Capítulo 6

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Suri estava aborrecida. Não deixou que Nina a cuidasse, tampouco estava se divertindo. Foi quando Joseph entrou na sala onde ela estava.

- Meu anjo. – Disse com a voz cortada de preocupação, apanhou o rosto dela entre as mãos. -Estas feridas? Te machucaram? Estas bem?

- Ai... papai! – Ralhou e Joseph a olhou ansioso. – Estou aborrecida com o senhor. – Disse emburrada. Joseph franziu o cenho.

- Como?

- Eu estava me divertindo! E um brutamontes me trouxe a força! Deviam ter me ouvido, não deviam?

- Onde ela estava? – Perguntou olhando Nina.

- Na lavanderia, senhor. – Respondeu mortificada.

- Onde? – ele olhou Suri – O que fazias na lavanderia?

- Estava limpando a tapeçaria. – Disse enfezada.

- LIMPANDO? – perguntou incrédulo – Quem foi... – ele não encontrava palavras – Quem?

Micaela recobrou a consciência, mas não consegui abrir os olhos. Pareciam se negar a quererem abrir doíam. Todo seu corpo doía. Sua barriga principalmente. Havia algo molhado em seu rosto. Depois ela viria a descobrir que era o próprio sangue. Braços a mantinham de pé, mas suas pernas não. Ela tentou se amparar nas penas. cambaleando.

- Senhor, ela acordou. – Informou.

Os minutos que vieram em seguida foram uns piores que Micaela se recordava. Seu cabelo havia se soltado, ela não enxergava direito e uma voz grossa lhe exigia algo. Ela respondia então os golpes vinham até ela. Machucando, agredindo. Sua boca só tinha gosto de sangue, e ela não entendia o que mais a voz queria dela, se ela já havia dito tudo!

- Joseph estava te procurando... Pelos deuses. – Exclamou ao ver o estado de Micaela. Sob o olhar de Joseph outro guarda ergueu a mão e esmurrou a barriga dela que frágil, tossiu. Joseph permaneceu quieto. – Parem com isso! Joseph, que diabos significa isso?

- Por que tirou a menina do castelo? – perguntou pela milésima vez. Micaela soluçou em seu choro.

- Eu não sabia quem era, por deus. – Disse com a voz cortada pelo choro. – Ela só me pediu para sair.

- Ah sim, tu não sabias quem era? – Perguntou descrente. Sob a ordem do olhar dele Micaela apanhou mais uma vez. O murro agora atingindo-lhe o rosto. – Eu tenho o dia inteiro.

- Joseph, seja racional. Ela não fez mal a menina pare com isso! É brutal! – intercedeu. Joseph não se demoveu – Joseph se não parar de torturar essa mulher, sairei dessa sala agora. Irei apanhar minha esposa e me retirarei. – Joseph o encarou. – Não vou compartir disso.

Joseph teve que recuar perante a ameaça. Precisava de todo o apoio possível. Nicolas não poderia ir embora e levar suas tropas, seria desastroso.

- Que seja. – Disse sorrindo debochado. Então se virou para os guardas que mantinham Micaela de pé. – Matem-na. – Ordenou, virando as costas para sair.

Micaela ouviu a ordem e não se opôs. Sabia que não tinha chance, só sofreria mais. Era uma pena, ela se saiu bem na primeira semana. Chegou a achar que poderia construir uma vida. As mãos em seus braços a ergueram, arrastando-a. Então veio um rugido furioso.

- Como? NÃO! – rugiu furioso. – Vai matar esta mulher só porque tirou a menina de dentro do castelo?

- Já fiz mais por menos, não seja dramático por favor. – Disse se virando já quase na porta.

- É monstruoso. Se soubesse desse teu aspecto pensaria melhor em te apoiar Joseph. – Criticou – Não vão matá-la, soltem-na. – Disse avançando. O rosto fechado, os olhos de um azul claro feito uma águia raivosa. – AGORA! – rugiu raivoso.

Os soldados não sabiam o que fazer. Nicolas estava furioso, mas não podiam contrariar a ordem de Joseph. Joseph observou a cena frio, lhe deu as costas e saiu.

- Não me fiz claro? – perguntou com os olhos se dilatando de raiva. – EU DISSE AGORA!

E pela falta de objeção de Joseph largaram Micaela saindo dali. Ela caiu no chão tossindo, largada. Nicolas se abaixou levando os dedos até o pescoço dela, para sentir sua pulsação. Micaela nem sabia quem era, mas já era grata.

- Há alguém que possa cuidar de ti? – Perguntou vendo o estado deplorável dela.

- Eu não sei... mas ficarei bem. – Disse sem ter muita certeza. – Obrigada.

- Faça um favor a si mesmo. Não te aproxima mais daquela criança, eu não vou estar sempre para deter ele. – Aconselhou, se levantando. E saiu dali.

Alguns minutos depois, rompendo o silencio absoluto, houve passos acelerados. E uma mão apanhou seu rosto.

- Micaela, o que fizeste? – Perguntou Ian e Micaela caiu no choro, soluçando.

- Eu não sabia! Eu juro por deus que não sabia Ian. Ai! - gemeu quando ele tentou erguê-la.

- Como não sabia, meu deus.

- Hades disse a todos que a menina havia morrido com Camila. Eu não sabia que era viva. – Ian a olhou penalizado.

- Ele viu teu rosto?

- Eu não sei, quando acordei já estava aqui. Era Joseph, Ian? – Perguntou e ele percebeu que ela tremia.

- Era. – disse pesaroso. – Mas se acalme, eu vou cuidar de você. – Disse apanhando-a nos braços.

Ian levou Micaela para os fundos do castelo, atrás dos dormitórios. Lhe tirou o vestido, deixando com as roupas debaixo e a colocou numa tina cheia de água. Trazia baldes com água limpa ajudando-a se lavar. Depois de remover o sangue do rosto, conseguiu abrir os olhos com certa dificuldade. Pediu a ele que jogasse água em seus cabelos, e ele jogou. Ela respirou fundo tentando se acalmar. Graças a voz que a salvou, estava viva. Após algum tempo a dor começou a ceder.

- Obrigada. – disse quando Ian banhou-se com o último balde de água.

- Não vai poder aparecer por um bom tempo. -Avaliou.

- Por quê? – perguntou confusa.

- Está marcada, Micaela. Teu rosto. – disse vendo as marcas roxas começando aparecer. – De qualquer forma acho melhor não aparecer na vista de Joseph por agora. Enquanto estiver machucada vai ficar no quarto, vai melhorar e sumir da memória dele com a ajuda de deus. – Disse e Micaela assentiu se abraçando. – Não posso te levar vestida assim. – Analisou a roupa debaixo dela. Como a de todas as mulheres era branca, agora transparente e com manchas vermelhas pelo sangue. – Buscarei uma capa minha e te levarei ao quarto com ela, lá tu te vestes, sim? – Micaela assentiu.

Ian tirou Micaela da tina de água, pondo-a sentada em um banco e a enrolou com uma toalha sumindo por instantes. Voltou com uma capa cinza, na qual a envolveu carregando-a em seguida. Teve que deixá-la sozinha pois precisava voltar ao trabalho. Micaela se vestiu pondo a roupa debaixo e uma camisola, e parou para se olhar no espelho. Seu rosto estava machucado, a boca partida, o rosto inchado meio roxo. Ela se lembrou da ordem "matem-na" e agradeceu a deus por ter sobrevivido só com aquilo.

Haveria roxos em seus braços e sua barriga doía também, mas ela não lamentou. Trataria de sumir da vista de Joseph e com alguma sorte, sobreviveria. Foi se prometendo isso que ela apagou a vela do quarto, se deitando com certa dificuldade pela dor no corpo, e se aconchegando na cama. O colchão nunca lhe pareceu tão bom, tão acolhedor. Ela se encolheu como um bebê abraçada a coberta, ouvindo o barulho distante da chuva que começava a cair. Então dormiu exausta e machucada

Se entregando ao inimigoOnde histórias criam vida. Descubra agora