Capítulo 20

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Micaela teve febre pela manhã seguinte, efeito do aborto. Sua boca estava seca. Ela se retorceu na cama, o corpo suava se encolhendo, quando uma voz a chamou.

- Não passa bem? – perguntou a voz feliz por vê-la naquele estado.

- Vá para o inferno... – murmurou, a garganta seca. – Você, ele, todos vocês... me deixem em paz.

- Eu queria que ele estivesse aqui para vê-la assim, caída e derrotada. Gostaria de ver o deslumbre sobreviver a isso. – disse vitoriosa.

- Eu quero que ele vá para o diabo que o carregue. E que leve você junto. – disse engolindo em seco. Ela adia em febre.

- O que você pensou? Que ele fosse assumir o filho bastardo? – Micaela rosnou, estava fraca.

- Não fale do meu filho. – ordenou, perdida na escuridão. Abrir os olhos lhe causava dor de cabeça – Saia daqui, saia agora! – Nina riu – Eu vou me recuperar, e você vai pagar por isso. Eu juro por deus, nosso senhor que tu vais se arrepender de tê-lo feito, Nina.

-Achou o que? que fosse criar o bastardinho e ainda colocá-lo ao lado de Suri como seu irmão, como seu igual. – perguntou debochada.

- Eu vou melhorar. – Ela riu de leve. Fazer aquilo como enfiar farpas de madeira abaixo das unhas. – E eu vou ser sua sombra, se acha sua vida ruim, eu vou transformá-la no inferno. Eu prometo. Me mate agora enquanto você ainda pode, Nina. Porque quando eu me levantar você vai pagar.

- Isso é uma ameaça, vossa alteza? – perguntou debochada e riu em seguida.

- É um aviso. Saia daqui. Agora! – ordenou se virando de costas.

Pelo som do riso se afastando, Nina havia ido. Mas Micaela não esquecera dela. O aviso estava de pé.

Micaela levou dois dias de cama. Nina não lhe levou comida, e ela só conseguia beber água na madrugada no primeiro dia. Mas enfim, estava bem. Fisicamente. Algo em si havia se quebrado se partido, ido embora junto com seu bebê. Um sentimento desconhecido se apossou dela

Nina pagaria, e Joseph... Ah Joseph, por que fizeste isso comigo? Ela tomou banho e se vestiu parando em frente ao espelho. Seus olhos pareciam estar sem vida, ter perdido o brilho. Tinha no rosto toda a maturidade que uma mulher poderia ter. Envelhecerá 10 anos em apenas 2 dias. Nina pagaria, mas contra Joseph não poderia fazer. A não ser...

- Pois que ele fique com o que gosta. – disse consigo mesma. A ânsia da vingança era o que a mantinha de pé.

Ela penteou o cabelo minuciosamente, com cuidado. Quando os cachos estavam sedosos sob seus ombros, ela pegou uma tesoura no armário. Apanhou os cabelos reunindo-os e o cortou sem dó. Ficou na altura dos ombros, reto e liso. Ela viu seus cachos nas mãos. Apanhou um elástico e os amarrou, guardando em uma gaveta. Haveria seu tempo.

Se olhou novamente no espelho. Seu rosto parecia ter envelhecido ainda mais com o cabelo curto. Ela o jogou para frente, e logo uma franja também lisa, estava em sua testa. Se ele amava tanto seu cabelo, ela não o teria mais.

- Bom dia. – disse de cara fechada, entrando na cozinha. Nina uma das criadas e a cozinheira pararam olhando Micaela. Parecia outra mulher. – Suri, ela já acordou?

- O que... o que está fazendo? – perguntou meio suspensa. O rosto de Micaela não parecia a mesma, não tinha mais aquela alegria fútil e irritante. Havia algo no olhar dela que assustava.

- O que acha que estou fazendo? - perguntou apanhou uma bandeja – Alguém sabe dizer se a menina acordou ou eu preciso checar?

- Eu não sei... Se você deve cuidá-la. - Micaela parou virando o olhar para Nina. Parecia algo mecânico.

- É o meu trabalho.

- Ainda sim... – disse receosa.

Micaela ia saindo, mas se deteve. Ela se aproximou de Nina, os olhos azuis sendo duas pedras de gelo, e sua voz era mais fria ainda quando falou.

- Você realmente deveria ter me matado quando teve chance. – disse em baixo tom, assim somente Nina a ouviu saiu.

Suri por fim estava acordada, Micaela voltou a cozinha e apanhou a bandeja do café levando a menina. Não tinha raiva de Suri, a menina era inocente, não sabia do que o pai havia feito. Nem saberia.

- O que houve com você? – perguntou acanhada largando o copo na bandeja.

- Estive doente. – disse sentando ali perto – Por isso não vim.

- Me contaram que tu estavas doente. – Micaela assentiu tentando esboçar um sorriso. – Mas seu cabelo... – lamentou vendo o cabelo curto, reto liso e com franja.

- É mais prático assim. – mentiu – Termine seu café e podemos brincar depois. Você não terminou os livros sozinha, terminou? – perguntou, e suri sorriu.

- É claro que não. – Micaela tentou sorrir de novo. Falhou miseravelmente – Você está bem?

Não houve resposta. Micaela estava longe de estar bem. Ela tinha dor, ódio e uma vingança violenta guardada em seu coração. Isso não era bom. Mas cuidou de Suri o dia inteiro brincando tentando ser amável. Por fim a menina dormiu, após o jantar. Micaela retirou a bandeja e saiu indo para cozinha.

-... Se ela enlouqueceu, não pense que assusta a mim. - dizia sentada a mesa, quando Micaela entrou.

- Que bom que eu não a assusto. – Disse colocando a bandeja em uma das pias – Medo, não é exatamente o que eu quero de você.

- Quem pensa que é para me confrontar assim? – perguntou exasperada. Micaela se aproximou sorrindo de canto. O sorriso estava morto.

- Eu te prometi o inferno Nina. Eu vou cumprir. – disse se abaixando perto da orelha. Falava baixinho. – Eu vou mostrar o que vou te causar.

E ela se levantou. Com o movimento rápido passou o pé nas pernas da cadeira de Nina, puxando-a. A cadeira virou e a outra caiu, levando o prato e o copo cair em cima de si.

Micaela não dormiu bem aquela noite. Ela precisava confrontá-lo. Não importa que ele era, ele não poderia tê-lo feito! Na manhã seguinte se banhou. Se vestiu e parou vendo a sua imagem. Foi então que ela ouviu o barulho da cavalaria do lado de fora da janela se aproximando. Ela foi até a janela e viu a carruagem preta parada em frente a escadaria do castelo.

- Ótimo. – disse, olhando os cavalos.

Ele finalmente havia voltado.

Se entregando ao inimigoOnde histórias criam vida. Descubra agora