O amor tende ser brega (33)

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- Cala a boca Marília! - Maiara se alterou.

- Abaixa o tom porque nossos filhos estão dormindo! - Disse entre dentes, se aproximando da ruiva.

- Não chega perto de mim se não quiser levar um tapa dentro da cara! - Empurrou ela. Marília riu, o que deixou a ruiva ainda mais brava.

- Você vai ficar assim somente por que eu disse que iria curtir uma balada com umas colegas? - A olhou nos olhos. A ruiva engoliu a seco quase caindo no abismo que era o olhar da mulher, mas logo retomou sua raiva.

- Colegas? COLEGAS? SUA COLEGA SOU EU MARILIA! - A empurrou novamente.

- É? Onde está escrito isso? - Tirou sua blusa. A ruiva desviou o olhar.

- Te avisei antes de casarmos!

- Mas até onde eu saiba... Alguém se deitava com outro, não é mesmo? Por que agora quer me impedir de sair pra beber? - Se aproximou novamente.

- Não era só eu. Se você quiser voltar pra essa merda de vida, VAI! SOME MARÍLIA! SOME DA MINHA FRENTE AGORA! - Disse com a voz trêmula.

- Está chorando por que Maiara? Que tal me contar que um dia antes da porra do meu acidente você TRANSOU COM A PORRA MINHA SECRETÁRIA?! Foi gostoso? Ah! Claro que foi, aliás, queria de novo, né? - Se aproximou novamente, deixando a ruiva sem reação. - Por que nesses últimos dias você usa tudo contra mim? Eu tô do teu lado pra tentar amenizar a dor da perda da Lua, tô tentando cuidar da Aurora e ainda tentando aconselhar o Léo. Mas onde caralhos eu errei com você? Diz? Por que você mal olha pra minha cara? - A ruiva continuou calada. - RESPONDE MAIARA!

- Vai pra tua balada Marília, mas vá sabendo que quando voltar, no closet só terá meu cheiro. - Limpou as lágrimas e foi até o banheiro.

- Já é a terceira vez na semana que você diz sobre o divórcio. Sabe o que eu acho Maiara? - Pegou firme em seus cabelos a trazendo pra si sem qualquer cuidado. - Quem quer, não fala. Quem quer, faz! - A solta e vai saindo do quarto.

- EU ODEIO VOCÊ MARÍLIA! EU... EU TE... TE ODEIO! - Gritou no banheiro sentindo o choro preso em sua garganta.

- Ótimo! - Saiu do quarto vestindo novamente sua blusa.

Maiara, de tanta raiva, deu um soco na porta ao fechá-la. O relacionamento não estava indo muito bem já que Maiara estava pondo tudo a perder.

Desde que perdeu a sobrinha, desde que levou a filha a um médico para a mesma tentar se "livrar" daquele trauma - O que não deu muito certo em vista de que a menina só aceitava o irmão (de homem) por perto, já não conseguia mais ir para a escolinha e agora tomava remédios tanto para crises de ansiedade quanto para crises de pânico. - A ruiva descontava tudo na mais velha.

Já não media suas palavras, relembrava o passado (passado esse que a loira nem mesmo se lembra), e mal olhava para a esposa. Marília tentou de tudo: Fez jantar, comprou presentes, tentou até uma noite romântica, mas nada funcionou. Sempre que a loira tentava conversar com ela sobre, elas brigavam feio por Maiara não querer nem ouvir sua voz.

Marília assumiu a responsabilidade de cuidar dos filhos sozinha. Levava a menina para as consultas, para se divertir e tirava tempo para a garotinha. Aconselhava o filho da melhor maneira, o ajudava nos deveres de casa, levava ele onde quer que fosse com a menina (Mariá), e ainda precisava trabalhar, já que a ruiva ainda estava parada com os seus clientes.

E no meio disso tudo, Marília apenas esqueceu de si. Dedicou todo seu dia para a esposa, os filhos e o trabalho. Sequer dormia ou comia direito.

Acabou perdendo a paciência com a ruiva... Os filhos já dormiam e ela precisava espairecer um pouco, e então aceitou o convite de umas "colegas" para beber, mas como tudo que a loira falava a ruiva surtava, hoje não foi diferente.

A loira se sentou ali no sofá passando as mãos pelos cabelos, com vontade de ir lá e pedir perdão pelo jeito que pegou a ruiva. Ficou com medo de ter a machucado, mas preferiu esperar a poeira abaixar.

- Mãe? Está tudo bem? - Léo foi até ela.

- Sim filho. Só sua mãe... Outra vez. - Suspirou pesado. Léo nada comentou, apenas se sentou ao seu lado e então a abraçou forte fazendo carinho em seus cabelos.

- Vocês precisam de um tempo. - O menino falou baixo, com medo da reação da mãe.

- Ela já tocou no assunto do divórcio três vezes só essa semana.

- Conversa com ela... Mas tenha uma conversa séria. Deixe que ela decida o que quer.

- E o que ela disser, será a resposta final sem ter tempo de mudar.

- Exatamente. Por que não vai lá?

- Esperando ela se acalmar. Aí! Eu fiz merda. Machuquei ela. - O menino a olhou confuso. - Peguei nos cabelos dela sem qualquer cuidado... Na hora da raiva eu não liguei, mas... Quando parei e pensei, devo ter machucado ela.

- Melhor ir antes que seja tarde. - Disse olhando nos olhos da mãe.

Marília assentiu e deu um beijo em sua cabeça, indo até o quarto. Entrou vendo a mulher sentada na cama acariciando a cabeça onde a loira puxou seus cabelos. Marília, ao ver aquilo, se sentiu a pior pessoa do mundo.

- Podemos conversar? - Se aproximou. A ruiva apenas assentiu prendendo seus cabelos sem olha-la. - Eu machuquei você?

- Sim. - Disse curta e grossa. - Mais alguma coisa? Quer terminar o serviço? Tapa na cara? Soco? O que vai ser dessa vez?

- Maiara... Não. Claro que não. Foi na hora da raiva, me perdoa. - Tentou tocar em seu rosto, mas a ruiva pegou seu pulso.

- Não encosta em mim.

- É... É só um carinho. - Disse triste.

- Seu carinho parece que arranha. Seu carinho me machuca!

- Amor...

- Não! Eu não sou o seu amor. Marília, fala logo o que você quer.

- O divórcio... - Ela parou abaixando a cabeça sem conseguir terminar, pois o choro a empedia.

- O divórcio? Ótimo! Ao menos não vou precisar me preocupar em falar nada. - Se levantou. Marília a olhou confusa, tentou a puxar novamente, mas a mesma deu as costas.

- O que está fazendo?

- Tirando minhas coisas da sua casa.

- Você quer mesmo isso?

- Eu? Foi você que pediu. - Pegou uma mala.

- Eu? Que? Não! Mai, eu apenas... Eu apenas queria saber de você. - Abaixou a cabeça. - Porra garota, você não sabe o quanto eu... Eu... - A olhou nos olhos.

Maiara não esperava que ela terminasse aquela frase, pois sabia bem que a mulher não era daquilo. Mas parou a olhando.

- Termina!

- Eu... Você sabe que... - Ela tenta falar, mas não consegue.

- Se for realmente isso que sente, termina! - A desafiou.

Marília foi até ela a puxando firmemente pela cintura. A ruiva arfou surpresa com isso, olhando-a nos olhos. Marília a jogou contra a parede e juntou seu corpo ao da menor, apoiando uma das mãos na parede logo atrás da ruiva.

Maiara apenas olhava em seus olhos, um pouco ofegante pela aproximação da loira.

- Eu te amo! Eu te amo Balala! Eu te amo pra caralho! E quer saber? Eu dou minha vida por você. É isso aí Balala, eu sou brega! E como diria Sidney Magal: "O amor tende ser brega". O dicionário diz que brega, adjetivo, denota "falta de gosto", eu digo que não! Eu gosto muito! E profundamente! Tão profundo que se quiser grito aos quatro cantos o meu amor por você. Se se entregar de corpo e alma assim é ser brega, muito prazer, me chame de: Marília Mendonça! - Disso olhando nos olhos da ruiva.

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