Capítulo 39

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- Vim o mais rápido que pude. Estava preocupado. – disse abraçando-a na cama.

- Foi apenas um mal-estar. – disse erguendo o rosto para beijá-lo. Joseph retribuiu o beijo dela decentemente até que sentiu ela estreitando o corpo ao seu, intensificando o beijo.

- Não. – murmurou, e ela suspirou frustrada.

- Por que não?

- Porque você está esgotada. Quero que descanse, venha. – ele a acomodou em seu abraço e ela deitou a cabeça novamente em seu ombro, aspirando seu cheiro – Durma, eu estarei aqui. Vou cuidar de você.

- Eu sei que vai. – disse, a voz rouca de sono, e sentiu os lábios dele em sua testa.

Nada mais foi dito. O próprio Joseph dormiu antes que ela. Era claro, a consciência dele estava tranquila, ele estava em paz com a vida.

Ela ainda ficou lá, aspirando o cheiro dele e sentindo seu coração tamborilar. Por quanto tempo ainda teria aquilo?

Micaela dormiu pesadamente... assim que conseguiu dormir. Joseph saiu na manhã seguinte e avisou que cortaria o pescoço de quem interrompesse o sono dela. Assim foi, tanto que ela se sobressaltou na hora que acordou. Deu um pulo na cama, se aprontando de qualquer jeito, mas Suri já havia tomado seu café.

- Eu dormi – disse derrotada e Suri sorriu – O que há? – a menina olhou – Está triste anjinho?

- Não sei. – disse confusa consigo mesma.

- Se você estivesse, por que estaria?

- Hoje é meu aniversário, eu acho – disse franzindo a sobrancelha – Não tenho certeza, acho que me esqueci. – Micaela ergueu as sobrancelhas.

- É mesmo?... Oh! – ela hesitou em choque. Como assim era o aniversario da princesa e ela estava sozinha? - Hey, meus parabéns! – disse apanhando a menina no colo e lhe dando um beijo apertado. Suri sorriu – O que quer fazer hoje?

- Se for meu aniversário, eu não poderia sair. – comentou franzindo o cenho.

- Porque? Eu... ah é claro, seu pai. – ela respirou fundo e Suri assentiu. – Deixa comigo. – ela disse pondo a menina na cama novamente.

- Ele vai brigar. - avisou

- Eu sei como lidar com ele. – e piscou para a menina, saindo do quarto.

Micaela caminhou pelos corredores direto para a sala de reunião. Isso era impossível, o aniversario de Suri era tão desprezado que ela própria estava esquecendo a data! Ela apenas tem 6 anos!

Ela parou no corredor, ouvindo as vozes na sala. Ela não podia entrar, mas precisava chamar Joseph. Ela parou perto da porta, tomando coragem. Quando tomou impulso, ela recuou. Um par de olhos negros a observou. Micaela encarou Vanessa por um instante, e o coração parecia que iria saltar pela boca, de tamanha velocidade era o batimento. Como alguém pode ter olhos tão negros? Vanessa, porém, parecia tranquila. Suas feições eram calmas, e havia um sorriso discreto no canto dos lábios. Ela sustentou o olhar de Micaela por um longo tempo, então virou o rosto para o lado do marido, se inclinando em sua direção sutilmente para sussurrar algo.

Zach ergueu as sobrancelhas, e ela assentiu. Micaela a essa hora estava em pânico, mas nenhum dos dois falou nada. Foi então que o olhar de Joseph recaiu sobre ela. Ela fez um sinal chamando por ele, que pediu licença se retirando. Algo era diferente: Ele usava preto. A vestimenta completa. É aniversario de Suri!

- Você quer minha  permissão para que? – perguntou no corredor, em um tom baixo e incrédulo.

- É aniversario dela! – lembro exasperada.

- E tu queres que eu dê permissão para fazer uma festa comemorando o dia em que a mãe dela morreu? – perguntou debochado e irritado com ideia dela.

- Não. Eu quero permissão para que ela comemore o dia em que ela sobreviveu! – rebateu e em seguida respirou fundo, confrontar Joseph nunca funcionava – Suri já não consegue andar, não possui a mãe, mas ainda assim ela é adorável, ela é contente, amável e sobreviveu a tudo o que lhe ocorreu com o rostinho erguido. – Joseph estava impaciente – Por mais que lhe doa falar sobre isso, assim é as crianças. Elas possuem festas e presentes no dia de seu aniversário, porque Suri que é tão especial, não pode ter a sua?

- Micaela...

- Não quero dar uma festa. Você nem precisa ir. – insistiu – Me permita apenas levar um bolo, alguns docinhos, coisas de que crianças gostam. Comemorarei com ela sem fazer algazarra. Irei ate a cidade e trarei dois presentes ou três, levarei tudo ao quarto dela e ficaremos de portas fechadas, apenas para que ela se sinta feliz. – ele ficou calado – Não a prive disso Joseph, por favor. – pediu entregando todos os argumentos que tinha.

Ele ficou em silencio por um minuto. Ia contra seus instintos qualquer tipo de alegria no dia em que Camila se foi. Mas por outro lado o que Micaela dizia era verdade. Ele nunca visita Suri no dia de seu aniversário.

- Tudo bem, tem minha permissão. – concedeu de voz baixa, Micaela sorriu.

- Obrigada! – ele assentiu quieto, Micaela podia sentir o peso da dor sob seus ombros. Não era um dia fácil.

Ela caminhou até a porta da sala onde estavam, fechando-a sob o olhar dele. Voltou e o abraçou pelos ombros, lhe beijando. Sentiu as mãos dele em sua cintura, apertando-a durante o beijo e lhe acariciou os cabelos. A verdade era que Joseph ainda era muito jovem e já havia sofrido demais, ainda mais tendo uma guerra sob as costas.

- Eu te amo. – murmurou nos lábios dele, e abriu os olhos para se debater com os olhos dele próximos demais aos seus, em um mudo "eu também"

Micaela o beijou mais uma vez, levemente e deu as costas saindo. Joseph a observou sumir pela porta e passou as mãos no rosto enquanto se questionava: Haveria alguma coisa que ela pedisse que ele seria capaz de negar?

Durante as horas que se passaram nada se soube e nada se ouviu sobre Micaela e Suri. Por um instante, Joseph teve receio que Micaela fizesse realmente uma festa com músicas e risos, mas ele afastou essa hipótese de sua cabeça. 

Confiava nela, se ela disse que não teria tumulto, então ele acreditava.

Se entregando ao inimigoOnde histórias criam vida. Descubra agora