"Traz de volta já, o que uma vez foi meu" (80)

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Os dias foram passando e Maiara nem olhava pra mim. Eu não estou com tempo pra nada por estar com uma nova empresa em andamento. Acordava cedo e dormia tarde.

Meus pais estão morando aqui e eu mal dava atenção.

Naiara vinha todos os dias pra cá, ou elas saiam pro shopping. Como sei? Fernandes as acompanha, e no final, como quem não quer nada, pergunto como foi pra saber se algo rolou. Mas até onde eu saiba, nada além de amizade.

Já se passava de meia noite quando fechei o escritório indo até o quarto do meu pequeno, dando um beijo nele e lhe desejando boa noite. Ele dormia como um anjinho. Fiquei um bom tempo ali com ele o obcervando dormir e então pude ver seus cadernos na mesinha ao lado da cama. Resolvi olhar. Para não fazer muito barulho, eu tirei os saltos os deixando em um canto qualquer.

Fui até a mesinha, pegando sua agenda e vendo se a professora mandou algum recado. E havia. Havia solicitado que eu fosse até a escola o mais urgente possivel. Quando vi a data, me senti a pior mãe do mundo. Era de duas semanas atrás...

Me sentei ali na cadeira e olhei seus cadernos, talvez pensando que ele não estivesse fazendo as atividades ou algo do tipo, mas estavam todas feitas do jeitinho correto. Vi seu caderno de desenho, e ali as lágrimas começaram a descer. Ele sempre desenhava eu e ele...

Ali eu percebi a merda que eu estava fazendo com a minha família...

Tanto que lutei pra tê-lo de volta aos meus braços e agora eu não participo mais da sua vida.

Eu abandonei meu filho.

Fechei aquele caderno com o coração quebrado, então olhei a caixinha ali em cima. Tinha um envelope vermelho fechado com um adesivo de coração. Imediatamente eu lembrei do dia que ele entrou todo feliz no meu escritório e me entregou o envelope, mas eu estava com tanto trabalho que apenas o pedi para deixar ali que depois olhava. No final, não olhei. Ele deve ter pego de volta.

Abri pra ver o que era, e era um desenho nosso, logo atrás, uma cartinha com a sua letrinha.

Cartinha:

Mamãe, quando a senhora puder, brinca comigo? Eu tô com saudade...

Eu te amo muitão mamãe. Do tamanho do universo.❤︎

Off.

Guardei tudo aquilo e fui pro meu quarto, tirei minhas roupas e entrei no box ligando o registro. A água caia levando junto as lágrimas. Meu peito estava doendo por puro desgosto. Como eu deixei isso acontecer?

Eu deixei minha noiva se afastar, me afastei do meu filho.

Tanto que eu lutei pra tê-los...

Assim que terminei meu banho, coloquei um pijama e fui até seu quarto, me deitando ao seu lado, abraçando ele, que se aconchegou ali.

- Mamãe... - Disse de olhinhos fechados, com a voz rouca me abraçando.

- Dorme, meu amorzinho. A mamãe está aqui agora.

Ele sorriu, se aconchegando ainda mais em mim. Lhe dei um beijo nos cabelinhos e ali fiquei. Passei a noite acordada o vendo dormir como um anjo e pensando na merda que fiz com a minha família.

Quando o Sol nasceu, logo o dispertador tocou e ele acordou. Sorriu ao me ver ali, me abraçando.

- Bom dia, mamãe. - Ele diz animado.

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