Trinta e um de dezembro (39)

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Passamos um bom tempo ali na banheira, caladas. Eu molhava seus cabelinhos, brincava com ela, e tentava arrancar sorrisos. Por partes, eu conseguia, mas ainda vai a tristeza em seus olhos.

Quando percebi que ela estava prestes a dormir, sai com ela da banheira, e fomos para o chuveiro. Liguei o registro na água quentinha e a coloquei em baixo. Em nenhum momento ela soltou meu corpo.

- Amor, eu vou precisar lavar... - Digo triste, por saber que aquilo iria doer.

- Vai doer, mamãe... - Escondeu seu rostinho em meu pescoço.

- Mas eu preciso, meu amor. Eu prometo que vai ser bem rapidinho, tá? Depois eu vou passar um remédio e você vai ficar bem. Eu prometo.

Sem muito o que fazer, ela assentiu. Peguei o sabitede e espalhei um pouco na minha palma, e ainda com ela em meu colo, passei com suavidade por suas nádegas, e ela me apertou chorando de imediato.

Mordi forte meu lábio tentando não demonstrar o choro entalado na garganta. Tentei passar força a ela, mesmo que a vendo dessa maneira me faça sentir a pior dor.

Eu tinha uma parcela de culpa pelo que esse desgraçado fez com ela. Eu não deveria ter bebido tanto aquele dia. Eu podia não ter bebido e vindo pra casa da maneira correta, para fazer o que eu vim disposta a fazer.

Naquela noite, eu havia comprado suas flores favoritas, havia comprado seus chocolates favoritos. Eu pedi para refazerem o nosso anel de noivado, idêntico. Eu a pediria novamente em casamento, iria refazer nossa história.

Mas eu bebi... Eu bebi pra ter coragem. Eu tinha medo de que ela não me aceitasse de volta. Medo de perder a mulher que eu amo. A bebida estragou as nossas vidas, e agora, ela paga por isso.

Eu queria fazer ela feliz outra vez. Iríamos nos casar se ela me aceitasse de volta, e como sempre foi seu sonho, eu iria engravidar do nosso terceiro bebêzinho. Eu queria que fosse assim...

Se eu não tivesse bebido aquela noite, eu estaria bem, estaria trabalhando, ela não teria que fazer tudo por nós e não teria acontecido isso. Eu me sentia a pior esposa do mundo.

Lavei ela com todo meu cuidado, tentando fazer com que ela não sentisse dor alguma, mas isso não foi possível. Após o banho, eu a sequei e a levei para cama, deitando-a de bruços. Disse a ela que buscaria os remédios, a dei um selinho e sai, mesmo com o coração apertado de deixá-la só.

- Mãe... - Léo me olhou.

- Oi, meu filho? - Digo pegando os remédios em cima da mesa que Helô havia pego pra mim.

- Que remédios sem esses? Cadê a Maiara? - Veio até mim.

- Sua mãe não está bem, são pra ela.

- Mãe... Ela está com cheiro de outra pessoa!

- É... Eu já tirei esse cheiro. Eu já cuidei dela. Eu só... Só preciso de um tempo. - Passei as mãos pelos cabelos.

- Como assim? - Pegou em meu pulso.

- Ela não fez porque quis, ok? E ela precisa do nosso cuidado.

- Mãe... Você...

Ele me olhava um pouco espantado. Talvez desacreditado.

- Minha memória voltou. - Sorrio fraco.

Ele veio até mim, me abraçando forte, e eu retribui.

- Olha, eu preciso cuidar da sua mãe, ok? Cadê Aurora?

- Está dormindo.

Assenti e subi.

- Irei poupa-los do sofrimento. - Autora

O Leilão | Mailila Onde histórias criam vida. Descubra agora