Mar Vermelho...(42)

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Enquanto almoçamos, algumas pessoas passavam olhando com medo para Marília, outras com ódio, tristeza, etc.. Via em seus olhos que aquilo era desconfortável pra ela, mas ela não dizia nada. Até passaram dizendo "olha a assassina". Os comentários ficavam pesados a cada um que passava ou apenas a olhava.

- Mama, pu que tão chamando voxê axim?

- Nada, meu amor. Termina seu sorvete que precisamos ir. - Ela disse virando todo o vinho que havia em sua taça em uma só golada.

- Lila calma. - Pego a taça de sua mão.

- Já estou me anestesiando de agora.

Ela apenas levantou sua mão chamando pelo garçom, que veio com uma garrafa de vinho nas mãos e encheu novamente sua taça. Ela pediu para que deixasse a garrafa ali e assim foi feito, então ela começou a virar todo o líquido a cada comentário escroto que faziam.

Léo comia devagar pois estava brincando com ela, eu também terminava minha sobremesa, enquanto minha irmã já tinha comido uma tigela inteira de sorvete de chocolate e estava na segunda dando a desculpa de que um era o dela e o outro do bebê.

Aquele ponto, vi Marília pedir já a terceira garrafa, então quando ela novamente virou a taça eu peguei em seu braço.

- Vamos embora.

- Deixa sua irmã terminar. - Sua voz saiu arrastada.

Olhei para minha irmã que estava consentrada comendo, e a mais velha continuava bebendo. Me perguntava como ela estava bebendo aquilo tão rápido para ter efeito assim tão rápido... Esse vinho deve ser forte.

- Alguém tira aquela criança dali, ela vai matar... - Escutamos alguém falar.

Vi os olhos de Marília procurarem por aquela voz que continuava a dizer que precisavam tirar Léo dali, então, ela sentou o menino na mesa e se levantou, tentando andar posturada, ela foi até a mesa da mulher, se apoiando com as mãos na mesa e se aproximou o máximo que pode.

- Pega suas coisas e saia daqui.

- Quem deve sair daqui é você! Assassina!

Veio em minha mente Marília perdendo a razão. Então desesperada eu corri até ela, vendo em 360 minha irmã segurando Léo em seus braços.

- Cadê o dono disso daqui? Ele deixa mesmo pedófilos, assasinos, ladrões, entrarem aqui?

- Prazer, você está falando com a dona.

A mulher riu e Marília continuou seria.

- Você?

- Eu mesma.

De repente, vi a roda se formar em volta de Marília, e os ataques começarem. Ela olhou para tudo aquilo como uma criança perdida de seus país em meio a multidão.

- LÉOOOO. - Ouço o grito de minha irmã.

Tentei correr, mas me seguraram, então vi Marília arrancar os saltos e como uma louca socar todos, chutar, na tentativa de ir até seu filho. Fernandes, Huff, entre outros dos milhares de seguranças colocavam pessoas para fora, outras caiam desmaiadas, mas Léo eu já não via ou ouvia mais, e quando procurei por Marília, também já não a via. Só havia uma roda agitada e rindo alto em meio aos xingamentos.

Quando me soltaram, vi a multidão ir embora com sorrisos satisfeitos nos lábios, então procurei por Marília, a achando jogada no chão, encolhida com seus braços em volta de sua barriga. Ali me ajoelhei pegando delicadamente em seu rosto, a vendo coberta de sangue, sua pele estava vermelha, machucada, ela colocava sangue pela boca, enquanto tentava falar algo.

- Fernandes, chama uma ambulância, urgente. - Gritei.

- Léo... Me-meu filho... Leãozinho...  - Disse com a voz falha, mas como uma súplica.

- Ele está bem, Marília, está com Maraisa no carro. - Disse Huff, com a voz calma.

- Huff, vamos levar ela, o hospital não atende.

- Vamos em outro carro.

Fernandes a pegou nos braços e ela gemeu de dor, se encolhendo ali novamente e quase fechando os olhos. Levamos ela para outro carro e entramos já dando partida o mais rápido possível.

- Loira, olha pra mim, não dorme, por favor.

Deitei seu corpo com cuidado no banco e deitei sua cabeça em minhas coxas. A cada movimento um pouco mais bruto do veículo ela gemia. Ela chamava sem pausas pelo menino, mas já não tinha forças. Eu tentei faze-la ficar acordada, mas ela estava muito bêbada e aos poucos foi fechando seus olhos. Mesmo com o corpo doendo, ela levou sua mão até a minha, apertando com o resto de força que ainda havia em seu corpo.

- Cor de Mel, eu... Eu te a... - Ela terminou com um gemido.

Havíamos batido em algum outro veículo. Olhei preocupada mas quando voltei rapidamente meus olhos para Marília, sua mão já não havia mais força, seus olhos já estavam fechados. Eu vestia branco, e estava completamente vermelha de seu sangue. Aos poucos os hematomas foram ficando roxos e pude ver que a surra que levou foi grande.

De repente, escuto barulhos altos, e quando olho para Fernandes, o vejo com uma arma na mão atirando para cima. Escutei os gritos assustados, e logo foram abrindo passagem enquanto ele continuava atirando enquanto pisava fundo no acelerador.

- Ela não responde mais, está sangrando muito. - Digo desesperada.

[...]

Me encontrava sentada em uma poltrona ao lado de sua cama, velando seu sono profundo para me certificar de que ela iria acordar. Seu rosto já estava limpo, sua cabeça enfaixada e curativos onde havia cortado, afinal, haviam mulheres com salto de ponta fina e provavelmente a chutaram com aquilo.

Ela dormia serena, enquanto eu fazia carinho em sua mão. Ainda estava tentando decifrar o que ela tentou me dizer antes de desmaiar, mas nada fazia sentido na minha cabeça, preferi esperar ela acordar e pergunta-la.

- Como ela está, irmã? - Disse entrando no quarto.

- Ainda dormindo... Os médicos disseram que o efeito da bebida amenizou um pouco a dor, mas que ela vai precisar ficar aqui talvez por uns dias... A surra foi forte demais, ela está completamente roxa e cheia de machucados. - Digo suspirando.

- Ela não merece isso... Ela só está tentando ser feliz.

- Acredito que com o nome e o passado que carrega, isso é uma missão quase impossível.

- Mas você consegue tirar ela dessa.

- Não sei... Cadê o Léo?

- Eu levei ele até o orfanato junto ao Fernandes. Ele chorou tanto... 

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