Como é doce a inocência (01)

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Maiara:

Acordo cedo como todos os dias da semana.

Ainda com preguiça de abrir os olhos, me reviro na cama tampando meu rosto com os lençóis impedindo que a luz do sol pegasse em meus olhos. Estava quase pegando no sono novamente quando alguém puxa com brutalidade os lençóis.

- Mamãe! - A repreendo.

- Levante-se! Irá perder o horário do colégio.

Ela disse e saiu deixando a porta aberta.

Finalmente abri meus olhos podendo ter a visão do meu pequeno quarto. Nem sei se é adequado a chamar isso de quarto.

A pintura caia aos pedaços, a mesma era em tom branco mas pela sujeira estava cinza. Havia apenas dois colchões, uma cômoda com três gavetas pequenas e logo em cima um porta retrato com uma foto minha e da minha metade. O chão era de cimento.

Suspiro olhando para o colchão no chão ao lado do meu, ainda não havia me acostumado em não ser acordada pela chata da minha irmã mais velha com uma mera guerra de travesseiros.

Rio sozinha ao lembrar da chatice que era tê-la ali. Não me deixava dormir, me irritava todo o tempo. Mas estava feliz por ela encontrar alguém que a ame.

Recentemente recebemos a notícia que a família iria aumentar. Eu estava feliz demais por que vou ser titia pela primeira vez. Sempre foi meu sonho. Bom, eu quero muito ser mãe, mas tenho muito medo, então deixo essa parte para minha querida irmã chata.

Após as lembranças, me levantei, fui até a cômoda e peguei meu uniforme e roupas íntimas, caminhando até o banheiro, onde entro e fecho a porta.

O banheiro era tão simples como meu quarto e o resto da casa. Não entendo, vejo meus pais receberem uma boa quantia, principalmente do casamento da minha irmã, e não sei para onde vai essa bufunfa.

Bom, depois de um banho rápido e nada relaxante, eu estava tremendo de frio pela água gelada em meu corpo. Me sequei e coloquei minhas roupas, escovei meus dentes e penteei meus cabelos.

Eram ruivos naturais, batiam em minha cintura, bem perto de bater em minha bunda. Eu amava eles! Assim como me amava por inteiro. Óbvio, não tinha o corpo que os padrões de beleza queriam, mas eu me achava bonita e isso importava mais que tudo e todos.

Por eu ainda ser muito nova, meu corpo ainda estava se formando. Seios pequenos, cintura fina e uma bunda razoável, minhas coxas eram grossas e eu era baixa, 1,54 m.

Enfim, após terminar de me arrumar, sai do banheiro indo até meu quarto pegando minha mochila, calço meu tênis e coloco meu casaco.

Fui até meus pais dando pulinhos com um sorriso largo no rosto.

- Mamãe, papai, estou saindo. - Digo indo abraçar minha mãe.

Ela não hesitou em sair do lugar em que estava se desviando do meu abraço. A olhei confusa, mas era sempre a mesma coisa, ela nunca me deu o mínimo carinho, parece não gostar de mim.

Enfim, dei de ombros e abracei meu pai, ganhando a retribuição de meu ato, sentindo ele me apertar e dar um tapa em minha bunda rindo.

- Vá com Deus, minha filha. - Ele disse e me deu um beijo no pescoço.

Apenas sorri e sai dali rapidamente.

"O que acabou de acontecer?"

Caminho em passos apressados até meu colégio, assim que chego vou para minha sala, me sentando ali pondo minha mochila em cima da mesa, debruçando minha cabeça sobre a mesma.

Ali passo longas horas, voltando para a casa apenas as três e meia da tarde. Voltei cansada, pronta para um banho gelado e me jogar em meu colchão.

Mas infelizmente o destino não estava afim de fazer os meus planos deram certo...

Ao pisar em casa, escuto os gritos de minha mãe com alguém no celular, me assustei, mas fiquei calada.
Fui até meu pai que estava sentado no sofá vendo o jogo de futebol, dei um beijo em sua cabeça e fui até meu quarto deixando a mochila em um canto e pegando uma roupa para ir tomar banho, ouvindo os passos pesados e firmes da mulher mais velha em minha direção.

- Sábado a tarde você irá se arrumar belíssima, e sem perguntas!

- Mas...

- Apenas obedeça!

Ela saiu dali furiosa e eu fiquei parada pensando.

Hoje era sexta-feira. Nós nunca saíamos para algum lugar ou vinha alguém aqui. Aquilo me intrigou.

- Vá arrumar esta casa, imprestável! - Ela gritou de algum cômodo da pequena casa.

Eu não hesitei em obedecê-la. Troquei de roupa rapidamente e prendi meus cabelos em um coque desajeitado indo ao encontro das coisas que preciso para organizar essa bagunça.

A casa era feita apenas de tijolos e madeira, sem piso e pintura velhas já sujas e desbotadas pelo tempo, poucos moves caindo aos pedaços.

Começo pela sala, onde havia um mera sofá de dois lugares vermelho velho e rasgado, logo a frente uma televisão ainda com sua imagem em preto e branco, de antena e pequena, a mesma era apoiada em um móvel vermelho vinho também completamente desbotado e estofado.

Após passar a vassoura ali, passei um pano no móvel e  desliguei a televisão já que o mais velho já dormia. Então fui até a cozinha.
Ali havia apenas um fogão velho e sujo, uma pia repleta de louças sujas e os poucos mantimentos eram guardados em uma caixa de papelão que ficava no canto ao lado do fogão. Varri o chão, lavei toda a louça e limpei o fogão.

Fui até o quarto dos meus pais, que ao contrário do resto da casa, podíamos dizer que era um luxo. Havia uma cama box de casal no centro do quarto, logo na entrada uma porta de madeira detalhada com linhas pretas, um guarda-roupa grande completamente bagunçado por dentro, no chão um piso de porcelana branco, as paredes pintadas da mesma cor que o piso, cortinas amarelas combinando com a roupa de cama, uma televisão grande com a imagem colorida.
Arrumei tudo aquilo, incluindo dentro do guarda-roupa.

Estava exausta!

Lavei o banheiro que só havia o vaso sanitário, logo ao lado uma pequena pia e um pequeno box.

Ao terminar, tomei um banho, vestindo uma roupa leve e me joguei em meu colchão.
Apesar da casa ser pequena, varrer esse chão requer bastante energia. Dá trabalho. Já era quase seis da tarde, então escuto barulhos vindo do lado de fora, logo os identifico.

Sorri e me levantei indo até o lado de fora da casa, me sentando em uma cadeira velha que havia ali, ainda em baixo do telhado, sentindo o maravilhoso cheiro da terra molhada e escutando os barulhos relaxantes da chuva caindo sobre o chão.

Aquilo era uma terapia pra mim. Não tinha coisa melhor. Acalmava meu coração. Me fazia lembrar dos dias que choviam forte e eu arrastava minha irmã para nos molharmos inteiras e jogar terra uma na outra.
Era incrível!
Mesmo sabendo que depois apanhariamos por estarmos todas sujas de lama.

[...]

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