Capítulo 3

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Micaela realmente precisou ser cuidada. A viagem a enfraqueceu, seus pés estavam cortados demais, mal conseguia andar. Passou duas semanas escondida no quarto de Ian, sendo alimentada pelo mesmo, que passou a dormir no chão para ceder sua cama a ela. Mas então estava pronta.

- Então lhe levarei até Nina, ela lhe dará instruções. Me espere aqui, só um instante. – Micaela assentiu com a cabeça.

Ian se afastou logo sumindo. Micaela se sentia insegura, mas procuro relaxar. Olhou a estrutura do castelo, era enorme. Com vários pátios e torres. Apostava que alguém já devia ter se perdido ali dentro. Mas era muito bonito... E olha que ela nem sabia quem estava dentro dele.

- Quem é você? – perguntou, e Micaela tremeu em choque. Seu rosto procurou Ian, mas ele ainda não havia voltado. Ela se virou, respirou fundo.

- Micaela. – Disse tentando se acalmar – Ian me enviou para trabalhar.

- Ian sempre me enviando problemas que eu não posso resolver. – Disse suspirando. Ela avaliou Micaela de cima a baixo. – Venha comigo. – Disse virando as costas passando pelo portão do pátio do castelo.

Micaela a acompanhou. Passando pelos enormes portões de ferro. Nem acreditava em sua sorte. Chegara ao destino, estava salva. Nina, por sua vez era rígida demais. Explicou a Micaela o que devia fazer de modo rápido, ela mal podia entender e lhe entregou uma pilha de uniformes levando-a em seguida ao seu quarto. Micaela nem havia tido tempo de respirar quando Nina saiu dizendo que ela tinha apenas 15 minutos para se apresentar a ela, não lembrava onde.

Micaela olhou o quarto. Era pequeno, havia apenas uma cômoda, uma cadeira, um espelho e uma cama. Mas era acolhedora. As paredes eram beges, a cama parecia confortável. Micaela foi até a cômoda, abrindo uma das gavetas. Mais vestidos iguais. Uniforme de trabalho. Exceção há alguns mais simples, mas largados. Que pelo que Micaela sabia era usado quando se ia lavar roupas, tinha uns desses em casa. Usava quando ia até o rio com a mãe, lavar roupas.

- Então vamos. – Disse pondo a pilha de vestidos que nina lhe deu na cama, que estava forrada com lençóis brancos simples. Só havia um travesseiro.

Micaela se trocou sozinha. Demorou mais para conseguir puxar os cordões do espartilho sozinha, mas por fim estava pronta. O vestido era cinza, sem detalhes, sem decotes. Os vestidos daquela época já haviam perdido a saia balão, mas tinham por baixo umas 15 camadas de tecido debaixo da saia, o que fazia volume e peso. Micaela parou em frente ao espelho, pegando os cabelos. Nina lhe criticará os cabelos. Ela os enrolou, prendendo-os com um grampo deixando os cachos e o tamanho em um rabo de cavalo baixo. Calçou as sapatilhas que lhe foram indicadas, e saiu.

- Pensei que não viesse mais. – Disse revirando os olhos. – Pelo menos vestisse o uniforme corretamente. Agora ouça, para começar apanhe os coadores e os panos da cozinha, e os leve para a lavanderia. Há um setor lá para esse tipo de coisa. – Micaela assentiu. – Quando voltar, reponha tudo com peças limpas. Encontrará tudo o que precisa na dispensa, depois encontrara instruções para seguir o trabalho. Entendido?

- Perfeitamente. – Assentiu, Nina saiu.

- Não tenha medo. Ela é assim mesmo, alguns dizem que tem o diabo no corpo. – Micaela riu de leve, ainda acanhada. – Sou maria, a cozinheira.

- Faça o que ela mandou. Aqui estão os coadores. – Disse apanhando vários pedaços de pano anteriormente brancos, mas com borras de café, pondo em cima de um balcão. – E aqui os panos. – Disse em seguida catando vários panos de prato e flanelas, juntando a pilha. – Siga em frente pelo corredor dos quartos dos empregados, depois vá pelos pátios dos fundos. Não terás dificuldade para chegar à lavanderia. – Micaela assentiu, apanhando abraçada de toalhas e saiu.

Na verdade, ela teve dificuldades. Mas por fim chegou a área da lavanderia. Várias mulheres estavam lá nas poças, lavando roupas ou engomando-as. Micaela procurou até encontrar o lugar onde deveria largar o que trazia em mãos. Depois foram outras dificuldades para encontrar a dispensa. Por fim, tinha uma braçada de toalhas e coadores limpos em mãos. Voltou a cozinha e começou a separá-los.

- Depois poderá ajudar com o almoço, assim ela te deixará em paz. – Disse Maria mexendo um tacho enorme que estava no fogo.

- Obrigada por me ajudar. – Disse Micaela grata, separando os coadores das toalhas.

Então...

- Bom dia. – Disse a voz grossa vindo detrás dela. Micaela endureceu.

Micaela abaixou a cabeça encarando as toalhas na mesa. Joseph só via o longo rabo de cavalo discreto que caia por suas costas. Pelo uniforme era uma empregada. Ele não estranhou, os empregados em geral baixavam a cabeça antes de falar com ele.

- Maria, sabe onde estás a Srta° Nina? – Perguntou inalterado.

- Saiu daqui dizendo que iria cuidar da menina Suri, senhor. – Micaela continuava imóvel.

- Bem. – disse pensativo. – Quando ela voltar mande que me procure. E sirva mais um lugar a mesa, o mensageiro de Nicolas está aqui.

- Sim senhor.

Joseph virou as costas e saiu. Micaela respirou em uma golfada violenta, se aparando na mesa.

- Está tudo bem? – Perguntou Maria a observando-a.

- Sim, foi apenas uma vertigem. – disse voltando ao trabalho.

Ela escapara. Pelo menos dessa vez.

Se entregando ao inimigoOnde histórias criam vida. Descubra agora