Maiara:
As coisas andam meio remexidas. Marília anda tendo picos de memórias, mudando de repente. Horas ela lembra de quem é e quem somos, horas não lembra de nada nem ninguém. Isso vem acontecendo a aproximadamente três semanas. Tudo que falamos, ela esquece muito rápido e isso me deixa tão frustrada.
A levei ao médico, expliquei sua situação e fizeram exames. Aparentemente, tudo normal. O médico disse que ela deveria estar desencadeando, precocemente, alzheimer, por conta da perda de memória. Isso me partiu em mil pedaços.
Ela esqueceria de mim.
Ela esqueceria dos nossos filhos.
Da nossa vida.
E aos poucos, esqueceria de si, se transformando, novamente, em um pequeno bebê inocente e dependente de quem está à sua volta - mesmo que já tenha seus trinta e cinco anos.
Disse ao Léo seu estado mental, que, mesmo triste, entendeu e associou a informação. Tentei explicar a Aurora da maneira mais delicada e cuidadosa possível, de um jeito que ela entendesse, mas mesmo assim, podia ver um grande ponto de interrogação velejando sobre sua cabeça.
Afinal, não podíamos negar que para Aurora, Marília era a preferida. Depois de tudo, Aurora se fechou, e só Marília conseguiu trazê-la de volta.
Eu podia compará-la a uma criança. Quando se juntava a nossa filha, mesmo não sabendo seu laço afetivo com a menina, ela se tornava uma criança, brincava e ria como tal.
Ela me olhava de um jeito tão inocente. Como uma criança indefesa e pedindo por proteção, e assim eu fazia.
Muitas vezes na madrugada, acordei com ela me olhando. Ela sequer piscava.
Aquilo me dava medo.
Não medo dela, claro. Jamais teria medo da mulher que amo. Mas eu tinha medo do que aquele olhar me transmitia. Era uma mistura de medo, tristeza. Parecia pedir socorro com aqueles olhos que eu tanto amo. Aquilo me matava tanto. Me matava por não poder ajudá-la. Eu não conseguia fazer nada além de chorar no banho implorando para que Deus desse paz a nossa família.
Eu não tinha o poder da cura para beijá-la e fazer nossa vida melhor. Eu não podia... Fazer nada.
Eu não tinha com quem conversar. Eu não tinha alguém para me aninhar nos braços e me dar beijos quando me sinto mal. Eu não tinha alguém para me proteger, ao contrário, eu era o pilar da família naquele momento.
Mas, com tudo isso, descobri um parceiro que jamais achei que teria. Nunca o subestimei, mas jamais imaginei que na hora do aperto, ele estaria comigo, fazendo o papel que antes, sua mãe fazia.
Léo, deixou suas obrigações de lado para me ajudar com a casa, a Aurora, e a Marília, ainda me consolava quando me via mal. Nunca imaginei ter um filho tão maravilhoso como ele. Agradeço imensamente a minha mulher por isso.
Precisei voltar a trabalhar, visto que Marília não tinha mentalidade alguma para exercer sua função na empresa. Tive que assumir seu cargo, pois sabia que quando ela melhorasse de tudo aquilo, me mataria por deixar suas empresas na mão de qualquer um, ou até mesmo de deixá-las falir. Então eu estava trabalhando tanto na minha ária, quanto na dela.
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O Leilão | Mailila
FanficMaiara, uma menina de quatorze anos, doce e muito carinhosa. vem de uma família pobre e rigorosa, porém muito maldosa. Após a venda de sua irmã mais velha, Maraisa, a mesma ficou so em casa com seus país. Sua inocência a fez acreditar que a irmã s...