona quieta olhando pro nada.

- Amor... - Chamei sua atenção.

- Você tá bem? - Ela me olhou.

Neguei com a cabeça desabando outra vez no choro.

Ela correu até mim me abraçando.

- Maiara, calma, você está tremendo.

- Alguém machucou ela amor... Fizeram mau pra nossa menina. - Digo entre soluços.

- Tem como você parar de falar desse jeito? Eu não... Não conheço essa menina e... E nem você... - Diz abaixando o tom de voz cada vez mais.

- Não... Não faz isso comigo... Não faz isso comigo, Marília! - Entro em "desespero". - Você não Marília! Você não...

Ela apenas me abraçou forte.

Era muita pressão. Muita dor pra aguentar sozinha...

- Volta pra mim. Volta pra mim, amor.

Dali pra frente, vivi no automático. O famoso "zumbi". Dei tudo de mim para fazer Marília se lembrar, mas não adiantou, então apenas deixei por ela mesma.

Minha vida se tornou apenas cuidar da Aurora e só.

[...]

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