Capítulo 54

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Micaela dormiu muito. Joseph não deixava ninguém se aproximar dela, nem ao menos olhar em sua direção. Ele sempre a lembrava de tomar seus chás no tempo certo. Mas ela dormia logo em seguida, após ser colocada na cama. Estava pálida, o que destacava as manchas roxas e inchados do corpo. Joseph estava agoniado.

- Eu estou bem aqui. – disse segurando a mão dela, que o olhava sonolenta. Ela teve convulsão durante a madrugada, chegou a tossir sangue, mas não vomitou. – Qualquer coisa que precise...

- É so olhar para você. – comentou sorrindo de canto – Eu estou tão... – ela suspirou, olhando para frente. E dormiu. Joseph viu aquilo como uma derrota. Ele pôs a mão dela de volta a cama e se sentou, respirando fundo. Foi quando Zach e Vanessa entraram após bateram na porta.

- Por que ela dorme tanto? – perguntou angustiado.

- Pense nas surras que ela levou e a deixe dormir. Antes adormecida do que morta.

- Não tive a oportunidade de agradecê-la. – disse olhando a direção de Vanessa. Ela dispensou com o rosto sorrindo. – Por que me pediu para soprar ar para ela? – lembrou

- Acredite, não iria querer que eu tivesse o sangue dela em meus lábios. – respondeu se aproximando da cama, e Zach riu gostosamente. Ela tocou a veia do pescoço de Micaela. – Você a alimentou?

- Ontem a noite. Ela não acordou ainda desde então.

- Só esta fraca. – disse observando – E esse osso está quebrado, alguém devia ter tomado providência disso, não virão? – perguntou, apanhando o braço de Micaela sutilmente. O pulso realmente estava em um ângulo ruim.

- O médico não disse nada. – disse preocupado, olhando.

- Me dá licença? – Joseph assentiu. Vanessa chegou os ossos de Micaela rapidamente, braços, pernas, dedos. Apenas um pulso partido. – É, apenas o pulso. E duas costelas, se não me engano. – Joseph gemeu. Micaela continuava em seu sono tranquilo. – Eu acho que tenho algo. Com licença. – e ela saiu.

- Ela é sempre assim? – perguntou para Zach, olhando Micaela.

- Encantadora, não é? – perguntou orgulhoso – Escute, defenderei você na suprema corte.

- Defenderá?

- Acredito que Nicolas e Robert também. Você não fez nada, não merece ser punido. - disse com as mãos nos bolsos – E também, não entrei nessa guerra para perder.

- Você entrou? – perguntou admirado.

- É divertido aqui. – disse tranquilo, como se justificasse.

- Obrigado. – Zach assentiu. Nessa hora, Vanessa voltou. Trazia algo nas mãos.

- Van... Vanessa, em nome de deus, o que é isso? – perguntou confuso.

- Espartilhos são realmente objetos curiosos. – disse, se sentado ao lado de Micaela.

Vanessa tinha rasgado um espartilho. E com a espátula de aço, apanhou o pulso de Micaela, pondo a espátula cumprida que ia do pulso ao cotovelo debaixo do braço. Micaela se remexeu quando Vanessa sutilmente pressionou seu pulso. Levando o osso torcido de volta ao lugar. Em seguida atou todo o braço dela, imobilizando fortemente, mantendo a espátula lá. Micaela havia voltado ao seu sono. No final, ficou como um braço engessado.

- Vai funcionar. – garantiu.

- Chamarei o médico novamente. – disse acariciando a mão de Micaela. Zach observava Vanessa como quem observava um troféu caro.

- Preciso de apoio antes que as costelas dela começam a se reagrupar fora do lugar. – disse parecendo falar consigo mesma. – Zach, me ajude?

- Sempre, o que quer? – perguntou se aproximando.

Vanessa passou as duas mãos debaixo da coluna de Micaela, erguendo-a levemente...evitando as costelas. Por fim Micaela gemeu de dor, franzindo o cenho.

- Hum... – gemeu, puxando uma golfada de ar.

- Segure-a. – pediu, e as mãos de Zach substituíram as delas. Ela apanhou um travesseiro pondo-o embaixo de Micaela, o que a faria ficar na posição correta.

- Eu estou olhando para você agora. – disse olhando para Joseph.

- É para o seu bem, perdoe. – disse e ela respirou fundo, sentindo Zach deixar o corpo dela relaxar sob o travesseiro. A dor começou a ceder.

- Isso não é permanente, mas se seguir assim, não demorara muito. – observou.

- Obrigado. - Micaela o encarava.

- Vamos deixá-los a sós. – disse e apanhou a mão de Vanessa, levando-a. Logo os dois estavam sozinhos.

- Eu estou toda quebrada, não é? – perguntou rouca – Devo estar horrível.

- Segue linda. – disse beijando a mão dela – Nunca vou me cansar de pedir perdão.

- Quando eu melhorar, lhe darei tapas sempre que insistir em pedir. – disse e ele sorriu. – Não há o que perdoar.

Nesse instante bateram na porta. Joseph deu autorização, era uma criada.

- Senhor... a menina Suri desmaiou. – informou. Joseph gemeu, se levantando.

- Desmaiou? – perguntou confusa. Suri sempre foi saudável.

- Ela entrou em greve de fome, desde que você sumiu. Aliás, em greve de tudo. Eu sabia que isso ia acontecer. – rosnou consigo mesmo – Ficará bem?

- Dormirei antes que chegue ao quarto dela. – prometeu sorrindo. Ele assentiu.

- Já volto. – e saiu indo ao quarto da menina.

Micaela suspirou, fechado os olhos. Dormiu, quase de imediato. O silencio e o conforto dali fizeram bem para ela. O problema que Joseph esqueceu de fechar a porta da torre. Que pena

Se entregando ao inimigoOnde histórias criam vida. Descubra agora