Capítulo 57

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Demorou mais três semanas até termos algum progresso. Suri lembrava, frequentemente que o pai só tinha mais uma semana em seu acordo. Foi a essa altura que os médicos liberaram Micaela das ataduras, recomendando-a apenas que não fizesse movimentos bruscos na primeira semana. Ela arfou, sentindo-se arder e ele a olhou, preocupado. Micaela, vestia um bustiê e a roupa debaixo, a barriga agora exposta.

- O que? – perguntou alarmado.

- Queima. – comentou respirando.

- É de rotina. – explicou.

- Mas por quê? – o medico hesitou. Não havia explicação para essas coisas.

- É apenas sangue correndo solto pela pele. Já vai passar. – disse, com um livro na mão parada ao canto. Micaela e Joseph a olharam – É apenas sangue, acredite. – tranquilizou, satisfeita voltando ao livro. Os dois ainda olhavam meio surpresos. De onde ela saiu? Micaela se virou para Joseph e sussurrou: Ela estava ali?

- Está passando. – disse respirando fundo.

- Como eu disse, sangue. – disse passando a página do livro.

- Bom, pode voltar as suas atividades normais. Sua mão, no entanto, demorará mais algumas semanas. Repouse uns dias, fará bem.

- É de uma utilidade. – murmurou consigo própria, passando os olhos pela páginas. O médico a olhou – Eu acompanho o senhor. – Ambos saíram, e Joseph e ela sorriram.

Micaela se esticou, respirando fundo e sorriu. Era bom respirar livremente.

- Graças a deus. – agradeceu – Ei, não se estique tanto. – Micaela o encarou incrédula. Ela se deitou novamente, se espreguiçando, obviamente desobedecendo, e ele suspirou – Sempre teimosa.

- Tens olheiras. – disse deitada, observando.

- Não tenho dormido bem. Remorso não é um sentimento fácil de lidar, e isso eu tenho de sobra. – disse e tocou o nariz dela – Mas estou feliz que está se recuperando.

- Não tens motivo para sentir remorso.

- Não. Apenas alguns... muitos fatores. - disse, os dedos brincando com a pele da barriga dela, agora vermelhinha. Sangue.

- Quantas vezes eu vou ter que repetir.

- Cada vez que eu colocar meus olhos em você, sentirei remorso pelo que te fiz. Fui um monstro, e você nem era culpada. – disse, os olhos distantes – É nessa história toda. Reis não sentem. Agem com a razão, não com a emoção. Só não sentem. Se um dia eu tiver um filho... não farei com ele, mas a vida fará. É um fardo.

- Será um ótimo pai, como é para Suri. – disse, acariciando a olheira dele. O carinho entre os dois era natural, acontecia mesmo sem ser planejado. Joseph riu de si próprio.

- É claro. Suri a proposito está com uma greve de fome. – lembrou, Micaela riu de leve – Quando você sumiu, ela disse que me odiava. – disse e hesitou – Mais um ponto em que eu fracassei: ser pai.

- Ela não o odiava, acredite, eu sei. Ela só devia estar com raiva. – Joseph assentiu quieto. O silencio demorou um minuto inteiro.

- Você...ainda me ama? – perguntou, e ela ergueu os olhos vendo os olhos verdes dos dele intenso, encarando-a.

- Eu nunca deixei de te amar. – respondeu calma. Não sabia o que aquilo significaria, o que ele queria ouvir, mas era a única verdade que tinha.

Se entregando ao inimigoOnde histórias criam vida. Descubra agora