Madelaine
Matteo estava sentado no chão do quarto, escorado em sua cama enquanto eu estava trancada no banheiro fazendo xixi em um potinho de plástico, o coloquei sobre a bancada da pia e coloquei o palito do teste dentro dele, e abaixei a tampa do vaso me sentando nele com as mãos no rosto, batendo meus pés no chão, com medo, sentindo todo meu corpo tremer, eu nunca passei por isso, nunca fiz um teste ou tive medo de estar grávida, sempre fui muito certa com meus anticoncepcionais e com camisinhas, mas por que eu vacilei UMA VEZ, isso acontece comigo? Não, não vai ser, vai ser apenas um susto.
Levanto o rosto após alguns minutos e caminho até lá, olhando as duas listras no palito e nego, mordendo meus lábios, em choque, não pensei em nada, apenas passei a mão no rosto e abro a porta do banheiro olhando meu melhor amigo levantar o rosto e me olhar nos olhos, e eu sabia que ele saberia a resposta, ele não precisava nem me perguntar.
Pisquei algumas vezes e me abracei com meus braços tentando dizer algo, mas nada saiu, Matteo se levantou, passou a mão na nuca e me abraçou, apoiei o rosto em seu peito e chorei em silêncio, sentindo o beijo no topo da minha cabeça.
— Estamos juntos nessa, sabe disso, não sabe?
Sua voz rouca soa e eu apenas choro mais, não era questão de estarmos juntos nessa ou não, tudo mudaria, minha vida mudará no segundo que eu sair desse choro, eu não posso acreditar que vou ter mesmo uma coisinha dentro de mim, eu não poderia estar grávida, ainda mais do Matteo, eu e ele não... não estava nos planos. Minha vida não está preparada pra receber alguém, alguém que depende de mim.
— Matteo, não posso — nego tirando a cabeça de seu peito e ele me olha e eu me afasto dele — não posso ter.
— Mad — ele diz e eu seco o rosto, negando novamente.
— Eu e você nem se quer somos um casal — digo e ele apenas continua me encarando — eu moro em Estrasburgo, minha vida só está pausada, eu irei retornar e isso... seja o que for, não está nos planos.
— Eu sei — ele diz tentando manter postura calma, mas sei que ele não está calmo com isso — eu ainda estou processando isso, talvez possa ter dado errado, transamos sem camisinha, mas eu tomei cuidado.
— É tudo que eu quero agora Matteo, descobrir que isso é um erro. Por que se não for, se não for Matteo. Eu não terei.
— Se você estiver mesmo, depois falamos disso.
Concordo e ele passa a mão no rosto e se senta na sua cama, ouvimos batidas na porta e seco meu rosto indo pra sacada, ouço a voz da Geórgia e fecho meus olhos e respiro fundo.
— Fizeram o teste? — ela pergunta e não ouço resposta do Matteo, e me viro notando que ele não olhava pra ela.
— Já fez algum teste desse? — pergunto, já que o teste que fiz ela que me deu.
— Sim, qual foi o resultado? — ela pergunta ansiosa e eu molho os lábios.
— Tem como dar errado?
Pergunto e ela me olha e encara o Matteo e coloca a mão sobre a boca, mas sorri, meio que nervosa e tensa, mas nega rapidamente entre o sorriso.
— Não, nunca deu errado comigo, sempre deu negativo — ela diz e eu sinto meus olhos marejarem novamente, encaro o Matteo que estava sério encarando o chão.
O jantar foi por água abaixo, eu não sai do quarto e nem quis mais ver a Gardênia, que por sorte não é inconveniente como sua irmã e não veio até nosso quarto. Entre o edredom eu estava pensativa, encarando o abajur aceso, e sentindo o cheiro do cigarro do Matteo vim da sacada. E choro quando sinto o cheiro me incomodar, o medo de tudo isso ser real começa a me fazer sentir enjoo.
— Matteo — me sento na cama.
Ele aparece em seguida, e seus olhos mantinham o mesmo medo que o meu, tiro o edredom pra que ele sente, e ele mexe em seu cabelo antes de sentar.
— Se eu estiver mesmo grávida...
— Quer mesmo ter essa conversar sem antes de ter a certeza? — sua voz soa rouca.
— Preciso saber, estou pirando — digo e ele assente.
— Amanhã cedo te levo no médico — ele diz e eu concordo.
— Seria muito azar, não é possível — lamento e ele me olha — já aconteceu antes?
— Saberia se eu já tivesse engravidado alguém, não acha?
— Por que justo eu? — choro e ele respira fundo e encara meu rosto.
— Se for pra acontecer mesmo, que bom que foi você e não qualquer mulher que eu já tenha ficado — ele diz sério e eu encaro seus olhos por alguns segundos, e nego chorando, e ele me puxa pra ele, me deixando chorar em seu ombro.
...
E eu mal dormi, e ele também não, já que ficou fazendo carícias em meu cabelo até que eu pegasse no sono, e na manhã seguinte eu me arrumei o mais rápido possível e sai com ele da mansão, ignorando Geórgia e seu olhar de julgamento, não sabia se ela estava contente ou se preocupada, ou talvez os dois, nunca entendo Geórgia por completo. A caminho da clínica não trocamos nenhuma palavra, quando chegamos Matteo fez minha ficha e esperamos ser chamados, o que foi bem rápido. A moça educada tirou meu sangue e me disse que o resultado sairia no fim da tarde, o que irritou.
— Não tem como ser antes? — Matteo pergunta encarando o médico que estava atrás da moça.
— Matteo Delacroix — ele o cumprimenta com aperto de mão.
— Dr Héctor, tem como acelerar esse exame?
— Em duas horas — ele diz e eu não reclamo, melhor do que esperar o dia inteiro.
— Agradeço — Matteo responde.
— Soube que se casou — o médico diz me olhando — planejando uma família?
— Não estava nos planos ainda — Matteo diz e a enfermeira me olha e desvio meu olhar.
— Talvez dê negativo — a moça diz ao me olhar e eu apenas concordo.
Matteo se despede do médico e sai comigo da clínica, que observo placas sobre aborto nas mãos das mulheres que gritavam enfrente a clínica.
— Está com fome? — Matteo pergunta ao abrir a porta do carro pra mim e eu nego.
— Tem clínicas que são profissionais, não tem? — pergunto e ele me encara ao entrar no carro e vê que eu olhava para as mulheres e as placas.
— Mad, não — ele diz e eu o encaro.
— É uma opção.
— Não é — ele diz mais sério — se estiver mesmo grávida, vamos assumir isso juntos, não está no plano um aborto.
— Isso também não estava nos planos, não percebeu?
— Não faria isso — ele nega — conheço você o bastante pra saber que não faria, só é o medo te deixando fraca, não vê isso? Sempre falamos sobre por que merda nossos pais nos deixou na porta de um orfanato, se lembra disso?
— Não é a mesma coisa — digo e ele concorda.
— Realmente não é, fomos deixados pra madres cuidar da gente, já você, quer matar antes dele ter ao menos a chance de ser criado por outra pessoa.
— Está sugerindo que eu deixe ele em um orfanato como a gente? — pergunto encarando seu rosto e ele nega, fechando os olhos com calma e depois me encarando.
— Não precisamos escolher nada Mad, se estiver, temos que assumir o que fizemos.
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REDLOVE / A cor mais quente
RomanceMatteo não esperava que sua vida fosse mudar depois de um simples acordo com sua melhor amiga, ele sabia que Madelaine aceitaria, só não sabia que ela se apaixonaria. E Madelaine é durona demais, pra assumir que ela caiu no papo dele, que ela é mais...