Que as verdades sejam ditas...(11)

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Os barulhos do lado de fora permaneciam, eram cada vez mais intensos, Marília tampava seus ouvidos implorando baixinho para que parassem, e me doía tanto vê-la daquela forma.

Ela se levantou, indo até o lugar onde estava os móveis de bebê. Ela passou o dedo pelo berço, e pegou um leão de pelúcia que estava ali dentro, abraçando forte.

- Mendonça...

- Ele seria o leãozinho da mamãe... E hoje, quem sabe não é a minha estrela mais bonita?

Ela fala aquilo com a voz falha levando sua mão até sua barriga, fazendo um carinho ali. Ela se sentou em poltrona branca com estampa de leões, e ficou olhando para aquele ursinho. Seus olhos brilhavam...

Então ela fechou os olhos, e após alguns segundos, apareceu um lindo sorriso em seus lábios.
Eu e a metade não entendemos nada. Em meio a tantos xingamentos pesados que escutavamos da multidão, ela estava sorrindo. As lágrimas desciam por sua bochecha mas pareciam ser de alegria desta vez.

Puta, vagabunda, assassina, ladra, psicopata, ameaças horripilantes de morte, etc. era o que se ouvia da multidão. Aquilo era o mínimo, haviam coisas tão pesadas que me embrulhavam o estômago.
Não entendia como alguém poderia ser tão sem coração assim.

Me encolhi em um canto abraçada em minha irmã, na tentativa de me acalmar, enquanto Mendonça já não ligava muito para aquilo.

Ouvimos ela suspirar pesado e abrir os olhos nos olhando. Deixando o ursinho na poltrona, ela veio até nós, se ajoelhou e faz carinho em nossos rostos.

- Não precisa de medo, meninas.

- Eles... Eles podem entrar. - Disse minha irmã, com medo.

- Não mais. Trouxe vocês pra cá porque mesmo que as janelas sejam blindadas ainda corre o risco de quebrar, como aconteceu no seu quarto, Ruiva. Poderia acertar vocês, e eu não quero isso. E a sua irmã ainda tem um bebê dentro dela. Eu não posso arriscar.

- Por que está tão calma? Como consegue dormir a noite com tudo isso? - Minha irmã pergunta novamente.

- Oh Maraisa... De tanto forçar, eu me acostumei. Pra me acalmar de tudo isso só preciso de uma lembrança, e é essa lembrança que me faz não ir até lá e mandá-los embora correndo o risco de morrer.

- E por que não se muda daqui? Por que continua vivendo esse inferno? - Perguntei meio alterada.

- Eu cresci aqui, ruiva. É difícil deixar tudo para trás. Nessa casa vivi momentos inesquecíveis, tanto bons, quanto ruins. Saindo daqui não vai resolver meus problemas, minha família é odiada por todo o mundo, procurada em cada mísero canto dessa Terra.

- Claro né, família de assassinos, pedófilos, ladrões. - Minha irmã pensa alto. - Aí meu Deus, me desculpa... Desculpa. - Diz desesperada.

- Sim, minha família é isso e muito mais! Mas uma coisa eu deixo claro: Eles nunca ousaram encostar um dedo em uma criança se não fosse para ajudá-la. Sim, eles eram desumanos, assim dizendo, mas ninguém fala quantas coisas boas também fizeram. E eu nem vou perder perder tempo falando, ninguém acredita mesmo, nesse mundo minha família não passa de uns ordinários assassinos. Não tem porquê eu ficar aqui falando se não irei mudar nada do que fizeram.

- Me perdoa...

- Tudo bem, Maraisa. - Ela se levantou indo até a porta. - Todos vocês são iguais. Todos vocês tem o mesmo pensamento. O que eu posso fazer? Ninguém muda ninguém! - Ela destranca a porta e nos olha - Fiquem aqui, estarão seguras.

- Ei, Mendonça... Não vá, por favor. - Eu me aproximo da mesma.

- Pode ficar tranquila, ruiva.

Sem mais delongas, ela saiu, nos trancando ali novamente. Vi minha irmã ficar eufórica, tentou abrir a porta e já chorava de desespero.

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