"Pra ter o corpo quente eu congelei meu coração"(43)

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- Léo... Mai...

Ela apertou minha mão e começou a se mexer muito chamando pelo nosso nome. Me apressei em fazer carinho em seu rosto delicadamente tentando acalma-la, até ela abrir os olhos ofegante.

- Cor de Mel. - Disse suspirando aliviada.

- Eu estou aqui, mamãe.

Ela continuou me olhando, me analisando com os olhos, parecia preocupada. Então, com os olhos cheios de água ela passou a mão por meu rosto, descendo por meu corpo, levantou minha blusa, me olhando por inteiro.

- Ela está bem, Lila...

- Eles não machucaram vocês, né? Alguém tocou em vocês? O Léo, ele está bem? Cadê ele? Isa, cadê meu filho?

Ela não conseguia falar direito, mas parecia desesperada com o fato de alguém ter tocado em nós. As lágrimas desciam sem parar e sua mão ainda insistia em checar se estava tudo bem comigo, mas era nítido que todo aquele movimento estava doendo.

- Mãe, eu tô bem. - Digo segurando sua mão, a levando novamente até a cama cuidadosamente.

- O Léo está bem, está no orfanato.

Ela não falou mais nada, apenas fechou seus olhos deixando que as lágrimas descessem sem parar.

- Eu só queria livrar você das mãos daqueles ordinários, e acabei metendo você num mar de monstros. Eu jurei pra mim mesma quando vi você daquele jeito que eu nunca iria permitir que alguém fizesse mau a você e eu falhei miseravelmente. - Ela disse entre soluços.

- Do que está falando? - Perguntei confusa.

- Ah ruiva... Nada foi em vão, desde as pesquisas sobre você, a sua inicial na nossa marca, aquele leilão... Eu não conhecia você só pela internet, eu não comprei você por nada, nem com segundas intenções. Eu só não queria que ele fizesse o que fez com todos que confiavam nele.

Isa se aproximou e com cuidado secou duas lágrimas, mas continuavam descendo sem parar.

- Você precisa se acalmar.

- Será que alguém pode chamar o médico?

- Pra que?

- Eu quero um remédio, meu corpo está doendo muito...

- Eu vou lá.

Minha irmã foi atrás do médico e eu me aproximei dela.

- Você tem certeza que está bem? Por favor, não mente pra mim.

- Eu tô bem. Você que não está...

- Eu só queria tirar vocês dali, mas começaram a me empurrar de um lado pro outro, eu estava tonta e acabei caindo no chão, daí pra frente só sentia os chutes...

- Uma hora isso acaba, loira.

- Eu sei... Quando conseguirem o que querem. Quando me acertarem um tiro em cheio, ou uma surra bem dada, veneno, e outras coisas que eles podem pensar pra me matar. Enfim, uma hora eles vão conseguir, e eu espero imensamente que esse dia... - Ela suspira. - Se continuar dessa maneira, espero que esse dia chegue logo.

- Nunca mais repita isso!

Ela me olhou tão triste...

- Deita aqui comigo? Por favor. Eu... Eu não tô bem, e só você consegue me acalmar.

- Melhor não, posso machucar você.

Ela não insistiu, apenas continuou me olhando. Já não havia mais brilho ou qualquer resquício de esperança em seu olhar. E ela mesmo assim continuava me analisando. Respirou fundo e aquilo pareceu doer. Em movimentos lentos, ela se virou de costas pra mim, e só então pude escutar ela tentar controlar sua respiração e o choro.

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